63ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 4. Botânica - 4. Fitogeografia
ANÁLISE DAS FITOSSOCIOLOGIAS ARBUSTIVA E ARBÓREA DE REMANESCENTE DE CERRADÃO, AMÉRICO BRASILIENSE (SP)
Yuri Tavares Rocha 1
1. Prof. Dr. - Departamento de Geografia - Universidade de São Paulo
INTRODUÇÃO:
O Domínio do Cerrado é um dos hotspots para a conservação da biodiversidade mundial, tendo uma das mais ricas floras do Bioma das Savanas. Porém, 2,2% da área original são legalmente protegidos, mas ainda ameaçados pela erosão, degradação e contaminação biológica. No Estado de São Paulo, em 1962, existiam 13,7% de cerrado lato sensu, sendo 2,9% de cerradão; na década de 1970, apenas 4,18%. Em 1983, 149 mil ha de cerrado e 34 mil ha de cerradão. Em 1993, o cerrado ocupava apenas 1% da área do Estado. Em 2006, pesquisa constatou fragmentos de cerrado paulista como prioritários por seu valor biológico e por estarem ameaçados. Em 2007, estudo constatou que gramíneas invasoras e fogo são mais freqüentes em fragmentos cuja vizinhança tem rodovias e zonas urbanas. Os cerrados paulistas, sendo a principal fisionomia cerradão, abrigam potenciais econômicos vegetais e são muito interessantes nos aspectos florístico e fitossociológico, cujos estudos são de grande valor científico, propiciando maior compreensão das comunidades vegetais e gerando informações para o manejo. Pela importância dos fragmentos de cerradão e para aumentar a compreensão de sua fitossociologia, foi realizada análise dos dados fitossociológicos dos estratos arbóreo e arbustivo de um remanescente de cerradão paulista.
METODOLOGIA:
O remanescente de cerradão estudado está localizado no município de Américo Brasiliense (SP), a 300km da capital, na sede campestre do Clube Náutico Araraquara (21o42’S e 48o01’W), que tem nessa vegetação sua reserva legal. As 25 parcelas foram instaladas para os estudos fitossociológicos arbóreo (de 20x20m, área amostral de 10.000m2) e arbustivo (de 10x10m, área amostral de 2.500m2) de forma sistemática em relação às curvas de nível (505-515m, 515-525m, 525-535m, 535-545m e 545-550m) e, a seguir, de forma aleatória. Para a fitossociologia arbórea, todos os indivíduos com circunferência a altura do peito (CAP) maior ou igual a 15 cm foram amostrados, anotando-se espécie, CAP e altura; para a arbustiva, foram amostrados aqueles com altura maior ou igual a 1m, anotando-se espécie, circunferência a altura do colo e altura. As espécies foram determinadas pelo uso de chaves dicotômicas, pelo pesquisador, por comparação com material herborizado em consultas a herbários, por consulta à literatura especializada e por especialistas de famílias e ou gêneros. Foi utilizado o software Fitopac 2 para análise e produção dos parâmetros fitossociológicos. A análise das fitossociologias arbórea e arbustiva foi feita comparando-se a composição florística e os parâmetros fitossociológicos.
RESULTADOS:
Na fitossociologia arbórea, foram amostrados 2.159 indivíduos de 90 espécies, distribuídas em 40 famílias e 65 gêneros; as espécies mais importantes foram Copaifera langsdorffii, Pterodon emarginatus, Vochysia tucanorum, Ocotea pulchella e Myrcia lingua; as famílias mais importantes foram Caesalpiniaceae, Fabaceae, Myrtaceae, Vochysiaceae e Lauraceae. Na fitossociologia arbustiva, foram amostrados 4.771 indivíduos de 133 espécies, distribuídas em 44 famílias e 92 gêneros; as espécies mais importantes foram Actinostemon communis, Siparuna guianensis, Myrcia albo-tomentosa, Copaifera langsdorffii e Xylopia aromatica; as famílias mais importantes foram Monimiaceae, Myristicaeae, Myrtaceae, Annonaceae, Melastomataceae e Myrsinaceae. Para ambos os estudos, foi feita a curva do coletor, indicando suficiência amostral. Apresentaram maior riqueza florística as famílias Myrtaceae (10 espécies arbóreas e 23 arbustivas), Vochysiaceae (6 espécies arbóreas e 5 arbustivas), Rubiaceae (4 espécies arbóreas e 9 arbustivas), Caesalpiniaceae (4 espécies arbóreas e 8 arbustivas) e Melastomataceae (2 espécies arbóreas e 7 espécies arbustivas). O índice de Shannon para o estrado arbóreo foi de 3,245 e de 3,486 para o arbustivo; a equabilidade foi de 0,721para o estrado arbóreo e 0,713 para o arbustivo.
CONCLUSÃO:
Analisando-se a composição florística, os números de famílias, gêneros e espécies foram maiores no estrato arbustivo do que no arbóreo, já que algumas espécies do primeiro são adaptadas às condições de sub-bosque. As espécies A. communis, S. guianensis, Virola sebifera, Coussarea sp. e Miconia albicans podem ser consideradas típicas de sub-bosque do cerradão estudado. Comparando-se as fitossociologias arbórea e arbustiva, as espécies M. albo-tomentosa, C. langsdorffii, X. aromatica, O. pulchella e M. lingua estiveram entre as dez primeiras espécies em Índice de Valor de Importância (IVI) em ambas. A presença no estrato arbustivo de algumas espécies mais importantes no estrato arbóreo, tais como C. langsdorffii (primeira no arbóreo e quarta no arbustivo, em IVI), O. pulchella (quarta no arbóreo e sétima no arbustivo), M. lingua (quinta no arbóreo e décima no arbustivo), X. aromatica (sexta no arbóreo e quinta no arbustivo) eM. albo-tomentosa (sétima no arbóreo e terceira no arbustivo), caracterizou a garantia de reposição de indivíduos arbóreos de espécies importantes na estrutura do cerradão estudado. Tal fato não ocorreu somente para a espécie P. emarginatus, com IVI de 34,23, segundo lugar no estrato arbóreo, e com IVI de 3,06, vigésima quarta colocação no estrato arbustivo.
Palavras-chave: Cerradão, Fitossociologia, São Paulo.