63ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 7. Etnologia Indígena |
DIAGNÓSTICO SOCIOCULTURAL E ECONÔMICO DA TERRA INDÍGENA MOCOCA – PR |
Vanessa de Souza Lança 1 Lúcio Tadeu Mota 2 Rosângela Célia Faustino 3 |
1. Depto. de Ciências Sociais - UEM 2. Prof. Dr./Orientador - Depto. de História - UEM 3. Profª. Drª./Co-orientadora - Depto. de Teoria e Prática da Educação - UEM |
INTRODUÇÃO: |
Este trabalho resulta de um projeto de iniciação científica realizado junto a comunidade da Terra Indígena Mococa, na região centro oriental paranaense. A pesquisa procurou coletar e analisar dados referentes aos aspectos socioculturais e econômicos da população, majoritariamente Kaingang, apresentando informações sobre seu modo de vida atual. Apesar das inúmeras transformações sociais e culturais que as relações interétnicas proporcionaram, os Kaingang continuaram a seguir uma lógica cultural própria, preservando alguns hábitos alimentares, estilos de habitação e principalmente o uso da língua. Os Kaingang de Mococa vivem em terras tradicionais junto ao rio Tibagi, espaço de vital importância enquanto local de “sobrevivência e de reprodução cultural”. Os processos históricos e políticos propugnaram a ressignificação de espaços de reprodução e necessidades que antigamente não faziam parte do modo de vida tradicional. Nessa perspectiva, são apresentados e analisados os dados coletados na pesquisa de campo juntamente com uma discussão sobre as permanências e ressignificações da cultura Kaingang entre a população de Mococa. |
METODOLOGIA: |
A pesquisa desenvolveu-se por meio de estudo bibliográfico referente aos Kaingang no Paraná e através de pesquisa etnográfica na TI Mococa. Estudos sobre teorias antropológicas e etnográficas também foram feitos a fim de melhor encaminhar, teórica e metodologicamente, as atividades de campo. O método etnográfico foi adotado como base para a realização do trabalho de campo, que consiste em “escrever o que vemos” e “transformar o olhar em linguagem” (LAPLANTINE, 2004). Segundo Roberto Cardoso de Oliveira (1998), o trabalho antropológico de campo, que propõe a descrição etnográfica, possui três “atos”, próprios do modo de conhecer das ciências sociais: o olhar, o ouvir e o escrever. Enquanto o olhar e o ouvir constituem o trabalho de campo propriamente dito, o escrever é o momento de “textualização da cultura ou de nossas observações sobre ela” (OLIVEIRA, 1998, p. 26), o que implica num trabalho difícil, pois por tratar diretamente de culturas humanas, torna-se “moral, política e epistemologicamente delicado” (GEERTZ, 1988 apud. OLIVEIRA, 1998). Através da pesquisa etnográfica, procuramos apreender a realidade da TI Mococa por uma relação dialógica com os moradores, ou seja, tratando-os como interlocutores e não somente como informantes. |
RESULTADOS: |
Durante as viagens feitas à comunidade coletamos dados censitários, fotografias e entrevistas com algumas lideranças, com funcionários da escola, da enfermaria e alguns moradores. Procurou-se registrar também dados geográficos e ambientais, aliando-os na observação dos aspectos da vida da população. A TI Mococa, talvez por sua pequena extensão e difícil acesso (encontra-se distante 60 Km em estrada de terra do centro urbano de Ortigueira), possui 140 habitantes, formando 34 famílias. É uma população composta principalmente por jovens de até 30 anos, caracterizando mais de 70% da população total. Observamos aproximadamente 30 casas de alvenaria construídas com recursos da Companhia Paranaense de Habitação - COHAPAR. Ao lado da maioria das casas de alvenaria, os indígenas constroem outra de madeira e palha, numa forma de adaptação das casas tradicionais, onde estocam alguns alimentos e acendem um pequeno fogo. A língua materna também é um elemento muito importante que os Kaingang preservaram e que constrói toda percepção e apreensão do mundo. O bilinguismo então se constitui como fator de preservação e adaptação diante de uma realidade irremediável de transformações sociopolíticas e históricas que retiram certas especificidades culturais e incluem necessidades que antes não existiam. |
CONCLUSÃO: |
Nessa pesquisa pudemos observar uma sociedade tradicional em movimento, ou seja, adaptando sua realidade e mantendo aquilo que o grupo considera importante: tradições materiais e imateriais, modos de organização interna, sistemas políticos, etc. Apesar do aspecto introdutório e geral da pesquisa, ao propormos um estudo etnográfico nessa terra indígena, assim como Oliveira Filho (1999, p. 118) acreditamos ser necessário “fugir de uma idealização do passado e de uma pureza original, da naturalização da situação colonial e ainda de uma etnologia das perdas culturais.” Assim esperamos contribuir para os estudos antropológicos das populações indígenas que sofreram intensos processos de contato interétnico, e incitar maiores reflexões sobre as formas de ressignificação de elementos culturais entre a população Kaingang no Paraná. |
Palavras-chave: Etno-história do Paraná, Índios Kaingang, Terra Indígena Mococa. |