63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana
A CONSTRUÇÃO DO LUGAR PELAS MARISQUEIRAS EM RIO DO FOGO/RN A PARTIR DAS EXPERIÊNCIAS COM A AQUICULTURA
Soneide Moura da Costa 1
Aldenizy Márcia Silva Lopes 2
Flavo Elano Soares de Souza 3
Ione Rodrigues Diniz Morais 4
1. Depto. de Geografia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
2. Depto. de Geografia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
3. Prof. Dr./ col. - Centro de Tecnologia - Colégio Agrícola de Jundiaí – UFRN
4. Prof.ª. Drª./Orientadora – Depto. de Geografia – UFRN
INTRODUÇÃO:
O homem é capaz de transformar o espaço inventando meios capazes de modificar o ambiente e torná-lo mais produtivo. Com esta ação, as pessoas atribuem significado e organizam os espaços a partir da cultura, um dos veios de compreensão da relação entre o homem e o meio. Nesta perspectiva, os lugares, enquanto manifestações espaciais da cultura, estão arraigados de símbolos que os tornam específicos, onde são experimentados os eventos mais significativos da existência humana. Na luta para conquistar novos espaços, as mulheres no Brasil, a partir da década de 1960, redefiniram o seu contexto socioeconômico e cultural, principalmente no âmbito do trabalho. Desta forma, a pesquisa objetivou analisar a construção do lugar pelas marisqueiras em Rio do Fogo/RN a partir das experiências com o cultivo de macroalgas, ou seja, da produção de organismos aquáticos, desvendando o gênero de vida das mulheres que trabalham nesta atividade, o significado/identidade por elas atribuído ao lugar e o papel por elas exercido na economia local. A pesquisa assume relevância no sentido de que, num país onde ainda há vestígios do patriarcalismo, as mulheres ultrapassaram as barreiras domésticas assumindo espaços no mercado de trabalho, inclusive em ambientes marítimos onde predomina a ação masculina.
METODOLOGIA:
Para a realização da pesquisa percorremos a trajetória histórico – geográfica do cultivo de macroalgas e também o estudo de obras que trabalham com lugar, gênero de vida, identidade do lugar e a conquista de espaços pela mulher. Desta forma, procedeu-se à aplicação de questionários quanti-qualitativos à associação de maricultura de Rio do Fogo com a pretensão de desvendar como se apresenta o cotidiano das marisqueiras do lugar, assim como entrevistas voltadas à descoberta das experiências resultantes da familiaridade com a comunidade em questão. Na intenção de descobrir a participação dessas mulheres na economia local, investigamos as oscilações da produção antes e depois da inserção da força feminina no cultivo de macroalgas por meio de questionários qualitativos que também ponderaram a percepção de filhos (as) e parceiros a respeito de ter as marisqueiras na esfera da população ativa do trabalho. Também conduzirmos uma entrevista à secretaria a qual compete a escala econômica da macroalga depois da vinculação das marisqueiras. Para alicerçar as informações construímos um banco de dados a partir do sistema de informações geográficas (SIG) que mostrou os pontos de atuação das mulheres no processo de produção.
RESULTADOS:
O cultivo de macroalgas, ou seja, a produção de organismos aquáticos, melhor se adapta em locais abrigados de forte arrebentação de ondas, ausência de banhistas, como também de embarcações. Dado o perfil da pesquisa, foi possível identificar que, dentre vinte entrevistados que integram a associação de maricultura de Rio do Fogo, 88% correspondem a mulheres e 12% a homens. A atividade do cultivo de macroalgas abrange em maior quantidade o público feminino que se encarrega da lavagem das macroalgas em tanques, seleção para a secagem e depois para a comercialização. Devido a elevada jornada de trabalho, as marisqueiras passam grande parte do dia juntas o que favorece a troca de experiências e fortalece o significado que o espaço de produção tem em suas vidas, conferindo identidade com o lugar. Portanto, as marisqueiras desempenham fundamental importância para a comunidade por abarcarem significativa parcela de funções na atividade produtiva e contribuírem para a economia local como também para a própria renda familiar.
CONCLUSÃO:
A trajetória percorrida pelas mulheres em busca de um lugar no mercado de trabalho é mercada por lutas e conquistas. Neste contexto, a importância do trabalho da mulher no processo produtivo de macroalgas em Rio do Fogo se faz imensurável dada as formas como esta atua e percebe o seu lugar no espaço, fazendo dessa percepção uma construção do cotidiano. Ressalta-se que é na experiência e na vivência que se efetivam as relações do homem com o seu meio. Desse modo, a forma como a mulher atua em determinadas atividades, evidenciando características de cuidado e maior sensibilidade às questões que envolvem o ambiente, a faz construtora de relações que conferem significado ao espaço, traduzindo-se por manifestações de identidade com o lugar.
Palavras-chave: Lugar, Gênero de vida, Identidade.