63ª Reunião Anual da SBPC |
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 4. Literaturas Modernas |
METÁFORA E AGUDEZA NOS SONETOS DE VIOLANTE DO CÉU |
Isaac Silva Porto 1 Cássio Roberto Borges da Silva 2 |
1. Departamento de Estudos Linguísticos e Literários - UESB 2. Prof. Dr. / Orientador - Departamento de Estudos Linguísticos e Literários - UESB |
INTRODUÇÃO: |
Este trabalho dedica-se ao estudo dos sonetos de Violante do Céu incluídos na Fênix Renascida, a principal antologia poética produzida em Portugal em princípios do século XVIII. Ao reunir os mais representativos modelos lusitanos de matriz gongórica, a Fênix conserva um acervo importantíssimo para a compreensão dos padrões discursivos que caracterizam o seiscentismo português e, nesse conjunto, a poesia de Violante do Céu ocupa um lugar de destaque. Apesar de sua inquestionável relevância para os estudos dedicados às práticas de representação letrada que estiveram em vigência, em domínios portugueses, durante o século XVII, os trabalhos sobre a poesia de Violante do Céu são ainda escassos, assim como as edições modernas de sua obra, sendo assim, esta pesquisa representa uma iniciativa inovadora no âmbito dos estudos literários. |
METODOLOGIA: |
A metodologia empregada associa a análise exaustiva do corpus selecionado ao estudo dos discursos normativos que, na península ibérica, efetuam a releitura das técnicas greco-latinas de composição retórico-poética. Empenhamo-nos, portanto, em primeiro lugar, na produção de paráfrases de todos os sonetos atribuídos à freira dominicana na Fênix Renascida e, posteriormente, dedicamo-nos ao estudo da Agudeza y Arte de Ingenio de Baltasar Gracián, considerando, por um lado, as matrizes antigas que teriam circulado na península durante o período estudado, por outro, a bibliografia atual sobre o tema. Procuramos, assim, fundamentar o conhecimento do modelo investigado nos empregos discursivos coetâneos, examinando, ademais, os principais posicionamentos da crítica atual em relação às práticas letradas do XVII. |
RESULTADOS: |
Nas Artes de Engenho, o procedimento analógico enigmático, descrito pela retórica antiga como urbanidade, passa a desempenhar um papel nuclear, uma vez que, ali, o “ornato dialético” é tratado como “ato máximo do entendimento humano”. De acordo com Gracián, os enunciados agudos, enquanto operação da faculdade inventiva do engenho, mobilizam basicamente duas qualidades: a perspicácia, que permite a intelecção de conceitos recônditos, e a versatilidade, que favorece o ajuste eficaz às circunstâncias de enunciação, produzindo, assim, efeitos extraordinários de sentido. O pressuposto elementar que sustenta a argumentação do jesuíta funda-se em uma relação de proporcionalidade entre a complexidade do conceito enunciado e a veemência do artifício de enunciação, valorizando, portanto, o uso discursivo das aporias, encaradas, então, como crivo de auditórios. A poesia de Violante do Céu, na esteira do modelo gongórico, incorpora radicalmente os modos aristocráticos da invenção aguda. |
CONCLUSÃO: |
O estudo mostra que os sonetos de Violante do Céu colocam em cena uma postura discreta, favorecendo o emprego de padrões de elocução regularmente complexos. Assim, do ponto de vista historiográfico, o trabalho demonstra a relevância das investigações pautadas pelo estudo da preceptiva coetânea, uma vez que a apreensão dos valores de uso que especificam as técnicas seiscentistas de composição poética denuncia a fragilidade dos juízos de valor que, de modo impensado, continuam a classificar os empregos engenhosos como rebuscamento, como ornato supérfluo, como deformidade, como afetação, enfim, como barroco, rococó e outras generalizações do mesmo gênero. |
Palavras-chave: Metáfora, Agudeza, Seiscentismo. |