63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 5. Sociologia Rural
NEGRINHA: A QUESTÃO RACIAL DE MONTEIRO LOBATO NA DÉCADA DE 1920
Luciana Meire da Silva 1
Célia Aparecida Ferreira Tolentino 2
1. UNESP campus de Marília/SP Programa de pós-graduação em Ciências Sociais
2. Prof. Dra/Orientadora – Depto de Sociologia e Antropologia UNESP Marília/SP
INTRODUÇÃO:
O pensamento social de Monteiro Lobato (1882 – 1948) é pouco estudado para o nível de sua popularização, embora seja comum o reconhecimento de que seus escritos influenciaram a indústria, a política e, marcadamente a produção cultural brasileira. Os vários dados concretos sobre vendagem de livros demonstram que Monteiro Lobato sempre foi sucesso de vendas, portanto, de público. Intelectual engajado, discutiu através da sua obra todas as grandes questões que foram debatidas na sociedade brasileira entre as décadas de 1910 a 1940.
METODOLOGIA:
Estudamos a obra Negrinha, publicada em 1920, na perspectiva de pensá-la como uma crônica social do Brasil escravista e da posição de Lobato em relação à escravidão e à questão racial. Entendemos que Monteiro Lobato não se propôs a ser “sociólogo” como Alberto Torres, Oliveira Viana, entre outros. Nossa análise buscou em seus contos e crônicas uma “sociologia” do Brasil rural da década de 1920. Foi possível visualizar os parâmetros e o instrumental analítico produzidos pelo autor para pensar o país presente e futuro.
RESULTADOS:
Lobato viveu a transição no Brasil do trabalho escravo para o livre, tinha seis anos de idade quando a Abolição ocorreu. Como narrador da República e pensador social preocupado com os destinos do país ele traz para o debate nacional a sua visão da sociedade nos finais do século XIX e início do século XX, mostrando que esta convivia com as heranças do escravismo de modo complicado. As relações sociais entre brancos e negros neste período são intermediadas pela economia predominantemente rural, na qual predomina a mentalidade patriarcal autoritária, colonial e escravocrata. A personagem “Negrinha” é descrita como uma criança órfã de sete anos, descendente de escravos e o seu lugar no mundo dos brancos é permanecer quieta em um canto na sala ao pé de dona Inácia, “num desvão da porta”. Era proibida de ir ao quintal brincar, sob o pretexto de estragar as plantas da matriarca fazendeira, passava fome, frio sem ninguém para prestar-lhe socorro. Lobato questiona as maldades da Dona Inácia nas relações com a menina descendente de escrava, sob um olhar específico que reafirma o lugar do negro como subalterno na sociedade pós-Abolição.
CONCLUSÃO:
A idéia que surge em Negrinha é de que o Brasil rural das primeiras décadas do século XX não alcançaria a tão almejada modernidade propagada pelo regime republicano principalmente no que diz respeito à observação dos direitos civis dos cidadãos, porque prevalecem as heranças das formas culturais, estrutura de pensamento e de sociabilidade produzidas na sociedade agrária colonial e escravocrata. Os negros africanos, tidos como “agentes de trabalho escravo” foram libertos em 1888, mas ficaram sem uma participação social de fato como libertos. A ética moral autoritária e severa da aristocracia agrária prevalece nas relações sociais vividas com os ex-escravos e seus descendentes, entendidos como negros e mestiços, nesse Brasil rural da década de 1920.
Palavras-chave: Pensamento social brasileiro, Questão racial em Monteiro Lobato, Tradição e Modernidade.