63ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 6. Literatura
O CARÁTER IRÔNICO EM "FELICIDADE" DE JORGE DE LIMA
Virginia da Silva Santos 1
Gilda Vilela Brandão 2
1. Graduanda em Letras, bolsista do Programa de Educação Tutorial. Faculdade de Letras – Fale/UFAL
2. Profa. Dra./Orientadora - Faculdade de Letras - Fale/UFAL
INTRODUÇÃO:
Poeta cristão, místico realista, neo-simbolista, modernista, cantor da poesia negra, nacionalista, Jorge de Lima recebeu diversos rótulos estéticos. Nascido em União dos Palmares (AL), no dia 23 de abril de 1893, Jorge Mateus de Lima é autor de doze livros de poesia, cinco romances e alguns ensaios e biografias. Dentre seus diversos poemas, focalizo o poema Felicidade, que compõe o livro Poemas Negros, publicado em 1947, com o objetivo de refutar a ideia segundo a qual seria esse poema uma ode à miséria. No verso “Tudo é bom. A miséria é boa. A lama é amorosa. Parece que a vida é uma feitiçaria de sonho de maleita”, alguns críticos reduzem a riqueza do verso a uma visão pitoresca da pobreza por parte do eu lírico. É, pois, o objetivo desse trabalho demonstrar que o eu lírico do poema Felicidade utiliza-se da ironia, como recurso estilístico. Parto da ideia de que, no poema em estudo, a ironia foi a forma escolhida por Jorge de Lima para, sob o tom descontraído, refletir criticamente sobre as mazelas sociais de nosso país.
METODOLOGIA:
O presente trabalho foi iniciado a partir de discussões realizadas nas aulas da disciplina Projetos Integradores 4, ministradas pela Profa. Dra. Gilda Vilela Brandão. Na referida disciplina, discutiu-se sobre o poeta Jorge de Lima em seus diferentes rótulos estéticos. Inicialmente, os alunos fizeram leituras biográficas de Jorge de Lima, além da leitura de alguns poemas selecionados pela Dra. Gilda Brandão. Após a leitura e a discussão em grupo sobre os poemas, os alunos foram levados a produzir textos sobre a análise dos poemas por eles escolhidos. Os procedimentos adotados nessa disciplina possibilitaram a produção deste trabalho, cuja essência baseou-se na pesquisa bibliográfica, tendo como figura de análise do poema escolhido a ironia, recurso discursivo que consiste em dizer uma coisa dizendo o contrário.
RESULTADOS:
Descrevendo situações relacionadas à malária, inclusive seus sintomas, o poema Felicidade tem como ideia central a febre que essa doença causa nos enfermos. A malária, doença que geralmente atinge a população mais pobre, associada à linguagem prosaica, comum ao homem humilde e utilizada pelo eu-lírico, demonstra a opção estética de Jorge de Lima pelas camadas mais pobres da sociedade. Jorge de Lima conseguiu não só em Felicidade como em outros poemas particularizar determinadas questões sociais sem confundi-las com certos estereótipos. Lima não foi o autor de poesias que incentivasse a revolta, o que talvez fizesse com que Felicidade deixasse de ser estudado por ser visto como uma ode à pobreza. Não é bem assim que eu o interpreto; percebo que a dramaticidade que ele carrega não esconde a ironia, conferindo-lhe um caráter ambíguo. Afirmo, baseada no artigo de Leila Parreira Duarte Ironia e humor na Literatura (2006) que esse poema utiliza a ironia por entendê-la como capaz de desempenhar uma função crítica, pragmática e didática, de defesa de valores sociais e morais, além de desenvolver a sensibilidade do leitor de maneira leve, sem deixar de fazer denúncias sociais, que se encontra presente em Felicidade.
CONCLUSÃO:
Jorge de Lima, tal como afirmou Antônio Rangel Bandeira em Jorge de Lima – o roteiro de uma contradição (1959), jamais foi indiferente aos movimentos sociais, culturais e literários de seu tempo, e Felicidade não deixa que isso seja posto como prova contrária. Esse poema não possui um tom de revolta ou indignação à primeira leitura, porém sendo melhor analisado, percebe-se que esse também não se coloca indiferente aos problemas sociais. Sendo assim, recuso a ideia de que Jorge de Lima tenha sido o poeta que canta a pobreza, com um intuito pitoresco. Interpreto Jorge de Lima como o poeta que desceu ao âmago do real, nos comovendo ao escrever poemas que carregam uma surda revolta, que cantam primeiramente o homem. O homem que desce a mão na lama para tirar sururu e come barro, pois “quem não sabe comer barro não sabe tirar sururu, com gosto”.
Palavras-chave: Literatura, Ironia, Jorge de Lima.