63ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências |
CIÊNCIA, TECNOLOGIA, SOCIEDADE E AMBIENTE: PROBLEMATIZAÇÕES PARA A FORMAÇÃO DOCENTE EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS |
Thiago Valesko Matias 1 Carmen Roselaine de Oliveira Farias 2 Elisangela Matias Miranda 3 Argus Vasconcelos de Almeida 4 |
1. Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas 2. Profa. Dra./Orientadora – Departamento de Biologia - UFRPE 3. Doutoranda - Programa de Pós-Graduação em Educação - UFSCar 4. Prof. Dr. Departamento de Biologia - UFRPE |
INTRODUÇÃO: |
Este trabalho insere-se na nossa experiência com as disciplinas de “prática como componente curricular”, voltadas à formação inicial de professores a partir do enfoque nas relações entre Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente (CTSA). Essa abordagem é atual e relevante para a escola básica e para a universidade, responsável pela formação inicial dos professores. No presente trabalho, as relações CTSA são consideradas fontes de problematização do trabalho docente, interpelando as relações entre teoria e prática no contexto da formação de professores. Entre as problematizações suscitadas pelas relações CTSA, está a incorporação das múltiplas dimensões do conhecimento científico, assim como os aspectos teóricos e práticos da natureza da ciência e da tecnologia. Isso implica na necessidade de se olhar criticamente os currículos de formação de professores e as oportunidades concretas para a formação no contexto CTSA. Desse modo, iniciamos um processo investigativo das visões de CTSA de estudantes de um Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas. Entendemos que esse pode ser um caminho para pensar o currículo que estamos produzindo e reorientar a ação formativa no sentido de equacionar a tradicional dicotomia entre teoria e prática. |
METODOLOGIA: |
Utilizamos uma adaptação do questionário “Views of Science, Technology and Society” (VOSTS) (MIRANDA, 2008), visando lançar luz às visões dos estudantes sobre CTS. Embora reconheçamos as limitações deste instrumento (LEDERMAN, 2007), admitimos que seja válido para estimular a discussão em sala de aula, além de servir de apoio a decisões curriculares. Durante abril de 2011, foram aplicados 57 questionários (adaptados do VOSTS) a estudantes do 4º, 5º e 9º período do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da UFRPE (Recife/PE). A análise seguiu as categorizações de Miranda (2008): realista, indica uma concepção apropriada, de acordo com o conhecimento dialético da história, epistemologia e sociologia da natureza da ciência, da tecnologia e das interações CTS; plausível, uma escolha parcialmente legítima, com algum mérito, mas não totalmente realista; e simplista, indica uma escolha inapropriada. Na análise estão incluídas cinco das quinze questões que constituem a versão adaptada do questionário VOSTS. São elas: 1) definição de ciência; 2) definição de tecnologia; 3) exigências para o estudo das ciências na escola; 4) contribuição da ciência e tecnologia à sociedade; e 5) participação da sociedade no controle da tecnologia. |
RESULTADOS: |
Sobre a definição da ciência, 77% optaram por alternativas plausíveis, que compreende a ciência como uma forma de entender o mundo em que vivemos. Quanto à definição de tecnologia, 35% escolheram respostas plausíveis e 58% realistas, concebendo a tecnologia como ideias e técnicas para a organização do trabalho das pessoas e da sociedade. Quanto ao papel da educação, 14% marcaram respostas simplistas, afirmando que “não deve ser exigido aos estudantes que estudem mais ciência”. Porém, 51% concordam que deve ser exigido mais estudo orientado por abordagens inovadoras relacionadas ao cotidiano. Sobre as contribuições da ciência e da tecnologia à sociedade, 42% concordam que a ciência e a tecnologia podem contribuir para resolver certos problemas sociais, embora possam estar na origem de muitos outros, resposta realista; 54% assinalaram respostas plausíveis ao concordarem que a contribuição depende da forma de utilização pela sociedade. A participação do público no controle do desenvolvimento tecnológico foi entendida por dois terços (64%) a partir de uma visão crítica que pondera os obstáculos para a efetivação da participação social no desenvolvimento tecnológico. Porém, 36% marcaram respostas simplistas, que não visualizam qualquer influência do público nos assuntos de C&T. |
CONCLUSÃO: |
Nesta breve discussão, destacamos pistas ao nosso percurso investigativo. Ao analisarmos separadamente cada turma, na questão sobre a definição de ciência, temos: 5º período, 82% de respostas plausíveis, 9º período, 80% e 4º período, 72%. Ainda que estejam em etapas distintas da formação (metade e final do curso), as respostas não indicam distância significativa entre as turmas. Quanto à definição da tecnologia, se somamos as respostas realistas e plausíveis, temos: 4º período, 96%; 5º período, 91% e 9º período, 90%. Neste caso, os estudantes da metade do curso apresentam menor percentual de respostas simplistas. Uma das questões que mais chamam atenção trata da importância de se estudar mais ciências. Enquanto os 5º e 4º períodos concordam com as respostas realistas e plausíveis (somadas em 91% e 87%, respectivamente), o 9º período soma 67% nessas categorias, e 33% em respostas simplistas, que atribuem baixa importância à educação em ciências na escola. Este ponto exige maior reflexão dos formadores responsáveis pela formação de professores. Sublinha-se que esses achados não encerram conclusões, mas indicam o caminho necessário a seguir: de diálogo e construção coletiva entre gestores, professores e estudantes, na direção de um currículo de formação de professores CTSA. |
Palavras-chave: Relações CTSA, Visões de estudantes universitários, Ensino de ciências. |