63ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 1. Enfermagem - 7. Enfermagem
O FAMILIAR DO PORTADOR DE TRANSTORNO MENTAL: PARTICIPAÇÃO NA TERAPÊUTICA NUM SERVIÇO SUBSTITUTIVO DE SAÚDE MENTAL DO INTERIOR DE MATO GROSSO.
Julian Rafael Faoro 1
Paulo Anderson Neves Sousa 2
Luciana Grolli 1
Elionai dos Santos Silva 2
Alan Cardec Barbosa 1
Queli Lisiane Castro Pereira 3
1. Enfermeiro. Pós graduando em Saúde Pública pela Faculdade Montes Belos.
2. Enfermeiro. Graduado pela Universidade Federal de Mato Grosso.
3. Enfermeira. Pós graduanda em Saúde Pública pela Faculdade Montes Belos.
4. Enfermeira. Graduada pela Universidade Federal de Mato Grosso.
5. Enfermeiro. Pós graduando em Saúde Pública pela Faculdade Montes Belos.
6. Enfermeira. Mestre em enfermagem. Professora do curso de enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso. Campus Universitário do Araguaia.
INTRODUÇÃO:
O familiar do usuário portador de transtorno mental desempenha um papel importante dentro do processo de desinstitucionalização. Navarini e Hirdes (2008), afirmam que não se pode desvincular o indivíduo do meio em que vive, uma vez que a família, como grupo, impede, suporta e reforma problemas de saúde. Desse modo, não se pode desvincular a doença do contexto familiar e por ser um elemento tão indispensável, a família deve ser compreendida como uma aliada da equipe de saúde, atuando como um recurso na promoção do conforto, para o paciente adquirir confiança e, assim, investir na sua manutenção e recuperação. A experiência de ter um membro da família com doença mental mobiliza esta família como um todo no seu dia-a-dia, independente da forma como ela vem se constituindo, em razão de ser muito difícil necessitar desse familiar e ele não poder colaborar no cotidiano familiar. Buscamos nesse estudo verificar a participação dos familiares dos usuários portadores de transtorno mental, no cuidado e nas atividades desenvolvidas por um serviço substitutivo de saúde mental do interior de Mato Grosso.
METODOLOGIA:
O corpus do estudo original é de abordagem qualitativa, do tipo exploratório e descritivo. O estudo foi realizado em um Hospital-dia de um município do estado de Mato Grosso. Participaram do estudo treze profissionais do referido Hospital-Dia. O trabalho foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Júlio Muller (HUJM) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) para a avaliação e aprovação. Esse foi analisado e aprovado em reunião realizada no dia 09 de setembro de 2009, sob n° 689/CEP- HUJM/09. Garantiu-se aos sujeitos, o anonimato, o direito de desistir da pesquisa em qualquer momento e o acesso a todos os dados coletados no decorrer da pesquisa. Os dados foram coletados a partir da técnica da entrevista semi-estruturada com auxílio de um gravador digital e instrumento de pesquisa pré-estabelecido. Realizamos a seguinte pergunta norteadora: “Qual a participação dos familiares dos usuários portadores de transtorno mental no cuidado e nas atividades propostas pelo serviço?” Para a análise dos dados, primeiramente foram realizadas as transcrições das entrevistas na íntegra e após sucessivas leituras, os dados foram organizados e a análise foi feita através da análise de conteúdo modalidade temática, seguindo os pressupostos de Minayo (2008).
RESULTADOS:
Percebeu-se que fatores como falta de compromisso e de comprometimento com o usuário e com a proposta terapêutica do serviço substitutivo, dificultam o processo de reabilitação e reinserção social. Há familiares mais responsáveis e dinâmicos, entretanto a maioria, de acordo com os profissionais são redis, acreditam que o serviço é o único responsável pelo usuário, esquecem que tem que dar respaldo à terapêutica, especialmente aos finais de semana, não gostam de participar das reuniões mensais e das atividades organizadas pelo Hospital-dia. Muitos familiares, segundo os profissionais do serviço, não querem que seus filhos, sobrinhos, pais fiquem na ociosidade nos finais de semana e feriados e muitas vezes negligenciam as dosagens de medicamentos para que eles não durmam e realizem alguma atividade em suas residências, outros medicam além do necessário para que repousem e assim fiquem livres para realizarem suas atividades cotidianas. Os familiares muitas vezes não reconhecem as potencialidades dos usuários, acham que o transtorno mental é algo degradante e de impossível recuperação. Por isso a importância da participação da família junto ao Hospital-dia, para esclarecer e sanar tais dúvidas, para que o relacionamento interpessoal entre o usuário, a família e o serviço melhore.
CONCLUSÃO:
Verificou-se que os familiares têm dificuldade em participar, colaborar com a terapêutica proposta pelo serviço assim como assumir um compromisso com os usuários. Apesar de serem seus parentes, eles acham que o Hospital-dia é responsável por todo o cuidado. Entretanto, a própria proposta do Hospital Dia é de aproximar o familiar do portador de transtorno mental ao invés de excluí-lo do contexto. Notou-se que a relação do familiar com o usuário e os profissionais do Hospital-dia ainda é conflituosa. Os familiares apresentam resistência em assumir seu papel no cuidado aos finais de semana e feriados, deixando os usuários a mercê de surtos e isolamento social. A proposta do Hospital-dia visa romper com a visão altamente hospitalocêntrica do cuidado, tratando os usuários de forma humanizada, empática e solidária, com vistas a romper estigmas, inserir o usuário no meio social e fornecer sua autonomia. Ao considerar a importância da participação da família junto ao Hospital-dia, sugere-se que a equipe lance mão de estratégias capazes de fortalecer o vínculo da família com o serviço afim de aproximar e ter um maior comprometimento do familiar à terapêutica.
Palavras-chave: Saúde mental, Família, Enfermagem Psiquiátrica.