63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 5. Antropologia Urbana
Capuz & Ferro: Cerimônia Privada de Extermínio na Região Metropolitana de Salvador
Jaime Pinto Ramalho Neto 1
Jocélio Telles 2
1. UFBA
2. Prof. Dr. -Departamento de Antropologia -UFBA
INTRODUÇÃO:
Este é um estudo que visou estudar as práticas de exterminio na cidade do Salvador e Região Metropolitana, suas práticas de execuções, o perfil das vítimas e dos exterminadores. Tais ações e execuções privadas são marcadas pela violência extra-judicial que afeta diretamente os jovens e jovens-adultos das comunidades da periferia onde é possível verificar a fragilidade da presença do Estado através de seus orgãos de defesa social.
METODOLOGIA:
Utilizamos como método quantitativo descritivo com abordagem do tipo survery, que permitiram através da investigação de inquéritos policiais,das denúncias dos promotores do Ministério Público da Bahia e das manchetes de jornais, identificar os autores das ações de forma recorrente e das vítimas, construindo um perfil dos matadores e suas vítimas.O período da amostra compreendeu os anos de 1995 a 2001, quando foram entrevistados no sistema prisional baiano 11 individuos integrantes de grupos de extermínio apontados pelo Ministério Público através de denúncia à Justiça.
RESULTADOS:
Os dados coletados em campo permitiram identificar e produzir um mapeamento das práticas de extermínio. Assim, as execuções são praticadas nos limites dos bairros dos exterminadores onde existem relações de vizinhanças. Nestas comunidades periféricas os exterminadores se utilizam do capuz não só para esconder suas identidades,mas por ter relações com os parentes das vítimas de maneira que se identifica um sentimento de respeito à família e ao espaço privador,pois para eles as execuções não devem ocorrer no âmbito doméstico. O perfil das vítimas mostra que são 97% de jovens; 62,5% solteiros, afro-descendentes com 65%, na faixa etária de 14 a 30 anos de idade com 67,7%; e mortos com tiros nas regiões vitais como cabeça e tronco, com 65,5%.Destes 25,7% residiam no subúrbio ferroviário de Salvador. Já os exterminadores identificados como solteiros 62,5%, com faixa etária entre 18 anos a 20 anos em 6%, entre 21 a 26 anos com 33,3% e mais de 27 anos com 25%. Da amostra, 19% são oriundos do interior do Estado e residem no subúrbio de Salvador e 41% tem naturalidade na capital, o que revela uma relação de proximidade territorial e de relações sociais entre ambos. Os exterminadores se reconhecem como "pacificadores" das comunidades carentes ao eliminar suas vítimas que praticam pequenos delitos ou são usuários de drogas que "perturbam" tais comunidades. Suas ações são de captura no interior das residências as levam a p locais ermos, as executam em cerimônia de julgamento e execução.
CONCLUSÃO:
Este estudo mostra que os exterminadores atuam dentro das "fissuras" e das "dobras" do poder do Estado. As representações dos exterminadores trazem a marca da impunidade,pois do universo de vítimas poucos são identificados,presos e julgados. Desta maneira não se reconhecem como "matadores" nem praticam a "limpeza social" ao executarem suas vítimas, percebem que fazem um "bem" às famílias e às comunidades periféricas por se verem livres dos desviados e "mentes fracas". O pacto de silêncio e coesão grupal marcam a organização dos grupos de extermínio que se negam a ser identificados como tal e identificar seus integrantes.
Palavras-chave: extermínio, violência, execução extra-judicial.