63ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 2. Biologia Geral - 1. Biologia da Conservação
O USO DA BIODIVERSIDADE POR PRODUTORES RURAIS DO MUNICÍPIO DE NOVA XAVANTINA, MT
Eduardo Queiroz Marques 1
Leandro Schlemmer Brasil 1
Josias Oliveira dos Santos 1
Sindeito Martins da Silva 1
Ricardo Keichi Umetsu 2
1. Departamento de Ciências Biológicas, Universidade do Estado de Mato Grosso-UNEMAT
2. Profº. Dr./Orientador-Departamento de Ciências Biológicas, Universidade do Estado de Mato Grosso-UNEMAT
INTRODUÇÃO:
A diversidade biológica assume um papel crucial para a espécie humana, sendo que 40% da economia mundial e 80% das necessidades dos povos dependem dos recursos biológicos, refletindo a importância de conservar os organismos, tanto em número quanto em variedade (MACHADO et. al, 2004). A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, de realização bianual, persegue três objetivos básicos: conservar a biodiversidade biológica; promover o seu uso sustentável; dividir de forma justa e equânime os benefícios dos recursos disponíveis na natureza. Mas, sem a participação das empresas e instituições privadas, dificilmente os objetivos poderão ser alcançados (SAFATLE, 2005). Devido às atividades humanas, observa-se que os ecossistemas e as espécies se encontram, a um nível global, cada vez mais ameaçada. Esta tendência pode vir a ter, a médio e longo prazo, profundas implicações no desenvolvimento econômico e social da comunidade humana, pois crises acompanham freqüentemente profundas alterações ambientais (REA, 1999). Considerando isso, esse trabalho objetivou analisar o uso da biodiversidade por feirantes de Nova Xavantina-MT, classificando os produtos quanto a sua origem (nativo ou exótico) e ao local onde são produzidos.
METODOLOGIA:
O estudo foi realizado no município de Nova Xavantina, leste do estado de Mato Grosso, com 19.475 habitantes e uma área total de 566.800 hectares sendo que destes 356.202 hectares são destinadas a agricultura divididos em 1367 estabelecimentos agropecuários (IBGE, 2010). O clima regional é classificado como Aw de Köppen, com duas estações climáticas bem definidas: um período seco (de maio a setembro) e outro período chuvoso (dezembro a março). As médias anuais de precipitação variam de 1.200mm a 1.600mm e as temperaturas médias em torno de 20º a 25ºC, tendo como os meses mais quentes setembro e outubro, sendo predominantemente coberto por Cerrado (BRASIL, 1981). Os dados foram coletados na forma de entrevistas em 100 % das bancas, onde questionamos os feirantes sobre quais produtos eram comercializados e conferimos visualmente essas informações. Foi consultado também o local onde os produtos eram produzidos. Para verificar a origem do produto (exótico ou nativo), utilizamos de pesquisa na web, buscando prioritariamente sites institucionais reconhecidos.
RESULTADOS:
Foram entrevistados 51 feirantes, que comercializam um total de 30 produtos, sendo 4 nativos e 26 exóticos. Foram considerados nativos apenas os produtos da região. O Continente Americano, com 12 produtos, foi o mais expressivo, seguido por Ásia (n=8), África (n=5), Europa (n=4). A origem de um dos produtos não foi encontrada. O comércio de galináceos (carne ou ovos) teve maior frequência, estando presentes em 25,49% das barracas, seguido por carne suína e derivados (17,64 %) e mandioca e derivados (15,68%). Desde a fundação da vila Xavantina em 1944 pela Fundação Brasil Central, sua população tinha como característica a diversidade cultural. Na década de 70, o incentivo a produção trouxe produtores rurais oriundos da região sul, porém a proximidade geográfica deu vantagem a colonização pelo povo goiano, além da influência de índios e nordestinos que vieram para trabalhar na construção da BR 158 (CARPENTIERI, 2008). Essa heterogeneidade tem influência direta sobre os produtos comercializados, pois a influência dos goianos é clara com a presença do pequi, os embutidos dos imigrantes da região sul e o consumo de peixes pela forte influência indígena entre outros.
CONCLUSÃO:
Concluímos que a época do ano em que os dados são coletados é fator crucial para amostrar o uso da biodiversidade, pois a venda de produtos nativos é baseada em coleta de frutos, tornando sua importância como alimento na subsistência das famílias de baixa renda um ponto crucial. Dessa forma, os produtos nativos são uma renda secundária em algumas épocas, fortalecendo a renda desses produtores. Sugerimos uma investigação ampla que abranja todas as épocas do ano, principalmente períodos secos e chuvosos, para criar dados mais consistentes sobre o uso comercial da biodiversidade por pequenos produtores, auxiliando na criação de cooperativas ou associações voltadas à produção de mudas, melhoramento genético e industrialização dos produtos nativos, incentivando ainda a manutenção do Cerrado e agregando valor às suas espécies. Indicamos a introdução de produtos nativos regularmente produzidos na merenda escolar para melhorar a qualidade nutricional, reforçar a cultura local e dar estabilidade comercial aos produtores, além de colocar a biodiversidade local na grade de ciências e biologia nas escolas, uma vez que esse conhecimento pode tornar-se uma ferramenta para a conservação do Cerrado.
Palavras-chave: biodiversidade, produção rural, Cerrado.