63ª Reunião Anual da SBPC

C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 3. Ecologia Terrestre

FRUGIVORIA POR AVES EM Curatela americana L. (Dilleniaceae) NA REGIÃO DO VALE DO ARAGUAIA, MATO GROSSO, BRASIL

Keila Nunes Purificação 1 Fabiana Mendonça Vieira 2 Márcia Regina Banzoni Souza 2 Lorena da Silva Castilho 3 Márcia Cristina Pascotto 4

1. Mestrado em Ecologia e Conservação, Campus de Nova Xavantina - UNEMAT 2. Laboratório de Ornitologia, ICBS/Campus Universitário do Araguaia - UFMT 3. Mestrado em Ecologia e Conservação da Biodiversidade – UFMT 4. Profa. Dra./Orientadora – ICBS/Campus Universitário do Araguaia - UFMT

INTRODUÇÃO:

Curatella americana é uma espécie vegetal conhecida popularmente como Lixeira. Trata-se de uma planta semidecídua característica de terrenos secos do Cerrado. Floresce a partir do final do mês de agosto junto com o surgimento de novas folhas, prolongando-se até outubro; os frutos atingem a maturação entre outubro e novembro. Produz anualmente grande quantidade de propágulos, que são muito apreciados pelas aves. Dentre os frugívoros neotropicais as aves formam o grupo que mais contribui em número de espécies, com algumas famílias amplamente dependentes de frutos. As aves frugívoras desempenham um importante papel como dispersoras de sementes, devido à sua abundância nos diversos ambientes e a frequência com que se alimentam de frutos. Entender as interações existentes entre populações vegetais e as comunidades de aves são premissas importantes na conservação e manejo da vida silvestre, onde a atividade dos dispersores de sementes pode atuar, por exemplo, na recuperação de áreas degradadas. Diante do exposto, o objetivo deste estudo consistiu em identificar quais foram as espécies de aves que consumiram os frutos de C. americana e o potencial papel dispersor destas em uma área de cerrado sentido restrito no Parque Estadual da Serra Azul, Barra do Garças, Mato Grosso.

METODOLOGIA:

O estudo foi realizado no Parque Estadual da Serra Azul - PESA (15°52’S e 51°16’W), município de Barra do Garças, região do Vale do Araguaia, leste do estado de Mato Grosso. O PESA está inserido nos domínios do bioma Cerrado e tem aproximadamente 11 mil ha, abrigando uma grande diversidade de habitats, dentre os quais predomina-se o cerrado sentido restrito. O clima da região, segundo Köppen (1948), é do tipo AW (clima quente e úmido) com duas estações bem definidas, verão chuvoso (outubro a março) e inverno seco (abril a setembro). As amostragens foram realizadas de agosto/2009 a outubro/2010 utilizando-se a metodologia do Transecto Linear, em que percorreu-se uma trilha com cerca de 1000 m de extensão durante o período da manhã, sem delimitação de tempo. Os indivíduos de Curatella americana encontrados em período de frutificação foram observados com o auxílio de binóculos, assim como as espécies de aves consumidoras. Foi anotado também o modo como os propágulos foram consumidos pelas aves. A classificação e a nomenclatura taxonômica das espécies de aves seguiram a proposta do CBRO (2011) e para a espécie vegetal foi seguido o APG II.

RESULTADOS:

Foram registradas 18 espécies de aves, todas Passeriformes, consumindo os frutos de C. americana, em que Elaenia chiriquensis, Myiodinastes maculatus, Empidonomus varius, Tyrannus melancholicus, Griseotyrannus aurantioatrocristatus (Tyrannidae), Cyanocorax cristatellus, Cyanocorax cyanopogon (Corvidae), Turdus leucomelas (Turdidae), Saltatricula atricolis, Tangara sayaca, Tangara cayana, Dacnis cayana, Cyanerpes cyaneus (Thraupidae) e Piranga flava (Cardinalidae) foram consideradas potenciais dispersoras (78%), pois engoliram a semente inteira (ESI). Já Hemithraupis guira, Lanio cucullatus (Thraupidae), Volatinia jacarina (Emberezidae) e Gnorimopsar chopi (Icteridae) não foram consideradas dispersoras (22%), pois consumiram somente o arilo – mandibularam e descartaram a semente (MDS). O maior consumo foi registrado entre os traupídeos, família que é bem representada tanto por espécies frugívoras quanto por onívoras. Espécies migratórias como os tiranídeos E. chiriquensis, M. maculatus, E. varius e G. aurantioatrocristatus, mesmo sendo frugívoros oportunistas desempenharam um importante papel na dispersão das sementes de C. americana. Espécies endêmicas do Cerrado como C. cristatellus e S. atricolis também contribuíram na dispersão de sementes de C. americana.

CONCLUSÃO:

Curatela americana atuou como importante fonte alimentar para a comunidade de aves do PESA, desde para aquelas que possuem dieta frugívora como para as que são consideradas frugívoras oportunistas, como as espécies que possuem dietas predominantemente onívoras, insetívoras ou granívoras. Diante do número de espécies consideradas como potenciais dispersoras pode-se afirmar que as interações ecológicas estabelecidas entre a população de C. americana e a avifauna do PESA estão bem equilibradas, já que ambas as partes envolvidas estão sendo beneficiadas por meio de interações em que as aves recebem o retorno nutricional ao dispersarem as sementes e C. americana tem o seu ciclo reprodutivo garantido.

Palavras-chave: Aves, Frugivoria, Cerrado.