63ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 4. Química - 8. Química
RESINAS ODONTOLÓGICAS ADITIVADAS COM UM BACTERICIDA: SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO
Tiago Roberto Detomini 1
Emerson Marcelo Girotto 1
1. Depto de Química - UEM
INTRODUÇÃO:
A cárie dentária é uma doença infecciosa causada por bactérias e que resulta na destruição da estrutura dentária devido a formação de ácidos durante a fermentação bacteriana. Atentando para este fato, vários produtos contendo agentes bactericidas de uso oral já existem no mercado como enxaguantes bucais e pastas de dentes.
Constantemente novas pesquisas nesta área estão sempre em andamento e uma dela é a incorporação de bactericidas em resinas utilizadas nas restaurações dentárias, pois um dos principais motivos de se ir ao dentista (ou voltar) é a reincidência de uma nova cárie que se forma no dente já restaurado chamada de cárie secundária, que se infiltra nas fissuras que se formam na interface entre o dente e a resina devido a contração da resina durante o processo de fotocura.
A ação do bactericida pode se dar de três maneiras:
1. Efeito bacteriostático: ocorre a inibição do crescimento bacteriano, porém, não ocorre a morte celular;
2. Efeito bactericida: ocorre a morte da bactéria, porém, não há a lise celular (rompimento da parede celular);
3. Efeito bacteriolítico: ocorre a morte da bactéria por lise celular.
A resina é um material compósito formado por uma fase orgânica constituída geralmente pelos monômeros bisfenol A glicidilmetacrilato (bis GMA) e trietilenoglicoldimetacrilato (TEGDMA) e de uma partícula de carga inorgânica, a sílica pirogênica (óxido de silício) e os iniciadores da reação de fotopolimerização (canforoquinona e DMAEMA).
METODOLOGIA:
Síntese e caracterização
Para a preparação da resina os componentes foram devidamente pesados e misturados em uma placa de petri de acordo com a seguinte formulação: 25% de fase orgânica contendo 74% de Bisfenol A Glicidilmetacrilato; 24% de Tetraetileno Glicol Dimetacrilato; 1 % de canforoquinona; 1% de Dimetilaminoetilmetacrilato e 75% de fase inorgânica composta de sílica pirogênica microparticulada. O 5-cloro-2-(2,4-diclorofenoxi)-fenol (Triclosan®) foi utilizado em duas concentrações diferentes sendo 3% e 5% (porcentagem em massa em relação à massa total da resina).Para o teste de liberação do Triclosan® as amostras foram submersas em saliva artificial, sob temperatura controlada a 37°C e agitação por um período de 14 dias. Foram coletadas alíquotas periodicamente extraindo a droga do meio para que pudesse ser injetada e analisada por cromatografia gasosa com detector ECD.
Foi realizado um ensaio microbiológico para se determinar a MIC (minimum inhibitory concentration) do Triclosan®. Para isso utilizou-se uma placa de microdiluição com 96 poços (12 x 8) de aproximadamente 5mm de diâmetro por 10 mm de profundidade onde diferentes concentrações de soluções do bactericida foram colocadas juntamente com uma solução contendo cepas da bactéria Staphylococcus mutans, que é a principal causadora da cárie, com uma concentração de cepas constantes.
RESULTADOS:
O Triclosan® contido na resina foi liberado para a saliva artificial e pode-se observar que ocorre uma liberação mais acentuada até 2,5 horas, tornando-se gradativamente constante no restante do ensaio.A Tabela 1 mostra os resultados das análises de contração de polimerização e microdureza para as resinas preparadas com 3% e 5% de Triclosan®. Para comparação, os testes também foram feitos em resinas sem a adição do agente bactericida. De acordo com o desvio padrão, pode-se observar que o material não sofre nenhuma alteração significativa nas propriedades investigadas. Este resultado já era esperado uma vez que a contração de polimerização está associada principalmente à fase orgânica do compósito e a microdureza à fase inorgânica, as quais, neste caso, não foram alteradas.Tabela 1 – Grau de conversão monomérica, contração de polimerização e microdureza vickers em função da quantidade de Triclosan® usada na formulação da resina.
Quantidade de Triclosan® (% em massa±desvio padrão*)
0% 3% 5%
Contração de polimerização (%) 3,3±0,3 3,2±0,2 2,8±0,2
Microdureza vickers (HV) 28,4±0,4 28,5±0,3 29,1±0,3
Para a determinação da MIC obtivemos uma inibição no crescimento bacteriano dentro das primeiras 24 horas no 17° poço que continha uma concentração de 0,01 μg/mL do bactericida, em 48 horas houve a inibição no 14° poço com uma concentração de 0,12 μg/mL.
CONCLUSÃO:
Os resultados sobre a liberação do bactericida em saliva artificial mostraram que o mesmo é liberado gradativamente com o tempo. Além disso, foi comprovado que sua adição à formulação não causa nenhuma alteração significativa nas propriedades físico-químicas do material e que os resultados da MIC foram satisfatórios devendo ainda serem complementados com testes de atividades biológicas na superfície da resina aditivada.
Palavras-chave: Triclosan®, Resinas odontologicas, Bactericida.