63ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 3. Ecologia Terrestre
DIFERENÇAS NA CAMADA DE SERAPILHEIRA EM AMBIENTES DE CERRADÃO (DEGRADO E NÃO DEGRADADO) NO LESTE MATOGROSSENSE.
Pábio Henrique Porto 1
Ben Hur Marimon-Junior 2
Carlos Kreutz 1
Oriales Rocha Pereira 1
1. PPG em Ecologia e Conservação, Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT
2. Prof.Dr./Orientador - PPG em Ecologia e Conservação – UNEMAT
INTRODUÇÃO:
O cerradão é uma das fitofisionomias florestais do Bioma Cerrado, apresentando composição florística que pode variar conforme a fertilidade e textura do solo. Em solos distróficos, grande parte dos nutrientes está presente na biomassa, ocorrendo forte interação entre a vegetação e o solo por meio da ciclagem de nutrientes, onde a camada de serapilheira é um importante compartimento. Nesses ecossistemas, a produtividade depende da quantidade de nutrientes armazenados em seus vários compartimentos e também a sua taxa de transferência, onde, por meio do processo de decomposição, a camada de serapilheira libera para o solo elementos minerais que as plantas utilizam, desempenhando, assim, um papel fundamental na circulação de nutrientes e nas transferências de energia entre os níveis tróficos. A forma e estrutura da vegetação podem levar a diferentes velocidades de decomposição da serapilheira, uma vez que as condições microclimáticas podem diferir conforme variam estes parâmetros. O presente estudo teve como objetivo comparar a camada de serapilheira entre um cerradão degradado e outro não degradado no Parque do Bacaba em Nova Xavantina – MT. Hipotetizou-se que a degradação do cerradão afeta este compartimento de forma significativa, com possíveis reflexos na ciclagem de nutrientes.
METODOLOGIA:
O estudo foi conduzido em uma área de cerradão no Parque do Bacaba (14°42' S e 52°21' W), em Nova Xavantina, Mato Grosso. O clima da região é do tipo Aw de Köppen. A coleta da serapilheira foi realizada com o auxílio da ferramenta coletor-medidor Marimon-Hay (Marimon-Junior & Hay 2008), específica para esta finalidade, proporcionando precisão e rapidez na coleta das amostras. A ferramenta é constituída de duas partes, sendo uma utilizada para coletar a amostra e outra para determinação da espessura da camada de serapilheira. Foram coletadas 30 amostras aleatórias em cerradão degradado e 30 em cerradão não degradado. Ainda em campo foi verificada a espessura através do coletor Marimon-Hay. Em seguida, as amostras foram levadas ao laboratório de Ecologia Vegetal, onde foram verificados os parâmetros de umidade e biomassa conforme protocolo sugerido por Marimon-Junior & Hay (2008). As amostras foram pesadas para verificação do peso úmido e acondicionadas em sacos de papel, para secagem em estufa a 80°C até peso constante. As amostras foram pesadas novamente para a determinação da biomassa (peso seco) e teor de umidade. Os parâmetros foram comparados entre as duas áreas através de teste t, e as análises estatísticas foram realizadas com auxílio do programa estatístico R.
RESULTADOS:
A umidade, espessura e biomassa da camada de serapilheira do cerradão não degradado foram significativamente maiores que do cerradão degradado (p<0,001). A umidade na camada de serapilheira maior na área de cerradão não degradado pode estar ligada diretamente às condições microclimáticas, pois o cerradão tem copa mais fechada, diminuindo o efeito dos ventos e da insolação direta no ambiente, o que contribui para a redução da temperatura e elevação da umidade relativa do ar no interior da mata, diminuindo a perda de água da camada de serapilheira. Alguns autores ressaltam que áreas perturbadas em estádio inicial de regeneração possuem menor produção de serapilheira (consequentemente menor acúmulo) do que aquelas em estádio mais avançado, padrão esse, que pode ter acontecido no presente estudo, onde o cerradão não degradado apresentou maior biomassa e espessura da camada de serapilheira que o cerradão degradado. Em outras palavras, a camada de serapilheira encontrada no piso florestal de uma área vai depender primeiramente da produtividade da comunidade de plantas, podendo influenciar também nas mudanças no ambiente físico, como alterações na disponibilidade de nutrientes, na temperatura do solo e na disponibilidade de luz.
CONCLUSÃO:
Em ambientes onde a camada de serapilheira apresenta maiores biomassa, espessura e umidade podem ser encontradas condições mais favoráveis para o estabelecimento da biota deste compartimento, isso faz com que o processo da ciclagem de nutrientes ocorra com maior eficiência, influenciando positivamente nos ciclos biogeoquímicos. Portanto, é de fundamental importância que em ambientes tropicais as vegetações florestais não sofram influências antrópicas sobre a sua estrutura, permitindo assim que fatores fundamentais para os ciclos biológicos estejam em arranjo natural, sem interferências que levem a uma nova estrutura, evitando perdas na biodiversidade tropical.
Palavras-chave: Cerrado, Ciclos Biogeoquímicos, Marimon-Hay.