63ª Reunião Anual da SBPC |
D. Ciências da Saúde - 6. Nutrição - 3. Análise Nutricional de População |
PRÁTICAS ALIMENTARES EM COMUNIDADES REMANESCENTES DE QUILOMBOS RURAL E URBANO EM GOIÁS |
Renata Carvalho dos Santos 1 Suzana de Santana Martins 2 Jéssica Félix Nicácio Martinez 3 Maria Sebastiana Silva 4 |
1. Mestrado em Ciências da Saúde, Faculdade de Educação Física – UFG 2. Faculdade de Nutrição - UFG 3. Faculdade de Educação Física – UFG 4. Profa. Dra./Orientadora – Faculdade de Educação Física – UFG |
INTRODUÇÃO: |
As comunidades quilombolas se organizam em grupos rurais e urbanos que apresentam raízes e histórias vinculadas à opressão da escravidão e continuam a luta por autonomia econômica e contra a apropriação da sua mão de obra. Pesquisas em diversas regiões do país demonstram que a realidade destas comunidades envolve situações de pobreza, miséria e péssimas moradias, carecendo de serviços básicos. A terra, que é uma das garantias para reprodução física, social e econômica da comunidade, frequentemente lhes é retirada, acirrando as condições de vida dos quilombolas. A alimentação é uma dimensão da vida humana ligada diretamente à sobrevivência biológica do ser, mas que agrupa elementos culturais em sua constituição. A necessidade de prover acesso aos alimentos é imprescindível para o desenvolvimento da comunidade, além de estar intimamente associado às condições de saúde de seus integrantes. A soberania alimentar requer um Estado que seja capaz de estabelecer e cumprir suas próprias políticas e estratégias de produção, distribuição e consumo de alimentos, além de garantir o direito à alimentação e o respeito à cultura da população. Neste contexto, esta pesquisa teve como objetivo estudar as práticas alimentares de duas Comunidades Remanescentes de Quilombos de Goiás. |
METODOLOGIA: |
Realizou-se uma pesquisa exploratória e descritiva em duas comunidades quilombolas do Estado de Goiás, sendo uma rural e outra urbana. A comunidade rural foi a Comunidade de Almeida no município de Silvânia, primeira comunidade do Estado de Goiás a ser reconhecida pela Fundação Cultural Palmares no ano de 2004. E a urbana: Comunidade Quilombola Jardim Cascata no município de Aparecida de Goiânia, reconhecida em 2007. Sujeitos Participantes: Os sujeitos dessa pesquisa foram indivíduos pertencentes às famílias quilombolas que aceitaram participar e assinaram o TCLE. A pesquisa foi realizada com os responsáveis pela preparação da alimentação das famílias pesquisadas, porque a partir deles é possível conhecer o que se consome na casa. Procedimentos: Foi realizada uma entrevista semi-estruturada com as lideranças das comunidades para obter informações gerais sobre as comunidades. Com as famílias quilombolas, os instrumentos utilizados foram: entrevistas semi-estruturadas e questionários para identificar e compreender as práticas alimentares (os alimentos mais consumidos, as formas de aquisição, utilização da terra) e condições socioeconômicas e de saúde das comunidades. |
RESULTADOS: |
Na Comunidade Almeida a maioria das casas possuem algum tipo de plantação e criação de pequenos animais como galinhas e porcos. Os alimentos mais cultivados são: abobrinha, alface, caju, cenoura, chuchu, gueroba, laranja, mamão, mandioca, manga, milho, e tomate; além da produção de derivados da mandioca, como farinha e polvilho. Também existe uma Roça Comunitária, com plantio de arroz, que apesar da falta de incentivos financeiros para sementes, adubo e inseticidas, sua produção é dividida entre as famílias participantes, seja para consumo ou vendas ou doações. Para complementar a alimentação, as famílias recebem cestas básicas e realizam compras, a prazo, nos mercados das cidades próximas, a partir do salário que conseguem com o trabalho nas fazendas e/ou fábricas vizinhas. Já na Comunidade Urbana Jardim Cascata, poucos moradores costumam ter hortas ou cultivo de frutas em casa. A maior parte da alimentação das famílias é proveniente de cestas básicas, enquanto que os alimentos complementares são comprados no comércio local geralmente à vista. A falta de emprego e renda nesta comunidade afeta diretamente a qualidade e quantidade da alimentação de seus integrantes, sendo que muitos dependem da ajuda da líder comunitária para conseguirem seu sustento. |
CONCLUSÃO: |
Os dados coletados nesta pesquisa demonstraram que a produção de alimentos na comunidade rural é mais expressiva e contribui para maior diversificação da alimentação, apesar dessa produção ser uma decisão individual, ou seja, nem todas as famílias optam por produzir parte do que consomem. Na comunidade urbana, há pouco cultivo de alimentos de subsistência familiar, que aliado à falta de trabalho, agrava mais o seu quadro de insegurança alimentar e nutricional. Outra questão que incide nesta comunidade é o envolvimento com drogas e álcool, que levam os indivíduos usuários a consumirem toda renda que conseguem na compra destes produtos preterindo o essencial à vida. Nas comunidades pesquisadas tornou-se evidente a relação com a terra para a produção e consumo adequado de alimentos. Nelas o processo de segurança alimentar e nutricional está comprometido, pois o acesso a alimentação adequada e de qualidade não se materializa plenamente. A falta de espaço para plantar e colher traz limitações para o trabalho e a sobrevivência dos moradores, que são direcionados a outros espaços sociais para prover a alimentação de sua família bem como as outras dimensões constitutivas da vida humana. |
Palavras-chave: Comunidades Remanescentes de Quilombos, Alimentação, Saúde. |