H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 1. Lingüística Aplicada |
|
METÁFORAS SOBRE “APRENDER PORTUGUÊS” DE ALUNOS DE ENSINO MÉDIO DE UMA ESCOLA PÚBLICA |
|
Hélvio Frank de Oliveira 1
|
|
1. Prof. Me./Secretaria da Educação de Goiás
|
|
INTRODUÇÃO: |
O uso e o conceito de metáforas não são recentes (ORTONY, 1993). Além de representarem um papel importante na linguagem e no pensamento (LAKOFF & JOHNSON, 2003), as metáforas são construídas com base em nossas experiências, perpassando valores propagados, de forma sistemática, por nossa cultura que, por sua vez, também está intimamente correlacionada/imbricada ao contexto no qual estamos inseridos, movimentando-se, inclusive, por meio do discurso. Nesse liame, a experiência cotidiana possui um valor relevante na formação dos conceitos metafóricos disseminados por meio da língua(gem) e da cultura, já que sua interpretação, ao mesmo tempo, se deve ao (com)partilhar de conceitos estabelecidos e guiados pelo modo como essas representações são compreendidas. Tendo plena convicção de que essas concepções modificam a forma e a dimensão da aprendizagem, despertando, no aluno, ações positivas ou negativas no processo, esta pesquisa tem por objetivos identificar e analisar as metáforas colhidas a partir de narrativas de experiências de aprender português, língua materna, de alunos de ensino médio de uma escola pública em que leciono. E, além disso, refletir sobre como essas percepções podem configurar e/ou comprometer aquele ensino. |
|
METODOLOGIA: |
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, cujo método utilizado, o estudo de caso, é configurado por uma orientação interpretativista, conforme Stake (1994). Foi realizada com uma turma de quinze alunos concluintes do ensino médio de uma escola pública do interior do Estado de Goiás, no primeiro bimestre de 2011. E, ainda, utilizou, para a coleta de dados, narrativas visuais e narrativas escritas por esses participantes acerca de suas experiências de aprender português durante a sua vida, e um questionário aplicado após essa primeira etapa, com a intenção de englobar dados incidentes de forma quantitativa, de acordo com os primeiros relatos apurados. Para a triangulação dos dados, foi utilizada a técnica do regrounding, sugerida por Seliger e Shohamy (1995), consistindo no retorno dos dados aos participantes por uma segunda vez, com a finalidade de comparar os resultados da primeira com a segunda fase de coleta. |
|
RESULTADOS: |
Considerando a metáfora como a maneira de o indivíduo interpretar suas experiências pessoais, os resultados revelaram dois blocos de crenças identificados. O primeiro, configurado por metáforas indicando crenças pertencentes e/ou relacionadas ao ensino/aprendizagem de português (língua materna) e o segundo, por sua vez, referindo-se ao próprio idioma. Alguns dados revelaram divergências sobre o papel gramatical e comunicativo do português, as quais se oficializaram a partir dos elementos escrita e fala. Ancorados pelo ensino normativo da língua, a maioria dos alunos acredita que não sabe português, não consegue “passar as ideias para o papel”, porque “na hora de escrever é muito diferente da de falar”. Dessa forma, a escola é tida como o único espaço que se tem para “falar direito”, tendo em vista o contexto em que vivem. Outros entendem a variação como sendo um problema de alfabetização/letramento, que, quando não há aprimoramento, não há sucesso profissional e social; e quando não há ensino de estruturas gramaticais na escola, para eles, não há aula de português. Já, sobre o idioma, configuraram crenças relacionadas à língua tida como “mais difícil do que outras”, “cheia de regras” e, por isso, indícios de desinteresse, por parte desses alunos, em aprendê-la. |
|
CONCLUSÃO: |
Diante de tantas inquietações em relação a um contexto que, certamente, precisa ser ressignificado, problematizado, ficam vários pontos de interrogação, a partir das constatações. Entre a principal delas, a mudança de concepção sobre o que seja o idioma e a que se destinam seus estudos. A compreensão e o mapeamento das crenças e experiências, identificadas por meio das metáforas e questionários colhidos, sinalizaram resultados extremamente preocupantes. Efetivamente, faz-se necessário esse diagnóstico para que, a partir da apreciação dos fatos, haja procura, por parte dos agentes envolvidos, por soluções no sentido de contornar tais problemas. A pesquisa nos chama a atenção, ainda, para o fato de que o diálogo entre professor e alunos favorece o conhecimento das expectativas de aprender desses e, consequentemente, problematizá-las, faz com que reflitam sobre sua aprendizagem. Boas ou ruins, essas crenças devem ser identificadas, questionadas e tratadas durante as práticas discursivas em sala de aula. Essa dinâmica possivelmente fará com que alunos se interessem mais pela aprendizagem de uma disciplina, acionando indícios de autonomia nesse aprender. |
|
|
Palavras-chave: Ensino público de Português (língua materna), Crenças e experiências de aprender, Metáforas. |