63ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 6. Arquitetura e Urbanismo - 5. Arquitetura e Urbanismo
Higienismo na cidade de São Paulo no século XIX: o estudo das águas
Vanessa Godoy Martinho Ferreira 1
Ivone Salgado 2
1. Centro de Ciências Exatas, Ambientais e de Tecnologias, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - PUC Campinas
2. Profa. Dra./ Orientadora - Centro de Ciências Exatas, Ambientais e de Tecnologias, Faculdade Arquitetura e Urbanismo - PUC Campinas
INTRODUÇÃO:
Este trabalho consiste em investigar as concepções higienistas presentes na obra do engenheiro-geógrafo alemão Carlos Rath, especificamente em sua memória sobre as águas da cidade de São Paulo de 1855, observando como estas concepções fundamentaram as discussões sobre o abastecimento de água potável da cidade num contexto mais amplo de intervenções do poder público local. A pesquisa se volta para a análise da Dissertação sobre as águas da cidade e para o Mappa da Imperial cidade de São Paulo, ambos de autoria de Carlos Rath, datados de 1855.
METODOLOGIA:
Utilizando a obra do engenheiro Carlos Rath como principal fonte da pesquisa e fazendo um paralelo com outras fontes secundárias foi possível obter informações importantes sobre o abastecimento de água potável na cidade de São Paulo no século XIX. Ao prestar serviços à Câmara Municipal, Rath realizou, em 1855, a Dissertação sobre as águas da cidade, em que diz estar incluso o Mappa da Imperial Cidade de São Paulo, “levantada particularmente para os meus servisos geodésicos e hydraulicos”. Para possibilitar a análise, foi realizada a tradução literal da referida dissertação que se encontra no Arquivo Municipal Washington Luís em São Paulo.
Também foi realizado um estudo sobre o abastecimento de água da época em outros grandes centros urbanos do mundo, numa perspectiva de análise comparativa.
RESULTADOS:
Carlos Rath protagonizou as principais discussões sobre a salubridade da cidade de São Paulo a partir da década de 1850. Participou de comissões instaladas pela Câmara Municipal para discutir sobre as obras públicas e exerceu um papel de relevância na construção das mesmas e na confecção de uma cartografia sobre a cidade. Em 1858, após os estudos de Rath, foram realizados melhoramentos por trabalhadores alemães administrados por ele; dentre o qual constavam quatorze novos chafarizes e uma nova caixa d`água para abastecer a cidade. Em 1864 esta nova caixa d`água fornecia água para os novos chafarizes: o do Largo do Pelourinho, o do Largo de São Bento e o do Largo da Misericórdia e a reconstrução do chafariz de São Francisco, construções decorrentes de um contrato de Rath junto do engenheiro Felício dos Santos Camargo com o governo da província. No mesmo ano, os engenheiros iniciariam as obras captando águas provenientes das vertentes do Caguaçú e assim, poderiam abastecer suficientemente a população. Mas o contrato foi rescindido após quatro anos devido uma análise que mostrava ser esta fonte de abastecimento insuficiente. Apesar disso, este projeto foi um dos poucos realizados na tentativa do abastecimento de água regular da cidade antes do Sistema da Cantareira no fim do século XIX.
CONCLUSÃO:
Na metade do século XIX, os problemas relativos ao abastecimento de água da cidade de São Paulo já haviam sido diagnosticados por Carlos Rath. Foram várias as suas advertências à Câmara sobre o desmatamento, a propagação de miasmas, a inadequação do uso de tubos de ferro oxidados, a ausência de torneiras nos chafarizes, o desperdício de água e o fato de os reservatórios serem destampados. Seus trabalhos revelam uma concepção higienista característica de um período no qual se desconhecia a futura microbiologia. Interessante observar que o mesmo trabalho de Rath foi feito pelo engenheiro inglês Santiago Bevans em 1810 para a cidade de Buenos Aires. Os dois realizaram uma cartografia e uma memória descritiva para estudar o melhor aproveitamento de vertentes e mananciais de água para abastecer a cidade. Tudo indica que estes engenheiros do século XIX seguiam um modelo de estudo para a análise das capacidades de abastecimento de água de uma cidade. A cartografia de Rath junto com sua memória proporciona um profundo relato, não somente das condições do abastecimento de água de São Paulo em 1855, como também do traçado e da dimensão da cidade daquela época. Seu domínio nos campos do higienismo, engenharia, geografia, topografia e medicina revelam os saberes dos profissionais que atuavam na dotação de infra-estrutura das cidades no período.
Palavras-chave: higienismo, urbanismo, saneamento.