63ª Reunião Anual da SBPC |
E. Ciências Agrárias - 3. Recursos Florestais e Engenharia - 4. Conservação da Natureza |
POTENCIAL NÃO MADEIREIRO DAS ESPÉCIES ARBÓREAS E PALMEIRAS NA MATA DE GALERIA DO CÓRREGO CABEÇA-DE-VEADO, DF |
Takumã Machado Scarponi Cruz 1 José Roberto Rodrigues Pinto 2 Lívia Helena Carrera Silveira 3 |
1. Engenheiro Florestal - Departamento de Engenharia Florestal, Universidade de Brasília – UnB 2. Professor Doutor/Orientador - Departamento de Engenharia Florestal, Universidade de Brasília – UnB 3. Programa de Pós-graduação em Ciências Florestais - PPG/EFL, Universidade de Brasília - UnB |
INTRODUÇÃO: |
Dentre as fitofisionomias que ocorrem no bioma Cerrado, as matas de galeria se destacam por possuírem elevada riqueza florística apesar de ocuparem pequena área, menos de 5% do bioma. No entanto, mesmo essas matas protegidas pela legislação, seu desflorestamento vêm sendo recorrente. Por outro lado, o seu potencial de produtos florestais não madeireiros (PFNMs), como fonte alternativa de renda é pouco investigado por meio de inventários da flora. Os PFNMs constituem recursos diversos da floresta que não sejam a madeira e são importantes em muitos países, suprindo as populações com frutos, fibras, óleos, resinas, seivas, gomas, folhas, sementes, fármacos, combustível, dentre outros. A FAO (Food and Agriculture Organization) argumenta que recentemente os PFNMs passaram a ser vistos como uma forma viável de se utilizar a riqueza biológica dos ecossistemas sem comprometê-los e estimulando, paralelamente, o desenvolvimento rural das comunidades com ações que não envolvam o desmatamento. No presente estudo pretende-se avaliar a composição florística da Mata de Galeria do Córrego Cabeça-de-Veado com o objetivo de conhecer o potencial não madeireiro das dez espécies de maior índice de valor de importância (IVI), avaliando ainda a categoria de uso não madeireiro das espécies. |
METODOLOGIA: |
O presente estudo foi realizado na Mata de Galeria do Córrego Cabeça-de-Veado, localizado no Jardim Botânico de Brasília/DF, distante cerca de 20 km a sudeste de Brasília-DF, nas coordenadas geográficas 15º 50’ - 15º 55’ S e 47º 49’- 47º 55’ W. O Jardim Botânico de Brasília integra a Área de Proteção Ambiental Gama e Cabeça-de-Veado, fazendo limite com a Reserva Ecológica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e com a Fazenda Água Limpa da Universidade de Brasília. Na Mata de Galeria do Córrego Cabeça-de-Veado foram alocadas 110 parcelas de 10 x 10 metros (100 m²) ao longo de transeções perpendiculares ao córrego, totalizando 1,1 hectares amostrados. Árvores e palmeiras vivas com diâmetro na altura do peito – DAP ≥ 5 cm foram mensurados com fita métrica e identificados. A suficiência amostral em termos de riqueza foi analisada por meio do estimador de primeira ordem de Jackknife. Foram calculadas a densidade, frequência e área basal absoluta e relativa da comunidade, assim como o IVI, onde foram selecionadas as dez primeiras espécies em termos de IVI para avaliar o potencial de uso de PFNMs. O uso dessas espécies foi obtido por meio de consultas bibliográficas. |
RESULTADOS: |
Foram registradas 162 espécies, distribuídas em 57 famílias e 118 gêneros. A riqueza estimada pelo Índice de Jackknife foi 163 espécies, revelando que a amostragem foi suficiente. As famílias mais ricas em espécies foram Fabaceae (lato sensu) (21), Myrtaceae (13), Lauraceae (7) e Rubiaceae (7). A densidade de árvores e palmeiras foi 1.583 indivíduos/ha e a área basal absoluta, 32,89 m²/ha. Os valores de densidade e área basal são intermediários quando comparados a outros estudos realizados em matas de galeria no DF e em outros Estados. Analisando o IVI, as dez principais espécies que colonizam a área foram Protium heptaphyllum, Cheiloclinium cognatum, Pseudolmedia laevigata, Copaifera langsdorffii, Protium spruceanum, Magnolia ovata, Tapirira guianensis, Cordiera macrophylla, Euterpe edulis e Vochysia tucanorum. Das quatro espécies de palmeiras registradas apenas Euterpe edulis apareceu entre as dez primeiras do IVI. P. heptaphyllum, C. langsdorffii, P. laevigata, M. ovata e P. spruceanum são espécies medicinais utilizadas como analgésico, cicatrizante e expectorante. Com valor nutricional destacam-se os frutos de E. edulis e C. cognatum e para artesanato os frutos de V. tucanorum. Todas as dez espécies analisadas podem ser utilizadas no paisagismo/arborização. |
CONCLUSÃO: |
A Mata de Galeria do córrego Cabeça-de-Veado possui expressiva riqueza florística, o que reflete em seu potencial para aproveitamento dos produtos florestais não madeireiros das dez principais espécies. Pela classificação do IVI, essas dez espécies indicam potencial de uso como medicinais, alimento, paisagismo e para artesanato. Algumas delas, como Protium heptaphyllum (Breu), Copaifera langsdorffii (Copaíba), Cordiera macrophylla (Marmelo) e Euterpe edulis (Jussara) são utilizadas com frequência pelas populações rurais e urbanas do Cerrado. Este estudo indica que uma pequena porção da comunidade arbórea e de palmeiras pode fornecer recursos importantes para serem manejados sem desmatar e degradar o ecossistema. No entanto, avaliações em longo prazo sobre a dinâmica das populações e formas eficazes de manejar os produtos não madeireiros são necessários para garantir um uso sustentável dos recursos florestais. |
Palavras-chave: Produtos Florestais Não Madeireiros, Cerrado, Fitossociologia. |