63ª Reunião Anual da SBPC |
E. Ciências Agrárias - 3. Recursos Florestais e Engenharia - 4. Conservação da Natureza |
DIVERSIDADE DE FRUTAS COMESTÍVEIS NATIVAS EM FLORESTAS PRIMÁRIAS DO MUNICÍPIO DE ASSIS BRASIL, ACRE |
José Antonio Scarcello 1 José Vicente da Silva 2 Peter Weigel 3 João Bosco Nogueira de Queiroz 2 José de Ribamar Bandeira 2 Evandro José Linhares Ferreira 2 |
1. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE 2. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA/Núcleo de Pesquisa do Acre 3. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA/Manaus-AM |
INTRODUÇÃO: |
Assis Brasil é um município localizado no extremo leste do Acre, ao longo da faixa de fronteira do Brasil com a Bolívia e o Peru. Possui área de 2.875 km² e população de 6.075 habitantes (densidade de 2,11 hab./km²), dos quais 44,7 % estão na zona urbana e 55,3 % na zona rural. As principais atividades econômicas são o extrativismo e a agricultura de subsistência. Este panorama, entretanto, poderá mudar em razão da recente pavimentação da ‘Carretera Interoceânica’, que liga o Acre aos portos peruanos no Oceano Pacífico. Esta estrada representa uma grande oportunidade de desenvolvimento das potencialidades agrícolas e florestais do Município, que poderá exportar sua produção a um custo relativamente baixo para outros países sul americanos e da região Ásia-Pacífico. O desenvolvimento da fruticultura, seja por meio de plantios ou a intensificação do extrativismo, é uma das oportunidades que merecem ser avaliadas tendo em vista o potencial que a atividade tem de gerar empregos, renda e contribuir para a conservação de áreas florestais ricas em espécies frutíferas passíveis de exploração sustentável. Este trabalho consiste em um estudo sobre a ocorrência de frutíferas nativas em áreas de florestas primárias localizadas nas cercanias da cidade de Assis Brasil, Acre. |
METODOLOGIA: |
O estudo foi realizado em três propriedades rurais localizadas a 1, 7 e 10 km do centro da cidade de Assis Brasil (10°56’29”S; 69°34’01”W. Altitude: 239 m). Antes da visita às propriedades rurais, foram visitados mercados e feiras da cidade para conhecer a diversidade de frutas nativas à venda e obter informações sobre possíveis locais de ocorrência de espécies de frutíferas nativas. Em cada uma das propriedades visitadas foi realizada uma entrevista semi-estruturada com um extrativista reconhecido como grande conhecedor dos recursos florestais locais. Durante a entrevista foi elaborada uma lista com nomes vulgares e características gerais das frutíferas nativas existentes na floresta do entorno da propriedade. Depois disso a equipe de pesquisa realizou uma incursão pela floresta na companhia do informante para identificar todas as frutíferas ao longo de uma trilha pré-existente, geralmente trilhas usadas para a exploração de seringueira (Hevea brasiliensis). Todas as espécies localizadas até 10 m de distância de ambos os lados do eixo dessa trilha foram identificadas e eventualmente coletadas para posterior identificação em herbário. Em cada trilha foram percorridos aproximadamente 6 km, resultando em uma área avaliada de aproximadamente 12 hectares/ponto de estudo. |
RESULTADOS: |
Nas três propriedades levantadas foram identificadas 44 espécies frutíferas nativas pertencentes a 33 gêneros e 18 famílias botânicas. Os nomes vernaculares Apuí (Ficus spp.), jenipapo (Genipa spp.) e pama (Pseudolmedia spp.) referiam-se, segundo os extrativistas, a pelo menos duas espécies distintas. O nome maracujá (Passiflora spp.) referia-se a mais de duas espécies. Dessa forma, o número de espécies existente nas áreas estudadas é provavelmente maior. As famílias mais diversificadas foram Moraceae com 10 espécies, Arecaceae com 8, Annonaceae com 5 e Sapotaceae com 3. No que se refere ao hábito, 59,10% das espécies eram árvores de grande porte, 18,18% árvores de médio porte, 2,27% árvores de pequeno porte, 18,18% eram palmeiras, 2,27% lianas. Segundo informação dos extrativistas, a maioria das espécies (63,63%) frutifica durante o período chuvoso, que se estende entre meados de setembro e meados de abril. Nenhuma das frutíferas nativas encontradas nas áreas florestais levantadas foi observada à venda nos mercados de Assis Brasil. |
CONCLUSÃO: |
As áreas florestais estudadas apresentem uma grande variedade de frutíferas nativas comestíveis, muitas delas consumidas pelos extrativistas e suas famílias, e que não estão à venda nos mercados e feiras de Assis Brasil. A falta de oferta dessas frutas decorre da dificuldade de levar as mesmas até o mercado em razão de grande parte deles serem carnosos e se deteriorarem em poucos dias, e da precariedade de estradas em boas condições. Além disso, o período da safra da maioria dos frutos nativos ocorre no período das chuvas, que tornam as estradas locais praticamente intrafegáveis. Os estudos sobre as frutíferas nativas do município devem agora priorizar a caracterização físico-química e o desenvolvimento de meios eficientes de coleta, processamento e armazenamento dos frutos das espécies mais promissoras. Mas estes estudos devem ser realizados com a maior brevidade possível, pois a exploração madeireira desenfreada que tem ocorrido na região está retirando da floresta algumas das espécies frutíferas com maior potencial de produção. Dentre os exemplos mais preocupantes encontram-se o Cumaru-ferro (Dypterix odorata), Guariúba (Clarisia racemosa), Inharé (Brosimum lactescens), Manitê (Brosimum alicastrum) e o Mata-matá (Eschweilera sp.). |
Palavras-chave: Acre, fruteiras nativas, diversidade. |