63ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana |
TERRITÓRIO EM CONFLITO: as tramas do poder no Assentamento Olga Benário em Ipameri (GO) |
Rafael de Melo Monteiro 1 Vera Lúcia Salazar Pessôa 2 |
1. Mestrando do PPG/UFG/CAC/Membro do NEPSA/Bolsista UFG 2. Orientadora/PPG/UFG/Campus Catalão /PPGEO/UFU/Membro do NEPSAUFG/CAC e NEAT/UFU |
INTRODUÇÃO: |
O objetivo desse trabalho é compreender como as relações de poder são estabelecidas entre os agricultores do Assentamento Olga Benário em Ipameri (GO). Esse assentamento se encontra dividido em dois grupos principais: a ASPRAOB (Associação dos Pequenos Produtores do Assentamento Olga Benário) e o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). O Assentamento Olga Benário foi instituído no ano de 2005, após as ações de pressão do MST frente ao INCRA de Goiânia (GO) até haver a desapropriação da Fazenda Ouro Verde (extensão de 4. 322 hectares. Estão assentadas 84 famílias, sendo 50 famílias membros da ASPRAOB e as outras 34 membros do MST. Em sua fase inicial (2005) todas as famílias eram membros do MST. No entanto, três anos após a formação e territorialização do grupo, houve uma separação em grupos, de modo que a maioria das famílias desvinculou-se do MST e fundaram a ASPRAOB. Dessa forma, a problemática do trabalho gira em torno das seguintes questões: a) Quais fatores interferiram na decisão de rompimento entre os agricultores do Assentamento Olga Benário? b) Como se dão as relações sociais entre os membros da ASPRAOB e do MST? c) Qual o significado do território para a manifestação dessas relações de poder estabelecidas no Assentamento Olga Benário? |
METODOLOGIA: |
Inicialmente realizamos um levantamento de bibliografias referentes ao assunto pesquisado para, em seguida, dar início a revisão de literatura, com a intenção de estabelecer um corpo teórico-conceitual pertinente a temática. Como segunda etapa dos procedimentos metodológicos, realizamos a pesquisa documental, buscando dados sobre a área de pesquisa no PDA Olga Benário, elaborado pelo MDA juntamente com o INCRA no ano de 2006. Na sequência, foi feita uma visita exploratória no Assentamento Olga Benário, com o intuito de estabelecer uma relação inicial com os moradores do assentamento, obter informações preliminares e deixá-los a par dos interesses da pesquisa. Em seguida, foram elaborados os roteiros de entrevistas para a parcela amostral de dez assentados, sendo cinco da ASPRAOB e cinco do MST, escolhidos aleatoriamente; para as duas lideranças do assentamento (presidente da ASPRAOB e líder do MST) e para o representante da Igreja Católica de Ipameri (GO). De posse de tais roteiros, as entrevistas foram executadas, inclusive, no caso das liferanças do assentamento, gravadas para serem transcritas. Ainda, paralelamente a fase de realização das entrevistas, foi confeccionado um diário de campo, que é um recurso metodológico que propicia o registro das impressões e emoções dos pesquisadores e dos sujeitos envolvidos na pesquisa. Após coletar os dados, iniciou-se a fase de organização, sistematização e análise das informações obtidas a fim de elaborar a versão final do trab |
RESULTADOS: |
Constatamos que os fatores que interferiram na decisão de rompimento entre os assentados foram de caráter político-ideológicos. Os agricultores que desvincularam-se do MST alegaram que o movimento pretendia impor-lhes uma forma de produção agrícola coletiva (condição não aceita mesmo por assentados que permaneceram vinculados ao movimento, mas optaram por possuir um lote individual de terra) e ditar regras de produção. Além disso, alegam uma frustração em relação ao MST, pois, de acordo com membros da ASPRAOB, o movimento é dissidente em relação ao que prega em seu discurso e o que realmente pratica. Por outro lado, os membros do MST acusam os associados de terem negado a instituição da qual fizeram parte e que os auxiliou na conquista da terra. Além de que os membros da ASPRAOB se deixaram cooptar por forças externas (oligarquias rurais do munícipio) que planejaram o enfraquecimento do MST. Apesar dessas divergências, as relações sociais demonstram-se tranquilas, ou seja, apesar de pouco contato entre os membros dos dois grupos, não ocorre uma hostilização entre os assentados. O território apresenta-se como palco e condição para a manifestação das relações de poder, visto que tais divergências entre os assentados reflete-se na organização e desenvolvimento territorial do assentamento. |
CONCLUSÃO: |
Consideramos que enquanto houver conflitos dentro do assentamento, a organização para reivindicação de melhorias socioeconômicas e culturais se compromete, pois os próprios assentados têm consciência da existência das relações de poder no assentamento e a avaliam como prejudicial. O que percebemos no Assentamento Olga Benário é uma relação de forças simbólicas no sentido de que o embate entre os grupos (ASPRAOB e MST) é de caráter político-ideológico. Essas relações de poder organizam o território, constroem tessituras territoriais, que podem ser vistas na separação em grupos ocorrida no assentamento. Pensamos que os assentados, independentemente do grupo ao qual pertencem, não dispõem de uma representação política por parte do poder público municipal, fato constatado quando fomos buscar informações a respeito do assentamento em órgãos públicos e não encontramos Dessa forma, tomamos partido não de um ou outro grupo social presente no assentamento, mas dos atores sociais que constituem esses grupos e que carecem de melhorias sociais e assistência governamental. Sendo assim, afirmamos nossa postura favorável à luta pela terra, reforma agrária e movimentos sociais e esperamos que o assentamento retome ou construa sua organicidade (se não pela reaglutinação em um único grupo, pelo menos, pelo diálogo e pela negociação) e que esse território possa se tornar espaço de produção, vivências e (re)existência. |
Palavras-chave: Território, Relações de poder, Assentamento Olga Benário /Ipameri(GO). |