63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 11. Ensino-Aprendizagem
OS PROCESSOS DE REFACÇÃO DE NARRATIVAS: DO ORAL AO ESCRITO
Aida do Amaral Antunes 1
Andreza de Souza Fernandes 1
Josiane Silveira Coimbra 1
Suzana Lima Vargas 2
1. Depto. de Educação, Fac. de Educação, Universidade Federal de Juiz de Fora
2. Profa. Dra./ Orientadora - Depto de Educação – UFJF
INTRODUÇÃO:
A pesquisa "Processos de escrita, revisão e reescrita de textos por alunos do ensino fundamental”, situada no âmbito do Projeto FAPEMIG Laboratório de Alfabetização, desenvolvido na FACED/UFJF, tem como objetivo investigar as operações linguísticas e epilinguísticas realizadas nos diferentes momentos da produção textual. Trata-se de uma pesquisa de intervenção com alunos da rede pública de Juiz de Fora, na faixa etária dos 10 aos 14 anos com histórico de fracasso escolar. Os dados são obtidos nos atendimentos pedagógicos do Laboratório de Alfabetização (FACED/UFJF), coordenados por professoras-bolsistas dos cursos de Letras e Pedagogia, realizados em dois encontros semanais de 120 minutos.
Os objetivos do pôster são:
- discutir os processos de planejamento, escrita, revisão e reescrita, construídos durante a produção de narrativas escritas elaboradas por alunos do quarto e quinto ano do ensino fundamental;
- analisar a presença das marcas coesivas da oralidade na construção de narrativas escritas.
METODOLOGIA:
O corpus que possibilitou a análise é um recorte transversal do banco de dados da pesquisa longitudinal “Processos de escrita, revisão e reescrita de textos por alunos do ensino fundamental”, tendo sido constituído por 20 horas de gravação em vídeo, 04 diários das professoras-bolsistas, 45 produções escritas e 45 reescritas elaboradas pelos alunos nos atendimentos pedagógicos do LABOALFA. A perspectiva metodológica da pesquisa está relacionada tanto ao paradigma indiciário (GINZBURG, 1989), quanto aos procedimentos da crítica genética (SALLES, 2000; GRÉSILLON, 1994).
A crítica genética constrói hipóteses sobre a gênese de uma escritura e o paradigma indiciário é um modelo epistemológico fundado no detalhe, no episódico, em que a atenção do investigador deve voltar-se para a observação do idiossincrático, do singular, de tal maneira que formule hipóteses explicativas interessantes a respeito de uma realidade complexa, não experienciável diretamente. (ABAURRE, MAYRINK-SABINSON e FIAD, 1998)
A análise dos dados apoiou-se nos pressupostos da concepção sócio-histórica de linguagem, que atribui à linguagem e à interação o papel de instrumentos essenciais na construção do conhecimento e na formação dos indivíduos. (BAKHTIN, 1976).
RESULTADOS:
A análise indiciária das produções textuais revelou que, na maioria dos textos, a coesão na narrativa escrita foi estabelecida pelo uso de organizadores textuais continuadores típicos da fala (e, mas, aí, então) frequentemente empregados para indicar nova unidade de ideia. Também foi observada grande incidência de justaposição de enunciados sem qualquer marca de conexão explícita. Os processos interlocutivos entre as professoras e os alunos a respeito da presença de marcas coesivas da oralidade na narrativa escrita foram decisivos nas atividades reflexivas e na tarefa de reescrever o texto. A repetição que, do ponto de vista da professora, poderia ser considerada um problema, era do ponto de vista do aluno, em determinada fase da sua escrita, algo muito necessário, pois resolvia problemas de coesão referencial. Outros problemas de referenciação foram solucionados pelos alunos na reescrita com a atribuição de nomes ou adjetivos para designar personagens ou por meio do acréscimo de segmentos com informações contextuais não presentes nas primeiras narrativas escritas, o que resultou na expansão textual.
CONCLUSÃO:
A análise das narrativas escritas e sua reescrita mostrou o quão se fez presente as marcas coesivas da oralidade nos textos dos aprendizes que ainda se encontravam no processo de aquisição da linguagem escrita. A construção do conhecimento acerca das regras de organização da narrativa escrita exigiu a constituição de comportamentos específicos, de formas de ação e de interação que os alunos não dispunham ainda em seu repertório. Desta forma, foi significativa a influência da intervenção do professor, junto ao aluno, através das reflexões pontuais que visavam modificar as representações dos sujeitos sobre a escrita e definir o que precisava ser melhorado nos textos. Quanto a isso, lembramo-nos de Bakhtin (1976) quando destaca que a experiência verbal do sujeito evolui sob o efeito da interação contínua e permanente com os enunciados alheios, acontecimento demonstrado na análise das narrativas escritas.
A reescrita também se mostrou um processo reflexivo eficiente no decorrer deste trabalho, uma vez que possibilitou ao aprendiz perceber as diferenças entre as duas modalidades da língua e que dentre os recursos disponíveis na fala e na escrita, existem aqueles que dado o contexto e o cotexto são necessários no sentido de possibilitarem uma compreensão apropriada da narrativa escrita.
Palavras-chave: Refacção textual, Linguagem oral, Linguagem escrita.