63ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 11. Morfologia - 6. Morfologia
PIGMENTAÇÃO VISCERAL DO ANURO Scinax fuscomarginatus (Anura: Hylidae)
Juliana Ferreira Antoniassi 1
Lilian Franco-Belussi 2
Classius de Oliveira 3
1. Graduação em Ciências Biológicas, Centro Universitário de Rio Preto, UNIRP
2. Programa de Pós Graduação em Biologia Animal, UNESP, Rio Preto/SP
3. Prof. Dr./ Orientador - Depto. Biologia - UNESP
INTRODUÇÃO:
Os anfíbios compartilham com os demais vertebrados ectotérmicos a existência de um sistema pigmentar extracutâneo que está presente em vários tecidos e órgãos. Esse sistema é constituído por células que possuem em seu citoplasma uma elevada concentração de melanina, a qual é sintetizada pelos melanócitos e armazenada em estruturas esféricas ou ovóides denominados melanossomos. Essas células estão presentes na epiderme, nos tecidos e em diversos órgãos, e são semelhantes aos melanócitos oriundos da crista neural ectodérmica, os quais produzem melanina, cuja função é absorver e neutralizar radicais livres e outros agentes tóxicos que são resultados do material fagocitado. As funções que essas células pigmentares desempenham nos órgãos e tecidos não estão definidas, há hipóteses de que sejam citoprotetoras contra radicais livres e participem dos processos de detoxificação por poluentes. As células pigmentadas são frequentemente encontradas no sistema circulatório (coração e vasos da base), urogenital (testículos, rins e veias renais) e digestório (estômago, intestino e reto). Este estudo teve como objetivo analisar a pigmentação visceral na superfície dos órgãos do anuro Scinax fuscomarginatus, e classificá-los de acordo com o seu grau de pigmentação.
METODOLOGIA:
Foram analisados 15 machos adultos de Scinax fuscomarginatus provenientes da região de São José do Rio Preto – São Paulo. Os exemplares foram encaminhados ao Laboratório de Anatomia Comparativa da UNESP/Rio Preto, onde foram anestesiados com éter e em seguida houve uma incisão na cavidade abdominal deixando os órgãos expostos, permitindo a fotodocumentação em microscópio estereoscópico (Leica MZ16) acoplado ao sistema de captura de imagens. Foram analisados a pigmentação visceral dos seguintes órgãos e regiões: 1 - Pericárdio e Vasos da base; 2 - Coração; 3 - Pulmões; 4 - Fígado; 5 - Baço; 6 - Estômago; 7 - Intestino; 8 - Reto; 9 - Mesentério; 10 - Rins e Veias renais; 11 - Testículos 12 - Plexo nervoso lombar; 13 – Peritônio parietal e classificada de acordo com o grau de pigmentação visceral, variando de 0 a 3, onde a categoria 0 indica ausência de pigmentos e a categoria 3 indica pigmentação máxima, há também as categorias 1 e 2 que apresentam um aumento gradual de pigmentação.
RESULTADOS:
Células pigmentadas foram encontradas em vários órgãos e tecidos da cavidade abdominal apresentando diferentes graus de variações. No aparelho cárdio-respiratório a maioria dos órgãos apresentam pouca pigmentação (categoria 1), no sistema digestório houve variações de pigmentações (categoria 0 a 3) em todos os órgãos, com exceção do estômago que apresenta ausência de pigmentos (categoria 0) em todos os animais, fato também relatado na espécie de Rhinella schneider e em algumas espécies do gênero Dendropsophus. No sistema urogenital, os rins e veias renais não apresentaram ou possuíam pequena variação, no entanto, todos os espécimes de Scinax fuscomarginatus apresentam pigmentação máxima (categoria 3) em ambos os testículos, o que não é relatado nas espécies Scinax similis e Scinax fuscovarius, pois são desprovidas de células pigmentadas nessa região. No baço e no fígado são encontradas células com variações na pigmentação (categoria 1 a 3) denominadas melanomacrófagos, já o mesentério e o peritônio parietal apresentam pouca ou nenhuma pigmentação (categoria 0 e 1), e no plexo nervoso lombar observa-se um gradual moderado de pigmentação (categoria 1 e 2).
CONCLUSÃO:
Nos espécimes analisados alguns melanócitos viscerais possuíam um aspecto estrelado ou dendrítico, como observado nos testículos. O grau de pigmentação encontrado no coração e no estômago do espécime Scinax fuscomarginatus foi o mesmo relatado em outras duas espécies do gênero Scinax, S. similis e S. fuscovarius. Os testículos dos espécimes analisados atingiram a pigmentação máxima, característica também relatada em algumas espécies da família Leiuperidae, em contrapartida algumas espécies da família Leptodactylidae possuem ausência de células pigmentadas na superfície das gônadas. A pigmentação visceral pode representar uma característica intrínseca da espécie, podendo variar de acordo com a idade, estado nutricional e patológico do animal. Portanto, mais estudos são necessários para caracterizar os fatores que atuam nesta pigmentação e a sua função no sistema pigmentar extracutâneo.
Palavras-chave: Scinax fuscomarginatus, Pigmentação, Testículos.