63ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 2. Currículo |
LIVRO DIDÁTICO, NARRATIVAS PASSADAS E PRESENTES SOBRE O NEGRO NO BRASIL: MITOS A DESVENDAR |
Jamille Pereira Pimentel 1,2 Heldina Pereira Pinto Fagundes 3 |
1. Graduanda do curso de Pedagogia - UNEB - campus XII 2. Bolsista de Iniciação Científica da FAPESB 3. Profa. Dra. / Orientadora - UNEB Campus XII |
INTRODUÇÃO: |
Dentro do contexto escolar, o livro didático joga papel fundamental no desenvolvimento das práticas curriculares, principalmente porque se constitui no principal recurso didático a que professores e alunos das redes públicas e particulares têm acesso, além de ser responsável pela reprodução de conhecimentos que interferem diretamente na organização social, expondo mitos e moldando identidades e comportamentos. Mesmo que no Brasil se pregue o mito da democracia racial, ainda se verifica a distância entre discurso e prática no tocante à educação da cultura afrodescendente. Sabe-se que através da Lei 10639/03 tornou-se obrigatório a inclusão do ensino da cultura afro-brasileira e africana nos currículo das escolas do Brasil. Diante dessa questão, e já passados sete anos da Lei, surgiu o interesse em pesquisar se os livros de história do segundo ao quinto ano do ensino fundamental adotados nas escolas públicas do município de Guanambi/BA já abordam em seus conteúdos a cultura e a história africana. Nesta pesquisa, voltamos nossa análise para o livro de História, considerando que é na história que são erigidos os heróis e narrativas míticas capazes de construir representações e forjar um ideário, já que influi diretamente no imaginário social. |
METODOLOGIA: |
Para desenvolvimento desta pesquisa, foi realizado um estudo prévio das transmissões ideológicas, currículo e racismo presentes nos materiais didáticos. Vários autores foram estudados, como SILVA, Paulo Vinicius Baptista da; ROSEMBERG, Fulvia; SANTOS, Ana Katia Alves dos; ANDREWS, George Reid; SILVA, Ana Célia da, dentre outros. As contribuições teóricas desses autores foram de imprescindível relevância para o meu amadurecimento acerca do tema, pois me possibilitou contrastar as informações necessárias. Após esse estudo, foi realizada a aquisição dos referidos livros utilizados pela pesquisa e isso se deu através de um pedido encaminhado à Secretaria de Educação da cidade. Além dos livros, eles forneceram alguns dados específicos do Município, que eram essenciais para a produção, como, quantidade de alunos, escolas e senso escolar do município. Também foi realizado uma busca de dados pelo site do IBGE, em que obtivemos informações acerca da população local. Após a revisão da literatura e já com posse dos livros necessários foi desenvolvido a análise documental e esta possibilitou toda a compreensão do estudo. Posteriormente, foi realizado a análise de conteúdo, que consistiu na obtenção e interpretação dos dados da pesquisa e que resultou na aquisição das possíveis conclusões. |
RESULTADOS: |
O livro didático no Brasil é analisado desde a década de 1950, e já nessa época os autores perceberam que raramente se encontravam manifestações de racismo explícito, sendo que em muitos dos casos o “preconceito e a discriminação se apresentavam de forma velada ou implícita” (SILVA. 2008: 26) necessitando de um olhar mais apurado do observador. Nas décadas de 1980-90 as pesquisas evidenciaram a condição do negro na nossa sociedade. Retratados nos livros didáticos, nos textos e nas ilustrações, os negros se apresentavam como subalternos, em condições depreciativas, exercendo profissões de menor prestígio social, sua aparência associada à animalidade, sujo, mal vestido e nunca exercendo função principal (SILVA. 2008). Mas, a partir da década de 1990, as pesquisas demonstraram que mudanças significativas vêm ocorrendo nos textos didáticos e isso se sucede porque o governo, ONG’s, Movimento Negro e sociedade civil, passaram a exigir adequações. Mas, tudo isso ainda demonstra ineficácia, pois ainda existe “a invisibilidade e a reduzida representação do negro no livro didático” (SILVA. 2005:23). Não se pode esquecer de que o racismo é dinâmico e ele se ajusta às diversas transformações sociais. Dessa forma, se torna urgente a reestruturação dos livros didáticos de história, para que os negros possam se reconhecer como produtores de história e agentes presentes na nossa sociedade. |
CONCLUSÃO: |
Foram significativas as conclusões obtidas com o desenvolvimento dessa pesquisa. Ao iniciar os estudos ficou perceptível que o livro didático trabalha numa ótica de que “a infância é pensada enquanto construção social, mas essa construção é montada a partir das novas formas de falar, pensar e sentir dos adultos em relação ao que fazer com ela” (ARIÈS. 1981 apud SANTOS. 2006:33). Entende-se assim, que o livro trabalha no sentido de manter as hierarquias existentes, ao tender-se para o “universalismo, ao tratamento generalizante, que não oferece espaço para a diferença, para manifestações culturais outras, além das brancas” (ANA SILVA, 2001:158 apud SILVA 2008: 34). Dessa forma, a criança interioriza a cultura branca e acredita que a realidade existente sempre foi essa e que não há necessidade de mudança, pois a invisibilidade dos negros nos livros didáticos e na história contada por “eles” perpetua a crença no não racismo, já que o mesmo não se encontra explicitamente. É imprescindível a construção de um novo olhar, para que se possam detectar as ações presentes nos livros, desvendando suas intencionalidades. Não se pode esquecer-se das enormes contribuições da cultura negra na nossa sociedade, e relatar isso no livro didático é vital para a construção de uma sociedade igualitária. |
Palavras-chave: livro didático, currículo, discriminação étnico-racial. |