63ª Reunião Anual da SBPC |
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 1. Lingüística Aplicada |
CENAS DE SALA DE AULA: UMA PROPOSTA DE REFLEXÃO CRÍTICA COLABORATIVA COM PROFESSORES DE LÍNGUAS EM FORMAÇÃO INICIAL |
Morganny Ribeiro 1 Hélvio Frank de Oliveira 2 |
1. Curso de Letras (Português/Inglês), UEG Itapuranga 2. Prof. Me./ Orientador - Curso de Letras (Português/Inglês), UEG Itapuranga |
INTRODUÇÃO: |
Infelizmente, ainda hoje, muitos cursos de formação de professores de lingua(gens) têm, por quais sejam os motivos, se esbaldado de tecnicismo pedagógico no ato de desenvolver estratégias para ensinar línguas. Orientados, muitas vezes, por abordagens e/ou concepções tradicionais de ensino, muitos professores formadores e, consequentemente, professores em formação, têm apenas dado vazão a ações que representam, no ápice, aspectos iminentemente estruturais e metalinguísticos nesse ensino. Entretanto, sabemos que, para ensinar em sala de aula, o professor deve possuir outras competências além da linguístico-comunicativa. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é problematizar questões críticas que circundam o ensino de línguas, a partir das vozes coletivas dos professores em formação inicial, de modo a causar a reflexão crítica colaborativa motivada por teatralizações de algumas situações casuais vivenciadas em sala de aula. Para tanto, são feitos alguns questionamentos: Quais foram os pontos críticos levantados pelas encenações? O que elas causaram nesses professores? Que tipo de reflexões a partir de situações e questionamentos foram problematizadas durante as sessões colaborativas? Como foi instaurar esse tipo de reflexão crítica com professores de Letras? Quais os desafios? |
METODOLOGIA: |
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, cujo método utilizado, a pesquisa-ação crítico colaborativa, sugerida por Pimenta (2006), é caracterizada pela relação direta com seus participantes, a fim de que haja colaboração e mudanças emancipatórias durante o processo. Foi realizada com uma turma de dez alunos concluintes de um Curso de Letras (Português-Inglês) – professores em (trans)formação inicial – de uma universidade estadual pública de Goiás, durante quatro encontros previamente estipulados para a tarefa, ocorridos no primeiro bimestre de 2011. E utilizou, para a coleta de dados, a teatralização do ensino de línguas envolvendo questões críticas e relacionadas a temas polêmicos e recorrentes em situações de sala de aula, relacionados à homossexualidade, raça, classe social, etnias, religião, entre outros, com o intuito de provocar reflexões e análises sobre as temáticas abordadas. Tais discussões tencionaram a reflexão colaborativa e foram observadas com registro de notas de campo, gravadas em áudio e vídeo e, posteriormente, transcritas para apreciação e visualização dos dados. |
RESULTADOS: |
Os resultados indicaram a teatralização como dispositivo relevante para a reflexão crítica colaborativa de professores em formação inicial, confirmando sua viabilidade no contexto de pesquisa, além de uma proposta simpática, inovadora e desafiadora para um ambiente não acostumado com esse tipo de trabalho de reflexão. Os eventos encenados, envolvendo problemas socioeconômicos, preconceito racial, gênero, entre outras práticas discursivas, de certa forma, explorando situações recorrentes em salas de aulas sobre as quais os professores têm que agir de forma improvisada ao ensinar língua, causaram reflexões e oportunizaram discussões, conciliando tais práticas à teoria vista na licenciatura. Estabelecendo um viés significativamente colaborativo, essa proposta, que se encaixa em um dos reais sentidos da formação, garantiu aos professores orientações a respeito da prática real que viverão profissionalmente no futuro. E, consequentemente, os permitiu fazer avaliações, questionamentos sobre crenças e valores de sua abordagem com respaldo crítico, acima de tudo. Além disso, para essas situações bastante casuais (e os professores participantes compreenderam bem esse caráter singular presente nos eventos encenados) foram problematizados, ainda, possíveis encaminhamentos a serem tomados. |
CONCLUSÃO: |
Está claro que os professores trazem consigo crenças, conhecimento e valores para os bancos de formação. Em nosso caso, a reflexão crítica colaborativa fez com que os professores percebessem a existência da diversidade em sala de aula e trouxe, ainda, suas orientações sobre como lidar com essas recorrentes situações na prática escolar, respaldadas pela teoria. Eles perceberam a necessidade de conciliar teoria e prática, variar ações para cada caso e contexto. Além disso, os professores puderam confrontar a leitura teórica com sua própria leitura de mundo, absorvida de acordo com as experiências. Por fim, eles perceberam que esse espaço microssocial de ensino se torna uma “arena de conflitos” à medida que práticas discursivas dos agentes envolvidos (alunos e professores, no mínimo) variam conforme sua bagagem sociocultural, política, ideológica, histórica, entre outras. Mais do que dominar o conteúdo, eles compartilham a ideia de que é preciso se ater às várias manifestações que circundam o contexto de ensino, questionar as práticas discursivas instaladas nesses ambientes, problematizá-las, tendo em vista que ensinar línguas é um ato político. Desse modo, suas reflexões passaram a levar em consideração aspectos além da língua na efetivação da profissionalização de um professor. |
Palavras-chave: Formação de professores de línguas, Teatralização do ensino, Reflexão crítica colaborativa. |