63ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 4. Ecologia
VARIAÇÃO TEMPORAL E EFEITO DO FOGO NA DENSIDADE E DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE TRÊS ESPÉCIES ARBÓREAS EM UM CERRADÃO NO PARQUE DO BACABA, NOVA XAVANTINA, MT
Mônica Forsthofer 1
Mariângela Fernandes Abreu 2
Letícia Gomes da Silva 2
Simone Matias de Almeida Reis 2
Fernando Elias da Silva 3
Bianca de Oliveira 3
1. Bióloga UNEMAT-NX
2. Mestranda no Programa de Pós-graduação Ecologia e Conservação – UNEMAT-NX
3. Graduandos em Ciências Biológicas - UNEMAT
INTRODUÇÃO:
Em uma comunidade vegetal, as plantas encontram-se arranjadas conforme resultado de diversos fatores abióticos, como o fogo, e fatores bióticos, como espécies competidoras, sendo que algumas das variáveis encontradas podem ser capazes de afetar o padrão de distribuição natural das espécies na comunidade. Os fatores abióticos e bióticos dimensionam o padrão espacial das espécies, que pode ser agrupado, quando os indivíduos estão próximos; aleatório, com indivíduos distribuídos ao acaso e uniforme, quando há intervalos regulares entre eles. O estudo de uma população fornece informações básicas, sobre tudo referente a mudanças na densidade e distribuição das espécies. No bioma Cerrado o cerradão é uma das fitofisionomias mais ameaçadas pelo avanço das atividades agropecuárias. Na zona de transição entre os biomas Cerrado e Floresta Amazônica, na porção leste de Mato Grosso, ocorrem dois tipos de cerradão, mesotrófico e distrófico. O segundo tipo caracteriza-se por apresentar solos com menores concentrações de bases trocáveis. O objetivo do presente estudo foi avaliar a variação temporal e o efeito do fogo na densidade e distribuição espacial de três espécies (Xylopia aromatica, Matayba guianensis e Siparuna guianensis) típicas do cerradão distrófico na região leste de Mato Grosso.
METODOLOGIA:
O estudo foi realizado em uma área de cerradão localizada no Parque do Bacaba, em Nova Xavantina, Mato Grosso, nas coordenadas 14°42’02,3”S e 52°21’02,6”W. O cerradão estudado ocorre em uma área de aproximadamente 15 ha, com perturbação recente (fogo acidental) em setembro de 2008. Para a coleta dos dados adotou-se o método de parcelas permanentes com 50 unidades amostrais de 10x10m que foram estabelecidas em 2002. Para determinar e comparar a distribuição espacial das três espécies analisadas foram utilizadas as informações de densidade registradas nas parcelas nos anos de 2002, 2005 e 2010, com limite mínimo de inclusão DAS > 5cm. A distribuição espacial foi calculada com o uso do programa SADIEShell 1.2. Segundo o Índice de Agregação (IA), valores > 1 indicam distribuição agregada, < 1 distribuição regular e = 1 distribuição aleatória. Para a comparação do número de indivíduos das três espécies por parcela em cada ano utilizou-se do teste Kruskal-Wallis, com o uso do programa BioEstat 5.0.
RESULTADOS:
Não houve diferença significativa para a densidade de X. aromatica entre os anos de 2002 e 2005 (69 e 77 indivíduos, respectivamente), ao contrário dos anos de 2005 e 2010 (77 e 45 indivíduos) que apresentaram diferença significativa (H = 8.8403; p = 0,012), mostrando-se suscetível ao fogo com a redução do número de indivíduos. Já as espécies M. guianensis com 31; 37 e 25 indivíduos e S. guianensis com 6; 19 e 22 indivíduos, não apresentaram diferenças significativas para a densidade entre os três anos (H = 1.6667; p = 0,4346 e H=3.6904; p=0.158, respectivamente). Neste caso, essas duas espécies mostraram-se mais resistentes às queimadas. Nos levantamentos de 2002 e 2005 as três espécies apresentaram distribuição espacial homogênea, mas como o resultado não foi significativo considera-se que sua distribuição não é diferente do aleatório (X. aromatica: IA=0,998; IA=0,783, S. guianensis: IA=0,783; IA=0,887 e M. guianensis: IA=0,944; IA=0,92, respectivamente), já no ano de 2010 essas espécies mostraram-se com distribuição agregada (X. aromatica: IA=1.562, S. guianensis: IA=1.175 e M. guianensis: IA=1.779). No Cerrado brasileiro, várias espécies vegetais tem mostrado esse padrão de distribuição espacial em diferentes escalas e localidades.
CONCLUSÃO:
O fogo pode diminuir a densidade de algumas espécies, como ocorreu em X. aromatica, que apresentou redução do número de indivíduos. Por outro lado, pode ainda favorecer o estabelecimento ou o desenvolvimento de outras espécies que são mais resistentes ao fogo ou ainda se beneficiem com abertura de clareiras. As espécies de M. guianensis e S. guianensis se podem ter sido mais resistentes ao fogo ou beneficiadas por ele, pois apresentaram uma elevação no numero de indivíduos após a passagem do fogo. Áreas queimadas modificam a dinâmica e a estrutura das populações, como verificado pelo padrão de distribuição espacial das três espécies no presente estudo. Dessa forma espera-se que a competição interespecífica seja maior nesse ambiente, pois leva as populações a apresentarem padrões espaciais cada vez mais agregados.
Palavras-chave: Cerradão, Estrutura populacional, Queimadas.