63ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 9. Educação Permanente |
EDUCAÇÃO NÃO FORMAL: UMA EXPERIÊNCIA DE/COM MULHERES |
Priscila Teixeira da Silva 1 Jamille Pereira Pimentel 1 Domingos Rodrigues da Trindade 2,3 |
1. Depto. de Educação da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) – Campus XII 2. Professor orientador do Campus XII – UNEB 3. Doutorando em Educação - UnB |
INTRODUÇÃO: |
A educação é considerada como um fator de grande relevância na vida em sociedade. Apesar de muito tempo ter se pensado a educação como sendo unicamente a educação escolar, é perceptível que ela não é exclusiva, como afirma Brandão (1982, p. 9) “a escola não é o único lugar onde ela acontece e talvez nem seja o melhor; o ensino escolar não é a sua única prática”. Dessa forma, percebemos que a educação abrange todos os espaços e todas as comunidades. Por isso, cada vez mais a educação não formal vem ganhando destaque nas discussões científicas. O presente trabalho enfoca a elaboração do projeto “Mulher, mulher” que foi desenvolvido por estudantes do curso de Pedagogia da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) Campus XII, como Estágio Supervisionado, objetivando oportunizar a um grupo de mulheres donas de casa um momento de lazer, cultura e informação para que estas se (re) descobrissem e se cuidassem como mulheres. Torna-se cada vez mais reconhecido que a educação não formal ou não escolar tem um papel importante na sociedade, pois reafirma o que as sociedades vêm esquecendo: que a educação não está presa por dentro dos muros da escola, ela vai muito mais além. Desta forma, a formação do pedagogo deve passar pelos questionamentos, vivências e possibilidades dessa educação, tornando assim, o estágio nos espaços que a desenvolvem um ponto significativo para sua formação. |
METODOLOGIA: |
Para a elaboração do projeto “Mulher, mulher”, foi realizado previamente um estudo exploratório sobre o papel da mulher no decorrer da história, assim como uma observação do cotidiano de mulheres da comunidade de Mutans que é distrito de Guanambi, cidade situada no Sudoeste baiano, distante oitocentos quilômetros da capital Salvador. Após isso, percebemos que estas mulheres não dedicavam tempo para o cuidado consigo mesma, orientadas por uma concepção machista que as fazia esquecer-se de si mesmas em detrimento dos afazeres cotidianos. Diante disso foi pensado um Projeto de Intervenção Social tendo elas como público alvo, com o intuito de proporcioná-las um momento de informação sobre saúde, direitos legais, beleza; assim como momentos de cultura e lazer, através de dinâmicas, discussões dialógicas, oficinas, artesanato, filmes, dança... Tudo para despertar nelas a importância do cuidar de si, de se valorizar enquanto ser humano e enquanto mulher. Foram realizados dez encontros de duas horas cada, que retornarão, semanalmente em 2011, assim que o projeto for regulamentado pelo Núcleo de Pesquisa e Extensão (NUPEX) como uma atividade extensionista da UNEB. Avivando assim também, a responsabilidade social que a Universidade deve ter com a comunidade em que ela está inserida. |
RESULTADOS: |
Muitas e significativas foram às experiências vivenciadas nos encontros. No desenrolar desse projeto percebemos a todo o momento crescer entre as participantes, o prazer pelo conhecer, a curiosidade sendo despertada e a vergonha aos poucos sendo superada. Ao debatermos temas cotidianos com mulheres que se sentiam insignificantes diante da vida, despertamos tanto nelas quanto em nós, um forte sentimento de solidariedade, pois percebemos que o sexo feminino ainda é vítima de uma realidade discriminatória. Em grande parte, as participantes tinham idade superior a quarenta anos e isso foi um ponto significativo, pois elas foram vítimas de pais autoritários e de realidades socioeconômica difícil, fazendo dessa forma, que os encontros ficassem mais interessantes, sendo que a falta de escolarização acrescida da pobreza limita o acesso ao conhecimento. Assim, elas demonstraram grande interesse nas questões e fizeram-se presentes em todos os encontros e em todas as discussões, mostrando que as limitações podem ser superadas e que a experiência fortalece a autoestima. Percebemos também a nossa carência crônica no que diz respeito à inclusão feminina – no interior do país – ao mercado de trabalho. Em sua grande maioria, elas se dedicam quase que exclusivamente, aos trabalhos domésticos, fortalecendo a hierarquização sexual masculina. |
CONCLUSÃO: |
O maior estímulo que pode haver no desenvolvimento de atividades da educação não formal diz respeito à freqüência dos sujeitos envolvidos, por não ser obrigatória, mostra que eles participam porque aquela experiência está sendo significativa de algum modo em suas vidas. Neste sentido, a participação das mulheres nos dez encontros foi bastante efetiva. Além disso, os resultados obtidos nos fazem refletir sobre três aspectos: a condição da mulher, a educação e o papel da Universidade. O primeiro nos mostra que mesmo com tantas conquistas as mulheres ainda hoje são discriminadas e desvalorizadas e que, às vezes, acabam esquecendo-se de se ver e se cuidar como mulher. No que se refere à educação, percebemos a importância de não vinculá-la somente a instituições escolares, pois ela remete a um domínio muito mais amplo como em espaços não formais, que ainda são de modo geral, carentes de participação de pedagogos, talvez pela própria dificuldade da sociedade em reconhecer esses espaços como um campo de ricas e valiosas experiências. O terceiro ponto: a Universidade deve incentivar e apoiar projetos de educação não formal fazendo valer seu papel social, atuando juntamente com outras esferas públicas e com o envolvimento de todos os cidadãos, na construção de uma sociedade livre de preconceitos e mais solidária. |
Palavras-chave: Educação não formal, Mulheres, Cuidado. |