63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências
O DISCURSO PEDAGÓGICO EM UMA AULA DE BIOLOGIA ENVOLVENDO O SISTEMA NERVOSO DOS VERTEBRADOS: A ARGUMENTAÇÃO DOCENTE E SUA IMPLICAÇÃO NO APRENDIZADO DOS ALUNOS
Bruna Patrícia da Silva Lima 1
Jaqueline Cássia Gomes do Nascimento 2
João Manoel da Silva Malheiro 3,1
Odete Pacubi Baierl Teixeira 4
1. Campus Universitário de Castanhal. Fac. de Licenciatura Plena em Pedagogia- UFPA
2. Campus Universitário de Castanhal. Fac. de Licenciatura Plena em Pedagogia- UFPA
3. Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemáticas (PPGECM/ UFPA)
4. Prof. Drª./ Orientadora- Unesp/ Guaratinguetá
INTRODUÇÃO:
Em o Tratado da Argumentação, Perelman e Olbrechts-Tyteca (1996), abordam a argumentação, ressaltando, as características do orador e do auditório, identificando os vínculos que unem orador-auditório, de que maneira o auditório influi sobre o orador e como este, se adéqua ao auditório. Buscam revigorar a retórica e destacar a importância de uma argumentação sustentada na dialética e, consequentemente, sua contemporaneidade como forma de raciocínio. Neste trabalho, analisaremos a forma como os professores participantes da pesquisa utilizaram e desenvolveram esses argumentos e de que maneira os discursos argumentativos, produzidos pelos docentes por ocasião da socialização de experimentações investigativas (GIL PÉREZ; CASTRO, 1996) podem contribuir para a resolução de um problema (LOPES, 1994) sobre o sistema nervoso de um vertebrado. Os dados desta pesquisa foram coletados durante um curso de férias, voltado para a formação de professores, ocorrido no município de Oriximiná (PA). Os resultados da pesquisa revelaram que os professores ao fazerem o uso de uma argumentação excessivamente baseada na linguagem científica para apresentar aos alunos os procedimentos realizados durante a resolução de um problema, acabaram dificultando o aprendizado dos mesmos.
METODOLOGIA:
O Curso Desvendando o Corpo dos Animais foi destinado a vinte professores de biologia, química, física e matemática do ensino médio e teve como metodologia a resolução de problemas com base no trabalho experimental investigativo. A metodologia utilizada é qualitativa (BOGDAN; BIKLEN, 1994). Os encontros foram videogravados objetivando a análise das socializações sobre os problemas investigados pelos docentes. O problema selecionado para o presente trabalho foi: existem nervos atuando sobre cada parte do corpo dos vertebrados? O problema proposto partiu, aleatoriamente, de um participante do grupo, ao ter observado uma maquete sobre o sistema nervoso humano. Ao analisarmos as transcrições das videogravações, procuramos identificar se determinados aspectos relacionados à linguagem utilizada pelo orador (professor) se adequava ao auditório (alunos do ensino fundamental e médio), de acordo com a perspectiva apontada por Perelman e Olbrechts-Tyteca (1996), nos momentos em que estavam expondo os processos utilizados para a solução do problema. Neste caso específico, através da análise das falas, buscamos ainda compreender se a argumentação dos professores se aproximava daquilo que os alunos tinham efetivamente visto nos momentos em que observavam as experimentações docentes.
RESULTADOS:
Os argumentos docentes acerca dos procedimentos feitos para responder a pergunta-problema, pela própria força da prática, fez com que os mesmos empregassem excessivamente a linguagem da ciência, quando o professor utilizava termos como: “dorsal”, “ventral”, “feixes nervosos”, etc. Mas adiante, em outro recorte de sua fala, P1 volta e completa a sua linha de pensamento ao utilizar os nomes científicos “medula espinhal”, “dissecação”, “nervo”, etc. As intervenções do professor coordenador (PC) durante a argumentação docente foi fundamental para que o orador percebesse que o auditório não estava compreendendo o que estava sendo dito, quando interveio com a questão: você sabe o que é um nervo, Marc? A resposta foi: Não... Ele é parecido com o quê? Marc: com uma linha! Observamos que, quando o trabalho experimental ocorre de acordo com aquilo que se está observando (perspectiva mais levada em conta no curso de férias) e considerando a adequação orador↔auditório as argumentações são aceitas ou refutadas de acordo com as relações dos dados empíricos diretamente observados na experimentação e obedecendo a uma lógica interna que ajudava os alunos a compreenderem o experimento que estava sendo realizado, mas não apreenderem os termos sobejadamente científicos propostos pelos professores.
CONCLUSÃO:
Pela análise dos discursos constatamos que neste estudo, inconscientemente, os professores durante a resolução do problema, com base na experimentação, excessivamente usavam a linguagem científica, não a adaptando ao auditório; não adotando também o princípio básico do curso: descrever apenas aquilo que podia ser visto nos experimentos feitos, sem se importar naquele momento, com a nomenclatura científica, que deveria ser buscada posteriormente por todos os participantes, principalmente os alunos. As participações do PC (professor coordenador) foi cogente, pois mostrou que, ao tomarem alguns cuidados com a linguagem, os professores podem construir estratégias para trabalhar com seus alunos as práticas epistêmicas de justificação do conhecimento, considerando-as como uma das dimensões da apropriação da linguagem/trabalho científica(o) (ALEIXANDRE, 2006). Reafirmamos que, nesta perspectiva, os professores precisam estar comprometidos com a inovação, responsabilizando-se inclusive, pela avaliação contínua da sua própria prática, o que só será possível se houver uma interrelação entre o trabalho docente, a escola e o currículo desenvolvido (COSTA, 1999). Ao final do experimento os participantes constataram que existem nervos atuando em todos os membros do corpo dos vertebrados.
Palavras-chave: Resolução de problemas, Trabalho Experimental, Argumentação.