63ª Reunião Anual da SBPC |
E. Ciências Agrárias - 3. Recursos Florestais e Engenharia - 4. Conservação da Natureza |
Análise fitossociológica e estrutural do componente arbustivo-arbóreo de um cerrado sensu stricto localizado na Estação Ecológica de Águas Emendadas (ESEC-AE) – DF |
João Felipe Nunes de Miranda 1 Alba Valéria Rezende 2 |
1. Departamento de Engenharia Florestal - UnB 2. Profa. Dra./Orientadora - Departamento de Engenharia Florestal - UnB |
INTRODUÇÃO: |
Um dos primeiros estudos no Brasil relacionados ao mapeamento da cobertura vegetal nativa da área core do Cerrado, realizado por Machado et al. (2004), que se baseou em um mosaico de imagens MODIS obtidas entre abril e agosto de 2002, detectou uma cobertura natural original de 34%, e estimou que o Cerrado deverá desaparecer no ano de 2030, caso seja mantido o atual modelo de desenvolvimento do país. Historicamente, um dos principais fatores de modificação do uso do solo no Cerrado é o fogo, que é constantemente utilizado durante a estação seca, causando perdas significativas tanto na estrutura quanto na composição florística da vegetação (COUTINHO, 1990). Os estudos relacionados à fitossociologia e composição florística das fitofisionomias do bioma Cerrado se tornam assim uma importante ferramenta, pois oferecem informações relevantes sobre as comunidades vegetais e, dessa forma, podem subsidiar ações de conservação e preservação de um bioma tão biodiverso e ao mesmo tempo tão ameaçado pela pressão humana. Nesse contexto, o presente estudo tem como objetivo avaliar a composição florística e os parâmetros estruturais de um cerrado sensu stricto localizado na Estação Ecológica de Águas Emendadas (DF). |
METODOLOGIA: |
Em janeiro de 2011, foi realizado o inventário da área (10 parcelas de 0,1 ha), todas as árvores vivas e mortas em pé com diâmetro basal (a 30 cm do solo) maior ou igual a 5 cm foram incluídas no inventário, seus diâmetros foram tomados com o auxilio de uma suta metálica e suas alturas com uma régua telescópica, além disso, cada árvore foi identificada botanicamente a partir do sistema de classificação APG III. É importante salientar que no final de agosto de 2010 ocorreu um grande incêndio na Estação que atingiu cerca de 20% de sua área, incluindo as parcelas estudadas, e teve duração aproximada de quatro dias, incêndio esse, favorecido pelo isolamento físico da Estação, que se encontra cercada por rodovias e empreendimentos agropastoris. A suficiência amostral foi analisada a partir da curva espécie-área e do erro amostral para densidade, esse último com limite máximo de 10% (PÉLICO NETO & BRENA, 1997). Foram avaliadas também as distribuições diamétrica e hipsométrica (FELFILI & REZENDE, 2003), os índices de diversidade de Shannon (H’) (KENT & COKER, 1992) e de equabilidade de Pielou (J’) (PIELOU, 1966). A estrutura horizontal da vegetação foi avaliada por meio dos parâmetros: densidade, dominância e freqüência, além do índice de valor de importância (KENT & COKER, 1992). |
RESULTADOS: |
A curva espécie área apresentou padrão semelhante ao já conhecido para o cerrado sensu stricto (FELFILI & SILVA JÚNIOR, 2001), tendendo a estabilização, pois com 0,8 hectares amostrados 95,24% das espécies já haviam sido encontradas. O erro amostral foi inferior a 10% (8,8%), revelando a suficiência do esforço amostral. As distribuições, diamétrica e hipsométrica se comportaram como uma exponencial negativa e normal assimétrica à direita, respectivamente. A densidade encontrada foi de 1.459 indivíduos, pertencentes a 63 espécies, 49 gêneros e 30 famílias, resultados semelhantes aos encontrados por Felfili et al. (2000). As famílias mais representativas foram Fabaceae, Vochysiaceae, Erythroxilaceae, Malpighiaceae, Melastomataceae e Myrtaceae. O índice de Shannon foi 3,44 nats.ind-1, o qual segundo Felfili e Silva Júnior (2001) encontra-se dentro do intervalo registrado para o cerrado sensu stricto do Planalto Central brasileiro (de 3,4 a 3,7 nats.ind-1). O índice de Pielou encontrado (0,83) indica uma baixa dominância na comunidade. As espécies de maior IVI, em ordem decrescente foram: Sclerolobium paniculatum, Qualea grandiflora, Qualea parviflora, Schefflera macrocarpa e Kielmeyera coriacea, juntas elas representam 35,92% da densidade, 49,45% da dominância e 33,34% do IVI. |
CONCLUSÃO: |
A área de cerrado sensu stricto estudada na ESEC-AE sofreu modificações consideráveis após a ocorrência de um grande incêndio em meados de 2010, sendo provavelmente esse distúrbio o responsável pela elevada densidade de indivíduos mortos. O mesmo distúrbio pode, segundo Oliveira e Silva (1993), ser apontado também como o responsável pela elevada densidade de indivíduos de Kielmeyera coriacea, pois essa espécie mostrou possuir elevada resistência a seus efeitos, o que lhe conferiu uma posição de destaque dentro da comunidade. A pressão externa sofrida pela ESEC-AE pode ser apontada como um distúrbio constante, o que a torna extremamente suscetível a ocorrência de outros distúrbios, semelhantes ao registrado em agosto de 2010. |
Palavras-chave: Fogo, Fitossociologia, Composição florística. |