63ª Reunião Anual da SBPC |
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 4. Sociolingüística |
O USO DO ARTIGO DEFINIDO NA LÍNGUA FALADA NO SERTÃO PERNAMBUCANO |
Déreck Kássio Ferreira Pereira 1 Adeilson Pinheiro Sedrins 2 |
1. Univ. Federal Rural de Pernambuco/Unid. Acadêmica. de Serra Talhada – UFRPE/UAST 2. Prof. Dr./ Orientador - UFRPE/UAST |
INTRODUÇÃO: |
Baseando-se em pressupostos da Teoria da Variação e Mudança Linguística (LABOV, 1972), este trabalho é um estudo sobre a realização do artigo definido em três contextos linguísticos: diante de nomes próprios, pronomes possessivos e nomes de parentesco. Nesses contextos, a presença/ausência do artigo parece não interferir no fenômeno da definitude do sintagma nominal, indicando um certo caráter expletivo do determinante quando foneticamente realizado (cf. CASTRO, 2006). Tendo em vista corresponder a um fenômeno de variação, nosso objetivo precípuo foi verificar que fatores linguísticos e extralinguísticos estariam condicionando a realização do artigo, bem como verificar qual a forma mais frequente de ocorrência (se com ou sem a realização do artigo). Por se tratar de um fenômeno contrastivo entre a língua falada em Pernambuco e em outros estados brasileiros (cf. Marroquim, 1945), a relevância desta pesquisa está no fato de favorecer a elaboração de um perfil linguístico da língua falada no sertão pernambucano, tendo em vista que o corpus tomado para análise é proveniente de dados de fala de municípios dessa região. |
METODOLOGIA: |
O arcabouço teórico-metodológico que orientou nossa pesquisa foi o proposto pela Teoria da Variação e Mudança Linguística, como postulado primeiramente por Labov (1972). Um dos pressupostos desse modelo é o de que a língua é inerentemente heterogênea e que o aparente “caos” linguístico instaurado pelo fenômeno da variação é possível de ser sistematizado. O corpus que serviu como análise foi elaborado a partir da realização e transcrição de entrevistas informais com dezesseis informantes: oito homens e oito mulheres, com idade entre vinte e quarenta anos. Destes, oito informantes com ensino fundamental (quatro homens e quatro mulheres) e oito (quatro homens e quatro mulheres) com ensino médio completo. Oito informantes eram moradores do município pernambucano de Afogados da Ingazeira (quatro homens e quatro mulheres) e oito informantes do município pernambucano de Triunfo (quatro homens e quatro mulheres). As variáveis linguísticas tomadas para análise foram os contextos citados na introdução (nomes próprios, de parentescos e pronomes possessivos), sendo considerado se esses contextos eram ou não complementos de preposição e as extralinguísticas foram: sexo, escolaridade e município em que moram os informantes. |
RESULTADOS: |
Após a análise do corpus, observou-se que a presença do artigo na fala dos informantes, nos contextos selecionados, é pouco frequente. Do total dos contextos selecionados, apenas vinte e seis por cento apresentaram a realização do artigo, contra setenta e quatro por cento de não realização do artigo. Em relação às variáveis linguísticas, o contexto que mais favorece a não realização do artigo é o contexto com pronomes possessivos (do total de construções com esse contexto, trinta e seis por cento apresentaram a realização do artigo, contra sessenta e quatro por cento sem a realização). O fato de o sintagma nominal ser ou não complemento de preposição se mostrou também como um contexto condicionante (setenta e seis por cento do total de ocorrência com preposição apresentaram a ausência do artigo definido). No que tange às variáveis extralinguísticas, pudemos constatar que o fator localidade se mostra como o maior favorecedor da não realização do artigo com oitenta e sete por cento no município de Triunfo. E o fator que se mostrou menos condicionante foi o de escolaridade. |
CONCLUSÃO: |
A presente pesquisa, que tomou como corpus de análise dados da língua falada no sertão de Pernambuco, constatou que nos municípios escolhidos para análise o uso do artigo definido apresenta uma baixíssima frequência nos contextos de nomes próprios, de parentescos e de pronomes possessivos. Esse resultado apresenta uma peculiaridade da gramática da língua falada nessa região, cuja tendência parece ser a de bloquear o uso da forma “expletiva” do artigo definido. Esta pesquisa procurou contribuir com os estudos sociolinguísticos sobre a língua falada no sertão de Pernambuco, proporcionando a construção de um perfil linguístico dessa comunidade. No mais, é imperativo destacar que os resultados deste trabalho serão comparados com um número maior de dados, em próximas pesquisas, a fim de estabelecermos uma melhor fotografia da língua falada no sertão pernambucano. |
Palavras-chave: Variação Linguística, Sintaxe, Artigo definido. |