63ª Reunião Anual da SBPC |
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 2. Lingüística Histórica |
Estudo comparativo das manifestações de correferência alternada em cinco línguas Tupí-Guaraní: Tupinambá, Guraní-Antigo, Asuriní do Tocantins, Zo’é e Araweté. |
Ana Helena Barbosa de Oliveira 1 Ana Suelly Arruda Camara Cabral 1 Aryon Dall'Igna Rodrigues 1 |
1. Departamento de Letras - UnB |
INTRODUÇÃO: |
Neste estudo focalizaremos um dos aspectos que caracterizam a correferência alternada na família Tupí-Guaraní, que é combinação de prefixos co-referenciais com nomes. Examinaremos essa manifestação de co-referêcncia em línguas representativas de cinco dos VIII subramos da família linguística Tupí-Guaraní, o subramo I (Guaraní-Antigo), subramo III (Tupinambá), subramo IV (Asuriní do Tocantins), subramo V (Araweté) e subramo VIII (Zo’é). O estudo se fundamenta na abordagem funcionalista de Foley e Van Valin (1986) sobre esse fenômeno e se desenvolve a partir de dados existentes no Banco de Dados do Laboratório de Línguas Indígenas da UnB. Com este estudo pretendemos contribuir para a uma caracterização detalhada do sistema de correferencialidade da família Tupí-Guaraní. |
METODOLOGIA: |
O trabalho seguiu os seguintes passos: (a) leitura e seleção da literatura sobre correferencialidade em Tupí-Guaraní, (b) levantamento dos dados relevantes, ( c) análise contrastiva dos dados, e d) sistematização das conclusões. Tinhamos como objetivo principal identificar as semelhanças e as diferenças entre as línguas com respeito à correferancialidade (esta expressão foi introduzida nos estudos Tupí-Guaraní por Dooley (1982) e usada posteriormente por Jensen (1990:120) e por Silva (1999). Analisamos comparativamente a expressão da correferência em nomes nas cinco líguas propostas e chegamos a conclusões que mostram como uma língua dessa família pode se diferenciar da outra em um mesmo aspecto, mas também resultou em contribuições para os estudos histórico-comparativos que têm em vista a identificação de pistas que levem ao passado em que o sistema de correferencialidade Tupí-Guaraní se desenovlveu. |
RESULTADOS: |
O presente estudo permitiu que identificássemos o seguinte quadro de línguas caracterizadas pela manifestação de correferência nos nomes: 1- As que fazem aproveitamento máximo da correferência nos nomes, marcando-a em todas as pessoas (Asuriní do Tocantins, Araweté, Tupinambá e Guaraní Antigo). 2- As que fazem aproveitamento mínimo, possuindo uma forma apenas para a terceira pessoa (Zo'é). É extremamente importante notar que o fenômeno da correferencialidade foi completamente eliminado do Urubu- Kaapor que é uma língua muito próxima do Zo'é, em que a correferencialidade é usada apenas na terceira pessoa singular. Exemplos de uma língua do grupo 1: -o-se’éngát-iré i-há-j w-awýt-a pypé / 3COR-cantar-SUBJ R2-ir-suf.INDII 3COR-interior.da.casa-ARG R1-dentro 'depois de cantar ela foi para a casa dela' (CABRAL e RODRIGUES, 2003);Pe-er-ahá pese-ekój-a 23-CC-ir 23COR-cuia-ARG ‘vocês levaram as cuias de vocês’ (CABRAL e RODRIGUES, 2003). |
CONCLUSÃO: |
Com este estudo pudemos identificar o funcionamento da marcação de correferencialidade nos nomes de algumas línguas da família Tupí-Guaraní. Concluímos que, além do fato de que só línguas mais conservadoras mantêm um sistema de correferencialidade mais elaborado, a presença de correferencialidade nos nomes com determinante apenas de terceira pessoa pode pode ser uma pista para entendermos que a co-referência teria ter sido inicialmente restrita aos nomes e apenas na terceira pessoa, tendo em um momento posterior da história da família sido ampliada, passando a se manifestar nas demais pessoas. |
Palavras-chave: Correferencialidade, Família Tupí-Guaraní, Morfossintaxe. |