63ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 1. Epidemiologia
TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS ENTRE COLETORES DE UVA DO VALE SÃO FRANCISCO
Ionara Magalhães de Souza 1
Laiara Márcia Guimarães Santos 1
Camilla Reis Ramos Dantas e Dantas 1
Thalles da Costa Lobê Pereira 1
Auxiliadora Rene de Melo Amaral 2
Ana Cláudia Conceição da Silva 3
1. Depto. de Saúde, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, Núcleo de Estudo e Pesquisa em Saúde do Trabalhador - NEST
2. Depto. de Saúde, Universidade de Pernambuco - UPE
3. Profª. Doutoranda/Orientadora - Depto. de Saúde, UESB
INTRODUÇÃO:
Os transtornos mentais comuns (TMC) correspondem à condição de saúde que representa potencial substrato para a manifestação de transtornos mentais mais graves. Geralmente está associado a determinados fatores como idade, genética, estado civil, agentes estressores do ambiente psicossocial: condições de trabalho, formação, organização, sobrecarga e tempo destinado ao trabalho, falta de autonomia e participação nas tomadas de decisões, conflitos interpessoais, falta de suporte e proteção social, incapacidade e alto custo econômico e social. Relaciona-se com absenteísmo, alta rotatividade de trabalhadores, repetitividade no exercício da função, redução da produtividade, uso abusivo de álcool e outras drogas, aumento da demanda nos serviços de saúde, e consequente sofrimento humano. Cerca de uma em cada quatro pessoas apresentará um transtorno mental durante a vida. A evolução apresenta um curso longo com repercussões negativas na qualidade de vida dos indivíduos e brusca mudança no perfil epidemiológico. Esse estudo teve por objetivo estimar a frequência de transtornos mentais comuns entre coletores de uva do Vale do São Francisco.
METODOLOGIA:
Estudo descritivo de corte transversal. A população foi composta por 80 trabalhadores coletores de uva de cinco fazendas do Vale do São Francisco, situadas nas cidades de Petrolina (PE) e Casa Nova (BA), nordeste brasileiro, no período da safra de dezembro de 2010 a fevereiro de 2011. A coleta de dados transcorreu na safra de dezembro de 2010 a fevereiro de 2011, realizada através de entrevistas e aplicação de um instrumento com três blocos, contendo questões relativas aos aspectos sociodemográficos, ocupacionais e saúde mental (Self Report Questionnaire-SRQ-20). O SRQ-20 é um instrumento de escore dicotômico, constituído de 20 perguntas, auto-aplicável para suspeição de TMC, estabelecido como ponto de corte 5/6. As variáveis de interesse foram descritas por meio de frequências absolutas e relativas. Os dados foram processados e analisados através do software Microsoft Office Excel 2007® e EpiInfo Versão 6.04®.
RESULTADOS:
Dos 80 trabalhadores coletores de uva entrevistados, o sexo masculino representou 70%, e o sexo feminino 30%. A média de idade foi 32,2±9,9 anos. Observou-se que 62,5% eram casados, 31,3% solteiros. Quase a metade teve renda familiar de até 1 salário mínimo 46,3%, e 36,3% de 1 a 2 salários mínimos; trabalhavam numa carga horária de 8horas/dia e 44 horas/semanais, e 60,5% eram sindicalizados. Dentre os trabalhadores, 25% apresentaram escore positivo para suspeição de TMC. As questões do instrumento SRQ-20 com maior proporção de respostas positivas versavam sobre aspectos correlatos a sintomas físicos, diminuição de energia e as questões de menor freqüência no grupo de distúrbios psicoemocionais. Estudos destacam que grupos submetidos a altas demandas físicas e psicológicas, baixo suporte no trabalho, ausência de fatores de proteção social podem desencadear TMC. Os achados desse estudo corroboram com as prevalências encontradas em outras populações estudadas. Na literatura, os TMC caracterizados por insônia, ansiedade, esquecimento, fadiga, dificuldade de concentração, irritabilidade e queixas somáticas são os mais relatados e representam alto custo social e econômico, por revelarem-se incapacitantes, sendo uma das causas relevantes de aumento da demanda por serviços de saúde.
CONCLUSÃO:
Muitos estudos realizados no Brasil reforçam a necessidade de identificação precoce de TMC e intervenções em níveis individuais e coletivos. Entre os maiores entraves no curso de adoecimento, destacam-se a imprecisão diagnóstica, tratamento impróprio ou aderência inadequada e a presença de comorbidades que remetem ao agravamento do quadro clínico. Apesar de sua alta sensibilidade e especificidade, o SRQ-20 (Self Report Questionnaire) é efetivamente um instrumento de triagem e não de diagnóstico. Contudo, no presente estudo constatou-se frequências similares a outros estudos de grupos populacionais para a suspeição de TMC. Esse estudo desvela e reforça a necessidade de discriminar entre grupos populacionais de menor visibilidade as condições de trabalho produtoras de sofrimento psíquico.
Palavras-chave: Saúde do trabalhador, Transtornos mentais comuns, Agricultura.