63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 4. História e Filosofia da Ciência
O ESTATUTO DA CIÊNCIA EXPERIMENTAL EM ALEXANDRE KOYRÉ.
Mohana Ribeiro Barbosa 1
Marlon Jeison Salomon 2
1. Universidade Federal de Goiás
2. Prof. Dr. Orientador - Faculdade de História - UFG
INTRODUÇÃO:
A afirmação de que o caráter experimental é a marca da ciência moderna constitui consenso entre historiadores e filósofos da ciência. Todas as vertentes historiográficas concordam em afirmar que, a partir do século XVII, a atividade científica estaria ligada à utilização e à construção de instrumentos e ferramentas que possibilitariam a produção de um saber mais exato e preciso.
Este trabalho busca analisar o estatuto atribuído por Alexandre Koyré à ciência experimental do século XVII, explorando os problemas teóricos ligados à definição desse estatuto, pois apesar do consenso existente quanto ao papel da experimentação na ciência moderna, existem divergências quanto ao significado do caráter experimental dessa ciência. Tal divergência levanta uma série de problemáticas dentro da historiografia, pois se a experimentação caracteriza a ciência moderna, a definição desse caráter experimental possibilita a compreensão do que seria a ciência a partir do século XVII.
Ao analisar as transformações do pensamento científico, Alexandre Koyré destaca que o nascimento da ciência moderna constitui fato importante para a história e para a filosofia não por representar uma evolução na ciência ou a criação de novos instrumentos, mas por indicar uma profunda transformação no pensamento ocidental. A revolução, tal como é compreendida pelo autor, daria origem a um novo sistema teórico de compreensão do mundo físico e transformaria a relação até então existente entre saber e percepção.
METODOLOGIA:
Buscando compreender a maneira inovadora como Alexandre Koyré define o conceito de experimentação no nascimento da ciência moderna, identificamos e selecionamos as principais obras nas quais o autor trabalha essa questão, bem como a relação entre ciência e técnica na revolução científica do século XVII: Estudos de História do Pensamento Científico (1982), Estudos de História do Pensamento Filosófico (1991), e Estudos Galilaicos (1992).
A partir de pesquisas bibliográficas, leituras e estudos comparativos entre as obras de Koyré e a de autores como Alfred Whitehead e Bernard Cohen, identificamos como tais questões são abordadas dentro da historiografia das ciências, percebendo que as obras de Koyré se distanciam da historiografia tradicional, marcadamente positivista e empirista, o autor apresenta a definição de um novo estatuto para a ciência experimental, caracteriza de maneira nova a revolução científica do século XVII.
RESULTADOS:
A maneira como Koyré interpreta a revolução científica do século XVII difere das interpretações contidas na tradicional historiografia positivista em duas questões intimamente interligadas: na importância e no papel atribuídos à experiência e na função da teoria para o desenvolvimento científico.
Para Koyré, a ciência moderna pode ser considerada, ao mesmo tempo, expressão e fruto da revolução científica do século XVII que foi marcada principalmente por dois acontecimentos: a quebra da hierarquia celeste e a geometrização do espaço.
Em Koyré, o ativismo da ciência moderna e seu desenvolvimento experimental não estariam ligados à experiência imediata ou a necessidades práticas, mas à elaboração de uma linguagem que possibilitasse a compreensão da natureza. Dessa maneira, percebemos que não há em Koyré uma negação do caráter experimental da ciência moderna, assim como não há uma negação do desenvolvimento técnico proporcionado pela revolução científica do século XVII; há uma nova interpretação do que seria a experimentação e a atribuição de um novo papel à teoria.
Os estudos de Koyré acerca da revolução copernicana e das obras de Galileu auxiliam na tarefa de compreender a visão do autor acerca do papel da experiência na ciência moderna. A revolução copernicana, bem como todas as revoluções na ciência, segundo Koyré, foi uma revolução teórica, possível a partir de uma mudança no pensamento, não foi a consequência de um progresso na construção de instrumentos.
CONCLUSÃO:
Através do estudo das obras em que Koyré analisa o nascimento da ciência moderna, podemos perceber que ao apresentar uma nova definição conceitual para aqueles que seriam os traços característicos da atividade científica a partir do século XVII: experimentação, instrumentos e ferramentas,o autor desenvolve argumentos teóricos que possibilitam pensar o nascimento da ciência experimental de uma maneira inteiramente nova.
Este trabalho foi realizado com a intenção de contribuir para as discussões acerca da historiografia e história das ciências, pois encontramos em Alexandre Koyré definições conceituais diferenciadas para elementos considerados decisivos, tais como a definição de ciência como elaboração teórica e até mesmo a idéia de revolução científica, o que conduziu a nova maneira de relacionar ciência e técnica e de pensar a ciência experimental, tornando a pesquisa sobre o autor extremamente relevante para a
historiografia.
Palavras-chave: Revolução Científica, Instrumentos científicos, Ciência Moderna.