63ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 5. História - 4. História e Filosofia da Ciência |
A escrita da história das ciências em Alexandre Koyré. |
Renato Fagundes Pereira 1 |
1. mestrando 2. orientador 3. professor 4. doutor |
INTRODUÇÃO: |
Alexandre Koyré foi um historiador do pensamento. Em nossa pesquisa, nos concentramos no Koyré historiador do pensamento científico. A história do pensamento científico deste autor busca se afastar da tradição positivista e empirista. Para Koyré, a história das ciências não é uma história de tipo qualquer. Ela possui uma singularidade: é “o itinerário do pensamento em busca da verdade” (1982: 377). Isso nos levou a historicizar a noção de busca da verdade. Não se trata do velho ideal acético de verdade vigente no século XIX. Para Koyré, trata-se de um esforço sempre insatisfeito e renovado de um objetivo que sempre lhe escapa. Através desta perspectiva, Koyré neutraliza a idéia dogmática de verdade ou de que essa busca seria aquela da verdade que selaria a história. Essa perspectiva de verdade o faz se afastar da concepção tradicional da história das ciências, segundo a qual a história das ciências é a história dos resultados da ciência (descobertas, invenções). A busca da verdade abre uma via, um caminho em que o pensamento científico se engaja. Assim, a escrita da história das ciências não se concentra nas origens ou nos resultados da ciência, mas no seu itinerário, no percurso do pensamento; não na partida (origem) ou na chegada (fim), mas no “entre”, no movimento, no meio, repleto de equívocos e erros. |
METODOLOGIA: |
A pesquisa foi realizada através da leitura e estudos comparativos. No esforço de compreender a escrita da história das ciências de Alexandre Koyré, identificamos e selecionamos as obras deste autor nas quais trabalha com a história das ciências: Estudos de história do pensamento científico (1991), Estudos galilaicos (1992) e Do mundo fechado ao universo infinito (2007), nos quais ele analisa a emergência e transformações de conceitos que viabilizaram as revoluções, copérnica, galileana e cartesiana. A partir da leitura das obras de Koyré e leitura comparativa de textos de Gaston Bachelard, Georges Canguilhem e François Jacob idetificamos aproximações na maneira de escrever a história e compreender a ciência. Em contraponto, ao inter-relacionar seus estudos do pensamento científico com autores como Auguste Comte, Pierre Duhem, Carl Hempel, Charles Singer identificamos como história das ciências de Koyré se afasta destes autores de tradição empirista e positivista. Neste sentido, levantamos questões conceituais e da escrita da história que nos permitiram analisar está distinção. |
RESULTADOS: |
Alexandre Koyré e a Idéia de ciência “No percurso científico, a primeira palavra cabe sempre a teoria” (pág. 130, 1981). Essa proposição pertence a François Jacob, prêmio Nobel de fisiologia e medicina em 1965, mas não é nova na história das ciências. Alexandre Koyré, historiador e filosofo já dizia: “a ciência é essencialmente teoria” (pág. 377,1991). A história do pensamento científico de Koyré busca se afastar da tradição positivista e empirista. No caso da tradição francesa, no qual vamos nos concentrar, fica claro em Augusto Comte, a relação entre o positivismo e o empirismo: “Todas as pessoas cultas repetem, desde Bacon, que não há conhecimento real para lá dos que se baseiam em fatos observados. Esta máxima fundamental é evidentemente incontestável” (pág. 8, 1991). Para Comte “todos os nossos conhecimentos devem fundar-se nas observações” (pág.22,1991). Ou seja, a experiência e a observação são as fontes de conhecimento e ciência, a única ciência, é fundada a partir da empíria, como o mesmo disse: “é que só a experiência nos pode dar a medida das nossas forças” (pág. 10,1991). Nessa ciência positivista havia lugar para a teoria, mas não é o lugar koyerano. |
CONCLUSÃO: |
No traço da escrita da história das ciências em Koyré não se separa história e filosofia no estudo das ciências. Seu olhar atento sobre o passado das ciências em seus estudos sobre o pensamento científico, junto a tradição da epistemologia francesa, mostra alternativas na forma de pensar o saber científico e a escrita da história. Para tanto, foi necessário repensar noções e conceitos que para a tradição positivista e empirista da ciência já era dado como certo, tais como: o progresso e a verdade. Este trabalho foi realizado com a intenção de contribuir para as discussões acerca da escrita da história das ciências, epistemologia e filosofia das ciências. Um estudo da escrita deste autor abre veredas, até então virgens ou a muito abandonadas pela historiografia tradicional. Em Koyré encontramos uma verdadeira revolução na forma de escrever a história das ciências, onde as resignificações conceituais e os espaços do saber emergem. Desta forma, acreditamos que uma pesquisa, como a nossa, da escrita da história deste autor contribui para o debate na história e filosofia das ciências.Além, de uma contribuição na historiografia, pois são raros os trabalhos na bibliografia brasileira. |
Palavras-chave: Verdade, Erro, escrita. |