63ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 4. Educação Básica |
PROFESSORAS NEGRAS: MOTIVOS DA ESCOLHA PELA PROFISSÃO DOCENTE |
Cleonice Ferreira do Nascimento 1 Maria Lúcia Rodrigues Muller 2 |
1. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação - UFMT 2. Profa. Dra./Orientadora - Programa de Pós-Graduação em Educação – UFMT |
INTRODUÇÃO: |
Analisa-se parte dos resultados de uma pesquisa de Monografia realizada durante o curso de Especialização: Relações Raciais e Educação na Sociedade Brasileira, promovido pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Relações Raciais e Educação (NEPRE), com recursos do MEC/SECAD, Programa UNIAFRO. No referido trabalho buscamos conhecer a trajetória de vida de cinco professoras negras que atuam nos primeiros anos do Ensino Fundamental, no município de Várzea Grande/MT. Um dos objetivos do estudo foi entender quais motivos favoreceu a escolha pelo magistério pelas docentes, como se coloca para a mulher negra a preferência pelo magistério, qual o grau de liberdade dessa escolha, isto é, se teve influências/contribuições de seus familiares para sua opção profissional. Nessa perspectiva, neste resumo, apresentamos uma discussão sobre os motivos que levaram as professoras entrevistadas a optarem pela profissão de professora. |
METODOLOGIA: |
A pesquisa foi realizada através de uma abordagem metodológica qualitativa. Para a coleta de dados empregou-se a metodologia da história oral, tendo como técnica a história de vida. Nesse sentido, utilizamos a entrevista por considerá-la a mais adequada para apreender as experiências de vida das professoras negras, sujeitos sociais deste estudo. O critério de escolha das professoras ocorreu segundo o sexo, a cor/raça, o nível de ensino de atuação e a cidade onde moram. Tivemos a intenção de entrevistar mulheres, negras, do ensino primário e que residem em Várzea Grande. O fenótipo, ou seja, as características físicas como o tipo de cabelo, formato do nariz e dos lábios, e, principalmente, a cor da pele foram os critérios usados pela pesquisadora para a classificação racial das professoras negras entrevistadas. Entrevistei cinco professoras nas escolas em que trabalham - três numa escola central e duas numa escola periférica. Esta última funciona como sala anexa em um espaço cedido por uma igreja protestante. Tomou-se o cuidado de explicar do que se tratava a pesquisa antes de iniciar o processo de entrevista, assim como de entrevistar as professoras separadamente, deixando-as totalmente à vontade no sentido de relatar suas histórias de vida. |
RESULTADOS: |
Constatou-se nessa pesquisa motivos diferentes e também semelhantes com relação à escolha pela carreira do magistério. Duas professoras tiveram a influência da família e de parentes na escolha pela profissão. A família desempenhou um papel fundamental na vida das mulheres negras para que elas se tornem professoras. Normalmente, os pais incentivavam as filhas a continuar os estudos, investiam materialmente para garantir a oportunidade de uma educação de qualidade ou, ao menos, a melhor possível, para que elas alcançassem melhores condições de vida e exercessem uma profissão de status e com salários elevados. Uma professora fez a escolha pelo magistério porque o seu interesse era ter uma profissão e que não fosse a de empregada doméstica. Desse modo, sua escolha representou a oportunidade de ocupar um lugar social diferente daquele expressivamente atribuído às mulheres negras brasileiras: o de doméstica. Outra docente fez a opção por tornar-se professora por necessidade (tem dois filhos para criar) e também porque a família de seu esposo é formada por pessoas com nível superior. Por incentivo da cunhada, que era diretora de uma escola, cursou História e Pedagogia. Apenas uma professora afirmou que a escolha pela profissão de docente foi livre, sem a influência da família. |
CONCLUSÃO: |
Algumas professoras optaram pela profissão de professora por influência da família e de parentes. Outras fizeram a escolha pelo magistério a fim de ter melhores condições de vida, de ocupar um lugar social que não fosse o de doméstica. Ser mulher negra e professora na sociedade brasileira representa, além de uma inserção profissional, a conquista de um espaço público antes ocupado por homens e mulheres brancas da classe média. Representa também o rompimento com o estereótipo de incapacidade intelectual criado sobre o negro que ainda hoje opera de maneira muito forte nas relações sociais de nosso país (GOMES, 1995). A ascensão social da mulher negra em nossa sociedade não é algo fácil de alcançar, contudo é possível, pois elas, além do esforço pessoal, estabelecem redes de solidariedade e apoio que contribuem para a superação das dificuldades encontradas na trajetória de formação acadêmica e em sua mobilidade profissional. |
Palavras-chave: Professoras negras, Escolha profissional, Trajetórias de vida. |