63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 6. Psicologia do Desenvolvimento Humano
Percepção da Dor e Estresse Psicossocial em Crianças Diagnosticadas com Anemia Falciforme
Alex Zopeletto da Silva 1
Felipe Douglas Pereira França 1
Tatiane Lebre Dias 2
1. Graduando do Curso de Psicologia – UFMT
2. Profa. Dra. / Orientadora, Depto. de Psicologia - UFMT
INTRODUÇÃO:
A anemia falciforme é uma doença hereditária que afeta principalmente a população negra e que não possui tratamento específico, por essa razão realiza-se um diagnóstico precoce através do exame neonatal para evitar complicações e buscar o auxilio do acompanhamento multiprofissional. Caracteriza-se por ser uma doença genética comum em nosso país, porém os estudos na área ainda são muito escassos. Com o objetivo de conhecer as formas que a criança percebe, sente e utiliza técnicas de manejo da dor, foi realizado esse trabalho que além de buscar entender as formas com que o indivíduo sente a dor fisicamente, também procura compreender as percepções de estresse psicossocial enfrentadas.
METODOLOGIA:
Tendo como participantes sete crianças entre 9 a 11 anos de idade, de ambos os sexos, com diagnóstico de anemia falciforme e residentes na Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá. Utilizou-se como instrumento o Protocolo de Avaliação da Percepção, do Impacto e das Técnicas de Manejo da Dor da Anemia Falciforme (PAPIM-AF), na versão para as crianças. Deste instrumento foram analisadas sete questões principais – local, nível e tipo da dor, no que ela atrapalha a criança a fazer, como ela se sente nas crises, o que pensa e as técnicas de manejo para a diminuição da dor. Para tanto, foi realizado estudo descritivo correlacional. O local de pesquisa foi em uma unidade de saúde pública da cidade de Cuiabá, durante o atendimento das crianças com os médicos e enfermeiros responsáveis. As variáveis foram as respostas dadas durante a aplicação do instrumento.
RESULTADOS:
Dores na coluna cervical e na barriga foram as mais sentidas pelas crianças, outros locais menos apontados foram: cabeça, braços, região da tíbia, ombros e panturrilha. Os níveis de dor foram bem distintos, sendo que apenas uma das crianças afirmou ter sentido dor ao nível 10, já os níveis 8, 4 e 2, foram identificados por um número igual de crianças (n=2). Interessa notar que, geralmente, quanto maior o nível de dor mais locais de dores surgiam. Enquanto as do nível 2 diziam sentir dores em no máximo dois locais, as de nível superior a 8 diziam mais de quatro locais. Os tipos de dor mais respondidos foram “moendo” (n=2) e “em aperto” (n=2), seguidos de “em fincada” e “profundo”. As crianças creem que as crises de dor as atrapalham mais a brincar e a a ir à escola, seguido de dormir, alimentar, andar, fazer o dever de casa, assistir televisão e, o menos apontado, passear. A maioria delas disse se sentir tristes (n=3), essas foram as mesmas que disseram sentir níveis de dor mais altos. Mais da metade das crianças demonstram conhecimento a respeito da doença, enquanto uma minoria têm pensamentos do que a dor impede-a de fazer durante a crise de dor e do que poderia te-la provocado. As praticas mais utilizadas para a diminuição da dor são a utilização de medicamentos e massagens.
CONCLUSÃO:
A grande parte das dores sentidas se localizam mais em regiões do tronco humano do que nos membros, principalmente na parte inferior da coluna cervical e no centro da barriga, conforme aponta a literatura. Possível notar que quanto maior foi o nível da dor, maior também foi o número de lugares onde foi sentida e o aumento do pensar e sentir a doença. Na maioria dos casos estudados, as crianças que sentiram mais dor foram as que pensavam mais sobre a doença e suas consequências. Essas crianças que se sentiam tristes ou com mal-estar tiveram mais a dor do tipo em aperto e moendo. Destas atividades que sofrem interferência pelas crises de dor se destacam àquelas pertinentes à escola e de interação social. Grande parte das crianças diz sentir-se triste, chorosa ou preocupadas em relação as crises de dor, o que se correlaciona com o fato de pensarem na doença, na internação ou na ausência de algumas atividades. Utilizam de medicação como forma de alivio da dor sentida. As crianças que sentem níveis mais altos de dor utilizam-se de manejos de massagens e, algumas vezes, de chás e panos umedecidos para o alívio. Esses sintomas são geradores de grande estresse e para garantir o bom desenvolvimento dessas crianças, há a necessidade de inclusão de intervenções em seu ambiente social.
Palavras-chave: Anemia Falciforme, Criança, Percepção da Dor.