63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 6. Educação Especial
INCLUSÃO/EXCLUSÃO: A PRÁXIS EM UMA BRINQUEDOTECA PÚBLICA DE BELÉM
Adriane Giugni da Silva 1,2
Lilian Cristina Santos Araújo 2
1. Profa. Dra./Líder/Coordenadora do Grupo de Pesquisas Políticas Públicas, Educação e Inclusão Social – GPPEIS/UEPA
2. Grupo de Pesquisa e Políticas Públicas, Educação e Inclusão Social – GPPEIS/UEPA
INTRODUÇÃO:
A presente pesquisa objetivou examinar uma brinquedoteca pública de Belém a fim de investigar o processo dialético inclusão/exclusão, vivenciado com crianças na faixa etária entre 8 a 12 anos de idade, mediado pela práxis educativa, entendida como atividade lúdica, livre, criadora e autocriadora. A práxis lúdica neste estudo perpassa por uma formação educativa diferenciada, pois visa oferecer aos partícipes uma responsabilidade social que vai além da diversão e do lazer, a fim de romper com o brincar descomprometido com o real, comumente reproduzido nas brinquedotecas. Nessa perspectiva, o exame da brinquedoteca como espaço inclusivo por meio da práxis é relevante, uma vez que proporciona uma educação diferenciada omnilateral, tanto aos profissionais atuantes na brinquedoteca, quanto aos indivíduos envolvidos no processo ensino-aprendizagem, rompendo-se com a formação limitada do capital que submete os sujeitos a sua vontade. O brincar nesse contexto atinge variados aspectos da formação do ser social, com expressões nos campos da moral, da ética, do fazer prático, da criação intelectual, artística, da afetividade, da sensibilidade, da emoção, enfim da cultura, rompendo com a formação unilateral, com o individualismo e o caráter exclusivo presentes no contexto capitalista.
METODOLOGIA:
Este estudo foi realizado por meio de uma abordagem qualitativa, mediante um estudo de caso descritivo. Procedeu-se também pesquisa bibliográfica, fundamentada em autores como: Kishimoto (1997), Snyders (1981, 1988, 1993), Bottomore (1988), Wajashop (2007), Freire (1987), entre outros. Isso possibilitou o aprofundamento teórico necessário à análise da realidade investigada. Para a coleta de dados fez-se uso de técnicas como questionários, entrevistas, além da observação participante, que propiciaram examinar a práxis das brinquedistas nas atividades desenvolvidas, com o fito de verificar se ela auxiliava a formação omnilateral das crianças como sujeitos críticos-criativos, promovendo sua efetiva inclusão social. Concomitante a isso foram examinados: o material didático-pedagógico utilizado, o espaço-físico, assim como o planejamento e a práxis desenvolvida pelas brinquedistas no processo. Procederam-se também o registro formal e fotográfico das atividades realizadas, do espaço disponível, do mobiliário e dos equipamentos didático-pedagógicos, utilizados ou colocados à disposição das brinquedistas. Os dados coletados foram transcritos, cruzados, analisados, interpretados e registrados de forma fidedigna, a fim de possibilitar a apresentação dos resultados da pesquisa.
RESULTADOS:
A partir do cruzamento das informações e das análises procedidas detectou-se que a brinquedoteca investigada não possui uma prática comprometida com a educação crítica e como consequência não promove a formação omnilateral das crianças envolvidas no processo, haja vista que as brinquedistas, na referida brinquedoteca, não implementam a práxis lúdica como orientação da formação e da qualificação de tais sujeitos, de modo a torná-los críticos, criativos, autocriativos. No decorrer da observação participante detectou-se que as atividades lúdicas planejadas e executadas visam apenas o brincar descomprometido, dissociado de uma formação educativa omnilateral. Nesse contexto, percebeu-se que o lúdico, no lócus investigado, não é valorizado, uma vez que as brinquedistas não o compreendem como atividade pedagógica, fato este que denota a precarização da formação das mesmas para o exercício da função. A brinquedoteca, nesta perspectiva, não promove a inclusão dos indivíduos envolvidos no processo ensino-aprendizagem, mediante atividades didático-pedagógicas lúdicas e cooperativas, visto que as brinquedistas entendem esse espaço apenas como ambiente de convivência, socialização, divertimento e de lazer, portanto não visa à educação crítico-criativa do sujeito social.
CONCLUSÃO:
Conclui-se com esta pesquisa que o trabalho desenvolvido em uma brinquedoteca pode assumir a real função proposta pela práxis social de brincar, que se constitui na “[...] atividade livre, universal, criativa e autocriativa, por meio do qual o homem cria, (recria), constrói e transforma seu mundo humano, histórico e a si mesmo” (BOTTOMORE, 1988). Entretanto, a educação capitalista é marcada pela individualidade e competitividade, geradores de exclusão em massa e inclusão seletiva, interferindo na educação das crianças, as quais perpetuarão os interesses de classe. Nesse contexto, a práxis lúdica deve ser valorizada e compreendida como estratégia para transformar essa realidade social, o que não se verificou na brinquedoteca investigada, pois a mesma não objetiva a educação omnilateral do sujeito social. O brincar não incitou as crianças investigadas a se apropriarem de um conhecimento reflexivo, crítico criativo, construtor de uma nova realidade para incluí-los. No entanto, entende-se que a cultura, associada ao trabalho lúdico e à conscientização social, é capaz de demolir, recusar e arruinar, renegar e reconstruir, pois é a partir do saber constituído que se consegue superá-lo e transformá-lo, tornando os indivíduos responsáveis por sua participação na vida coletiva e social.
Palavras-chave: Inclusão/Exclusão, Educação, Brinquedoteca.