63ª Reunião Anual da SBPC |
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 3. Ecologia Terrestre |
ARTHROPODA DE SOLO EM UMA REGIÃO DE CAATINGA: COMPOSIÇÃO E VARIABILIDADE TEMPORAL |
Virgínia Farias Pereira de Araújo 1 Carolina Nunes Liberal 1 Adelmar Gomes Bandeira 1 Alexandre Vasconcellos 2 |
1. Depto de Sistemática e Ecologia - UFPB 2. Prof. Dr./Orientador – Depto. Botânica, Ecologia e Zoologia - UFRN |
INTRODUÇÃO: |
Artrópodes de solo representam uma elevada proporção da diversidade na maioria dos ecossistemas e são importantes nos processos de decomposição da matéria orgânica, formação dos solos e fluxos de energia e nutrientes. Analisar a relação entre a fauna e as variações temporais é relevante para compreender a estrutura e a dinâmica da comunidade do solo, bem como utilizá-lo como um indicador do funcionamento do subsistema do solo. Em ecossistemas semi-áridos, onde há alta variabilidade temporal, o efeito da precipitação sobre o solo pode desencadear desde a rápida liberação de nitrogênio por microorganismos residentes no solo a respostas demográficas dos principais produtores e consumidores ao longo do ano. A caatinga é uma região de savana semi-árida quente, com marcada sazonalidade caracterizada por uma longa estação seca durante o ano, resultante de precipitações escassas e irregulares. A paisagem da região apresenta formas fisionômicas distribuídas em mosaico, como caatinga arbórea, arbustiva e espinhosa, adaptada a condição de aridez. Neste estudo foram analisadas a composição e a resposta da comunidade de Arthropoda do solo a variabilidade temporal em uma área de caatinga localizada no nordeste brasileiro. |
METODOLOGIA: |
O estudo foi realizado na RPPN Fazenda Almas, no Cariri paraibano. O solo é do tipo bruno não cálcico, a altitude varia de 600 a 720 m, com temperatura e umidade média anual de 25°C e 65%, respectivamente, e clima do tipo BSh (Köeppen). Os artrópodes de solo foram coletados mensalmente (agosto de 2007 a julho de 2008) na caatinga arbórea densa, em dois transectos paralelos de 100 m, distantes 30 m entre si. Determinaram-se 10 pontos de coleta, a cada 10 m, ao longo de cada transecto. Com auxílio de uma sonda metálica (13 cm x 7 cm), retiraram-se 20 sub-amostras do solo entre 0-5 cm (A) e 5-10 cm (B) de profundidade. As amostras foram depositadas no extrator de Berlese-Tullgren onde permaneceram por cinco dias em temperatura gradativamente elevada (25-45°C). Os espécimes foram identificados em nível de ordem. Mensalmente mediu-se a disponibilidade de matéria orgânica (perda por combustão), umidade (método gravimétrico) e temperatura do solo (termômetro de mercúrio). Foi utilizada correlação de Spearman para relacionar os fatores ambientais, a cobertura da vegetação e a fauna, Mann-Whitney para comparar a riqueza e a abundância entre as camadas do solo (A e B) e Kruskal-Wallis (teste de Dunn a posteriori) para testar a variabilidade dos fatores ambientais e da fauna de solo. |
RESULTADOS: |
Foram coletados 11488 indivíduos (28 ordens) de Arthropoda do solo. A densidade média foi de 7347 e 5098 indivíduos m2 nas camadas A (0 a 5 cm) e B (5 a 10cm), respectivamente. Os táxons mais abundantes foram Acari (66,7%), Collembola (16%) e Formicidae (3,5%). Polyxenida ocorreu ao longo do ano, enquanto que os outros Myriapoda, Isopoda, Protura, Blattodea, Thysanoptera e Hemiptera foram registrados apenas nos meses de maior precipitação. Coleoptera, Diptera, Hymenoptera e Hemiptera estiveram presentes no solo nas fases imatura e adulta, enquanto Neuroptera apenas na fase imatura. Os meses chuvosos foram mais abundantes e ricos que os meses secos. A comunidade de Arthropoda diferiu entre os meses, tanto em relação à abundância (H=140,66; p<0,001; g.l.=11; n=240) quanto à riqueza de táxons (H= 166,64; p<0,001; g.l.=11; n=240). De modo geral, as camadas A e B não diferiram quanto à abundância (U = 53,0; n = 12; p = 0,27) nem à riqueza de táxons (U = 65,5; n = 12; p = 0,31), porém a riqueza da camada mais profunda foi maior ou igual no período seco e menor no período chuvoso que a mais superficial. Os Arthropoda de solo apresentaram correlação positiva com a umidade do solo, vegetação, precipitação e evapotranspiração e negativa com a temperatura. Não houve correlação entre a fauna e a M.O. |
CONCLUSÃO: |
Alguns grupos, como Pauropoda, Symphyla, Psocoptera, Tysanoptera e Protura foram registrados pela primeira vez para a região. Existe variação temporal para a comunidade de Arthropoda estudada. Em ambientes áridos, mudanças na temperatura e precipitação normalmente têm fortes efeitos sobre a disponibilidade dos recursos, composição e dinâmica da comunidade. Para evitar a dessecação, os animais do solo podem redistribuir-se verticalmente para regiões mais úmidas e/ou entrar em fases inativas que são reativadas pela umidade. Os arbustos na savana fornecem uma camada de serrapilheira mais profunda, que aumenta a retenção de água no solo, bem como modera a temperatura. A movimentação vertical de alguns Arthropoda da serrapilheira está associada às mudanças de temperaturas do solo e a presença de diferentes tipos de vegetais. A variação anual da comunidade edáfica tem implicações potencialmente importantes no estudo do ecossistema, uma vez que as mudanças na composição de Arthropoda do solo podem afetar as interações entre as espécies e, portanto, a dinâmica da rede alimentar ao longo do tempo. Logo, o conhecimento da variabilidade temporal é crucial para compreender a dinâmica da comunidade solo, especialmente em sistemas heterogêneos e variáveis como a caatinga. |
Palavras-chave: semi-árido, fauna edáfica, insetos. |