63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 10. Teoria e Metodologia da História
TEORIA E FILOSOFIA DA HISTÓRIA NO JOVEM NIETZSCHE
Frederick Gomes Alves 1
Luiz Sérgio Duarte da Silva 2
1. Universidade Federal de Goiás
2. Prof. Dr. Orientador/ Faculdade de História - UFG
INTRODUÇÃO:
O filósofo alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900) é um dos pensadores mais importantes e polêmicos da história da filosofia. Ele pode ser visto como um ponto de inflexão entre a modernidade e a pós-modernidade. Trata-se de mostrar justamente sua modernidade, sua tempestividade que distancia-se de seu tempo justamente para refletir sobre ele.
O estudo deste momento específico no interior das reflexões nietzschianas, considerado de juventude de Nietzsche, tenciona expor as características singulares deste período, tão pouco meditado no campo historiográfico. Muito embora fala-se de duas obras que estão neste recorte histórico (1869-1876) – a saber, O nascimento da tragédia: ou helenismo e pessimismo e Segunda consideração intempestiva: Da utilidade e desvantagem da história para a vida – não se produz uma reflexão profunda sobre as mesmas articulando-as com obras do mesmo período, incorrendo outrossim numa articulação com obras posteriores, sobretudo com A Genealogia da moral, sem que seja feita uma devida historicização destas obras.
Assim, este é um momento fecundo para mensurar a importância que Nietzsche atribui à História e sua relação com a Cultura, nos moldes de uma filosofia da história.
METODOLOGIA:
O método a ser empregado será o método mais adequado em Teoria da História, o método que busca relacionar dialeticamente analítica e hermenêutica enquanto operações substanciais, ou seja, interpretando e analisando as asserções das fontes tendo como base a bibliografia especializada. (RÜSEN, 2007)
Assim sendo, farei uma leitura crítica e interpretativa das duas principais obras deste período, quais sejam, O nascimento da Tragédia: ou helenismo e pessimismo e Segunda Consideração Intempestiva, da utilidade e desvantagem da história para a vida. Essas leituras serão feitas buscando os dispositivos que permitem correlacionar a Filosofia da história do jovem Nietzsche com o romantismo e com o historicismo alemães, mais especificamente, com a expressão filosófica do romantismo alemão e com um representante específico do historicismo, a saber, Jacob Burckhardt, o historiador com quem Nietzsche mais teve contato e que exerceu clara influência sobre a filosofia nietzschiana, mormente neste período.
RESULTADOS:
As condições de possibilidade de surgimento de uma cultura autêntica só se acham no meio alemão, no curso solar da música – a arte que fundamenta o renascimento da tragédia – e exclusivamente na música alemã. É no povo alemão que existe, a partir da música wagneriana, a possibilidade de renascimento da cultura trágica, com a fundação de novos mitos e a consequente potencialização da força plástica, que permitirá a incorporação criativa de outras culturas pela via do conhecimento histórico voltado para a vida, ou seja, orientado artisticamente.
É assim que as duas obras apresentam uma unidade teórica: o Nascimento da tragédia mostrando o modelo de cultura autêntica, e a Segunda consideração intempestiva desconstruindo o modelo vigente.
Há um método claro de investigação histórica, há uma crítica à modernidade por não refletir sobre a finalidade do conhecimento histórico científico, e há uma tentativa de estabelecer tal finalidade para este conhecimento. A preocupação maior de Nietzsche é a cultura, e a forma mais adequada de se pensar a cultura – e a relação entre culturas – é historicamente.
CONCLUSÃO:
A intenção que orientou a escrita de tal trabalho foi a de compreender, caracterizar e explicitar, na medida do possível, as reflexões de Nietzsche sobre a história, enquanto processo de experiência humana no tempo, e enquanto conhecimento deste processo.
Sua filosofia da cultura, adjacente à filosofia especulativa da história, permite estabelecer critérios precisos para a interpretação de outras culturas. A partir disto pode se relacionar com o que é estranho e passado, ou seja, estabelecer um diálogo, que Nietzsche reconhece ser inevitável, com outras culturas. Mas um diálogo que busque incorporar e não copiar para que a cultura seja produtiva, criativa, autêntica, elementos necessários para que ela não morra.
A atualidade desta sua filosofia especulativa da história é que hoje, não só a Europa entra em contato com outras culturas no mundo, e estas unicamente com a Europa, mas que todas estão inter-relacionadas, então é preciso fazer uma crítica da inter-relação das culturas.
Compreender suas identidades e diferenças, perceber que elas só são cultura na medida em que se relacionam com outras, que absorvem elementos nestas relações, e que esta absorção, também inevitável, deve servir para uma incorporação vivificante, produtiva e não para mera cópia enrijecedora.
Palavras-chave: Romantismo, Historicismo, Cultura.