63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 8. Antropologia
RITUDE ENÁRI - A OFICINA DO SABER: CONHECIMENTO E DEBATE INTERÉTNICO
Arali Maiza Parma Dalsico 1
Antonio João de Jesus 2
1. Historiadora /Mestre em Educação/Presidente da ASAMUR
2. Técnico Indigenista – Museu Rondon/UFMT/Diretor Executivo da ASAMUR
INTRODUÇÃO:
Neste artigo apresentamos as ações didático-educativas do Projeto “Ritude Enári - a Oficina do Saber”, financiado pelo Programa Petrobras Cultural e desenvolvido pela ASAMUR - Associação de Amigos do Museu Rondon, em oito escolas de três municípios de Mato Grosso: Cuiabá, Santo Antonio de Leverger e Várzea Grande, realizado de agosto a novembro de 2009, com objetivos de:
a) Oferecer cursos, palestras, debates, exposição de cultura material indígena, mostra de vídeos e informes dos aspectos culturais de vários povos indígenas e dos ecossistemas de Mato Grosso;
b) Constituir no Museu Rondon um ponto de encontro entre índios e comunidade mato-grossense, tornando-o um veículo de reflexão da realidade indígena e ambiental;
c) Provocar o diálogo para possibilitar a mudança dos estereótipos que se tem das sociedades indígenas, principalmente quando os jovens indígenas estão, nas cidades, frequentando as escolas de Ensino Fundamental, Médio e Superior;
d) Provocar o debate sobre a forma como o currículo escolar trata os povos indígenas, apresentando o índio como uma figura do passado, adotando “chavões” como: “os índios eram...”, “índios estavam...”.
METODOLOGIA:
A escolha das escolas e datas ocorreu através de aceitação da direção e coordenação pedagógica das escolas conforme o calendário letivo.
No Projeto Ritude Enári foram oferecidas simultaneamente, num mesmo espaço físico, de forma dinâmica e interativa:
- Exposição de Cultura Material Indígena com visitas guiadas, expondo: artefato ritual mágico, utensílios, instrumentos musicais, armas, tecelagens, material lúdico;
- Mostra de Vídeo e Palestras com Temática Indígena e Ambiental de acordo com a idade do público alvo;
- Oficinas de Grafismo Indígena em Cerâmica, em Máscaras e Corporal: nestas oficinas os índios Umutina demonstraram a importância e o significado desses grafismos, onde e como aplicá-los. Inicialmente os participantes eram orientados pelos índios para aplicar o traçado escolhido em papel rascunho, depois nos suportes adequados como o corpo, os vasos e pratos cerâmicos, e suporte de madeira onde foram montadas as máscaras indígenas.
Quanto à questão ambiental, houve a participação da Coordenação Estadual de Combate e Prevenção a Incêndios (Corpo de Bombeiros/MT), envolvendo os alunos e a comunidade do entorno.
As Escolas também apresentaram seus projetos como: banda marcial, coral, dança espanhola, country, street dance, hip hop, siriri, cururu e bloco de carnaval.
RESULTADOS:
O diferencial básico deste projeto se deve ao fato de que as Oficinas de Grafismo Indígena e Contação de Histórias foram ministradas pelos próprios índios, trazendo uma maior aproximação entre a comunidade escolar e a etnia indígena Umutina, assim, o índio foi interlocutor de sua história, buscando na presença físico-cultural com a sociedade estudantil mato-grossense uma interação menos conflituosa.
As histórias míticas da cultura indígena Umutina, contadas aos estudantes e discutidas com eles, trouxe à tona a curiosidade sobre a forma de morar, vestir, comer, enfim, o cotidiano da aldeia. Assim, as oficinas tornaram-se pretexto para que os alunos quebrassem a barreira cultural interagindo com a cultura do povo Umutina.
Ao final do Projeto foram atendidas onze escolas, considerando as escolas visitantes, num total de quatro mil e catorze alunos envolvidos, sem contabilizar a participação da comunidade do entorno das instituições escolares que também visitou a Exposição de Cultura Material Indígena, participou da Mostra de Vídeo e das palestras, e assistiu as apresentações culturais.
CONCLUSÃO:
O Museu Rondon/ASAMUR através do projeto “Ritude Enári - A Oficina do Saber” se propôs gerar conhecimento intervindo no debate interétnico regional para constituir no Museu Rondon um ponto de encontro entre índios e comunidade mato-grossense, adquirindo um novo papel no imaginário popular como agente educacional, divulgador cultural e espaço de lazer.
Isso se deve à sua postura em ser uma instituição de educação popular deste a sua fundação (1972), tornando-se um veículo de reflexão, ampliando o universo das relações entre índios e não-índios, possibilitando um maior número de aliados a causa indígena e ambiental. Contribuindo assim, não apenas ao sistema formal de aprendizagem, mas igualmente para o resgate e aprimoramento de atividades, valores e padrões comportamentais, produzindo conhecimento e instigando o debate interétnico, principalmente, quando os jovens indígenas estão, nas cidades, frequentando instituições de Ensino Fundamental, Médio e Universitário.
A primeira intenção do projeto “Ritude Enári - a Oficina do Saber” foi provocar e instigar o contato e o diálogo entre índios e não-índios, possibilitando a mudança dos estereótipos que se tem das sociedades indígenas. Mas, se efetivamente esta mudança ocorrerá, só o tempo e a história nos responderão.
Palavras-chave: Comunidade escolar, Interação, Sociedade indígena.