63ª Reunião Anual da SBPC |
A. Ciências Exatas e da Terra - 7. Oceanografia - 5. Oceanografia |
RECIFES ARTIFICIAIS: INVESTIGAÇÃO DO POTENCIAL DE IMPLANTAÇÃO NA PLATAFORMA CONTINENTAL INTERNA AO LARGO DA ILHA COMPRIDA - SP |
Pedro Marone Tura 1 Valter André Medeiros Zacheo 1 Felipe Murai Chagas 1 Renata Roque Porcaro 1 Sueli Susana de Godoi 1,2 |
1. Instituto Oceanográfico - Universidade de São Paulo 2. Profa. Dra./ Orientadora - IOUSP |
INTRODUÇÃO: |
A crescente pressão pesqueira mundial tem prejudicado diversos habitats marinhos de grande relevância e reduzido a população de peixes oceânicos nos últimos 50 anos. No Brasil, a legislação ambiental busca evitar tais impactos pelo uso de ações reguladoras como o defeso e a lei das milhas. Entretanto, a falta de fiscalização não assegura que essas normas sejam respeitadas (CEPSUL/IBAMA, 2001). Uma alternativa para contornar estes problemas é o desenvolvimento de recifes artificiais marinhos direcionados, especificamente, às necessidades observadas em cada área. Recife artificial é uma estrutura sólida, submersa no ambiente aquático por ação humana. Os recifes artificiais marinhos apresentam uma alternativa de baixo custo na proteção e segurança aos ecossistemas submersos. Os materiais historicamente utilizados podem ser naturais, como galhos e pedras, estruturas pré-projetadas e, até mesmo, balsas e navios aposentados. Inserido neste contexto, o presente trabalho tem como objetivo investigar o potencial da região da plataforma continental rasa, ao largo da Ilha Comprida–SP, em sustentar um recife artificial marinho, abordando os aspectos oceanográficos e socioeconômicos, a fim de apontar áreas onde os efeitos dessa atividade sejam maximizados. |
METODOLOGIA: |
Primeiramente, através de uma análise bibliográfica criteriosa (TESSLER, 1988; MENDONÇA & KATSURAGAWA, 1997; entre outros), buscou-se excluir áreas onde já é conhecida a impossibilidade da atividade de recife artificial. As áreas propícias à instalação foram investigadas por meio de medições em campo de variáveis físicas, químicas, biológicas, geológicas e entrevistas de cunho socioeconômico, que respondessem a quatro questões guias: (i) A estrutura se manterá íntegra, imóvel e sem sofrer soterramento; (ii) Há condições ambientais favoráveis para manutenção biológica do novo ambiente?; (iii) Haverá assentamento larval representativo nas estruturas submersas? (iv) Ocorrerão conflitos com a atividade pesqueira local? As atividades de trabalho de campo foram realizadas em Agosto e Novembro de 2010 em três profundidades: 12,17 e 22 metros a partir da Barra de Cananéia. O estudo socioeconômico foi realizado com a frota pesqueira encostada e com os proprietários das principais pousadas e hotéis da região, em um total de 53 entrevistados. |
RESULTADOS: |
Com base nas análises granulométricas, a estação em 12m foi descartada quanto ao potencial para implantação de recifes artificiais devido à baixa granulometria. Esta estação apresentou proporção de 36% de sedimentos de granulação menor que 0,062 mm, enquanto que nas profundidades de 17m e 22m foi encontrado um valor percentual menor que 1% desta classe de tamanho de grãos. Com base na análise da camada eufótica, apenas as estações localizadas aos 17m e 22m se mostraram propícias à instalação de recifes artificiais, com maior penetração de luz na estação em 22m. A análise de zooplâncton evidenciou a ocorrência de meroplâncton e ictioplâncton de potenciais espécies colonizadores de um recife artificial, como larvas de ascídia, bivalve, foronida, bleniidae, haemulidae e gobiidae. Também foi encontrado um aumento da diversidade do zooplâncton nas profundidades de 17m e 22m, devido principalmente à diminuição da influência estuarina. O estudo socioeconômico, por sua vez, revelou um conhecimento geral pelos entrevistados do conceito de recife artificial. A comunidade de pescadores e de hotelaria atribuiu como principais beneficiados as atividades de pesca de vara, mergulho e turismo na região do Vale do Ribeira (SP). |
CONCLUSÃO: |
Considerando o enfoque do trabalho, a região investigada, de forma geral, apresentou resultados notoriamente favoráveis à implantação de recife artificial. A metodologia utilizada possibilitou a exclusão da estação em 12m. As razões são fatores relacionados com a menor profundidade da camada eufótica e maior percentual de fração fina de sedimento, comparados às estações mais profundas. As análises mostraram que, ambas as estações, localizadas aos 17m e 22m, têm condições de sustentar um ambiente recifal artificial. Entretanto, a estação em 22m demonstrou maior potencial, devido à estabilidade da camada eufótica, aliada à fraca circulação de fundo e rica biodiversidade. Ressalta-se a importância do levantamento socioeconômico que evidencia as reais opiniões e necessidades da população local. As referidas comunidades são os receptores diretos dos impactos positivos e negativos da atividade. Posteriormente, uma complementação do estudo visa proceder testes de bioincrustações em estruturas artificiais, uma vez que estas tendem a representar de forma exata o potencial larval da região, e a continuidade do monitoramento oceanográfico, a fim de identificar padrões temporais característicos da região. |
Palavras-chave: Recifes artificiais, Plataforma continental interna, Ilha Comprida – SP. |