63ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 9. Artes
ENSINO CRIATIVO COMO PRINCÍPIO PARA UMA EDUCAÇÃO MUSICAL EMANCIPATÓRIA
Julio Cezar de Lima 1
Daiane Solange Stoeberl da Cunha 2
1. Departamento de Arte-Educação/ UNICENTRO
2. Profª Ms. /Orientadora - Departamento de Arte-Educação/ UNICENTRO
INTRODUÇÃO:
Nesta pesquisa aborda-se a temática da educação musical escolar, a fim de refletir sobre o ensino criativo desenvolvido por Murray Schafer, nos temas referentes às diferentes estéticas musicais: modal, tonal e pós-tonal enquanto emanante de um processo de transformação emancipadora, processo este defendido por Theodor W. Adorno. As estéticas musicais aqui abordadas fazem parte da base curricular das Diretrizes Curriculares da Educação Básica da disciplina de Arte - DCEs -, que norteiam as propostas educativas na disciplina de Arte a qual se fundamenta na teoria crítica. Afere-se dentro desse contexto a relevância do presente estudo no que apresenta uma discussão metodológica do ensino musical, ao abordar a proposta de ensino criativo, tendo-se como conteúdo a trajetória histórica musical, em uma perspectiva de educação emancipatória. Portanto, o objetivo e a fundamentação teórica deste trabalho apontam para o aperfeiçoamento de práticas pedagógicas do ensino de música enquanto ato emancipátório.
METODOLOGIA:
Esta pesquisa é de caráter exploratório com a finalidade de discutir possíveis relações teóricas no campo da educação musical, tendo como os principais alicerces teóricos os autores: Theodor W. Adorno, R. Murray Schafer e José Miguel Wisnik. A pesquisa segue a seguinte estrutura: a princípio foram esclarecidos alguns conceitos base da teoria crítica, bem como a compreensão do termo emancipação em Adorno. Em seguida foi realizada uma análise das propostas elaboradas a partir do ensino musical criativo de Schafer. Após, foram descritos os elementos constituintes das estéticas musicais, mais especificamente, modal, tonal e pós-tonal conforme o pensamento de Wisnik. Por fim, é verificada a possibilidade da integração entre as idéias de Adorno e de Schafer, a fim de incidir essa discussão dentro dos conteúdos abordados.
RESULTADOS:
A emancipação, segundo Adorno, pode contribuir para a autonomia do indivíduo diante das investidas da indústria cultural. Esse termo, emancipação, sugere dois momentos: o primeiro de adaptação, ou seja, na capacidade de viver em sociedade. O segundo na ação de questionar qualquer estrutura teórica ou prática a fim de transformá-la. A consciência devido ao seu caráter espaço-temporal está sempre em transformação, daí advém o fator sempre constitutivo e progressivo da emancipação. Então, compreende-se emancipação como possibilidade de formação de uma consciência verdadeira, que possibilite ao indivíduo estar elucidado quanto aos acontecimentos à sua volta e à importância do mesmo enquanto agente provedor de transformação social. Para a efetivação deste processo recorre-se à proposta do ensino criativo de Schafer, o qual busca estimular todo o potencial criativo do aluno, nessa estrutura a produção criativa se dá adjunta de um raciocínio baseado em decursos reflexivos, contribuindo para um pensar científico e criativo. A interação do conteúdo musical a este ensino possibilita o conhecimento de diferentes estruturas musicais e a compreensão dos mesmos, podendo colaborar para o entendimento das relações existentes entre música e sociedade.
CONCLUSÃO:
Ao considerar as possíveis relações entre o ensino criativo e o processo de emancipação, tendo como instância mediadora as estéticas musicais, pode-se confrontar as concepções de música comercial disseminada pela Indústria Cultural em contraposição ao processo de criação musical. Neste caso Adorno e Schafer confluem para uma similaridade de pensamento, pois ambos criticam veementemente a técnica como meio de alienação no processo criativo. A música puramente comercial representa esse gênero de tecnificação, pois não se pauta em uma teoria que valide tanto a sua criação como o seu estudo. Deve haver uma complementaridade entre técnica e ciência, pois toda forma de teorização faz uso de uma técnica necessária à sua materialização. E a técnica que não se baseia em uma teoria do ato criativo, torna-se estéril impedindo o ato abstracional na música. Visto que o processo criativo musical concede ao indivíduo liberdade, condição esta necessária para a autonomia fica evidente o fato de que responsabilidade pressupõe liberdade, pois não há sujeito responsável por algo que também não seja livre para exercer suas escolhas. Essa autonomia pelo ato de expressão possibilita a criação, e criação é um ato de emancipação.
Palavras-chave: Educação Musical, Teoria Crítica, Arte e Ensino.