63ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 11. Documentação e Informação Científica - 1. Documentação e Informação Científica
A BIBLIOTECA DOS SONHOS: MEMÓRIA E COLEÇÃO NO IMAGINÁRIO DA GRAPHIC NOVEL SANDMAN
Laíse Alves Rangel 1
Leila Beatriz Ribeiro 2
1. IC/UNIRIO
2. Profa. Dra./ Orientadora - Depto de processos técnico-documentais- DPTD
INTRODUÇÃO:
O presente resumo é relato de pesquisa do subprojeto: “Os objetos, seus possuidores e os locais de memória em Sandman” utiliza como corpus da pesquisa a graphic novel Sandman criada por Neil Gaiman em 1988, que constrói elementos do mundo imaginário, concebendo um universo mítico chamado de Sonhar.
Neste mundo a personagem que intitula a saga, Sandman , também conhecido como: Sonho, Morpheus, Oneiros, Senhor dos Sonhos, Lorde Moldador e Kai’Kul, é o príncipe deste reino, onde, os sonhos são materializados, configurando uma realidade na qual o inconsciente é guiado pelo Lorde Moldador.
É para o Sonhar que vão as almas de todos os que dormem e onde são guardados lembranças e pensamentos dos sonhos. Em Sandman, destacamos a presença da Biblioteca dos Sonhos, lugar no reino dos sonhos, que é constituída por “livros nunca escritos”. Estes livros são concebidos por seus autores enquanto os mesmos encontram-se no estado de sono e são ordenados pela personagem Lucien, o bibliotecário de Sandman . A biblioteca do sonhar contempla a imagem de um ordenamento dos pensamentos inertes, e busca uma totalidade da informação até mesmo das contidas no inconsciente, através de uma coleção de livros dos sonhos.
METODOLOGIA:
A partir da análise da graphic novel Sandman como suporte e orientação para a discussão do tema, ou seja, “problematizar as representações dos objetos, dos colecionadores e dos locais de memória na graphic novel Sandman”, busca-se cotejar os teóricos que norteiam a pesquisa: Pomian (1984) que discute questões acerca das coleções visíveis e invisíveis; Walter Benjamin (2006) que problematiza algumas práticas colecionistas e a relação do colecionador com o objeto e seu entorno; Moles et. al. (1972) que discutem entre outras questões a estética, a funcionalidade, o consumo e a inserção dos objetos na vida cotidiana; Baudrillard (1975) que apresenta uma análise acerca do estatuto do objeto; Rosário (2002) que apresenta uma reflexão do papel da memória a partir da mitologia grega; Milanesi (2002) com os conceitos de biblioteca; e Chevalier; Gheerbrant (2006) que discutem a simbologia do significado do termo sonho.
Esses autores têm contribuído para investigarmos como se dá influência do possuidor (no caso, o colecionador) no uso e na valoração do objeto em mídias de natureza diferenciada, tal como a graphic novel analisada tendo em vista a reflexão sobre os lugares de memória, as coleções e a biblioteca contemplada por Gaiman.
RESULTADOS:
Observou-se a presença de uma coleção de livros que constituem a biblioteca do Sonhar, que é marcada pelo aspecto mágico concebendo uma imagem de biblioteca que compõe a totalidade da memória onde o inconsciente é transmutado em materialidade. Essa biblioteca infinita de “livros sonhados” como representação de uma memória do inconsciente faz parte da formulação de um universo místico alimentado por Neil Gaiman.
As inúmeras referências das quais o autor usa para o mundo de Sandman são pontos de contato com a mitologia universal, sendo os objetos da ficção e os signos por eles suscitados partes de um sistema de códigos onde se identificam memórias. Estas imagens concretizam a formação de um lugar de memória, onde o compartilhamento destes signos por parte dos sujeitos configura uma memória na qual residem elementos de um universo místico ou imaginário.
CONCLUSÃO:
Buscamos investigar a imagem de biblioteca contemplada por Gaiman, onde são preservados os fragmentos dos sonhos, problematizando o reino do sonhar, onde a biblioteca está situada, visando estabelecer uma relação com os locais de memória e as coleções do invisível.
Relacionar coleções e imagens é investigar possibilidades contemporâneas de verificação da concretização de determinadas coleções que passam a redundar ou compor instituições e/ou lugares de memória. Essas, por sua vez, podem abarcar o visível e o invisível em que tanto o imaginário como o simbólico são constituídos com e a partir de uma gama de objetos (simbólicos, imaginários e fantasiosos) [...] até as possibilidades de enxergamos no espaço do imaginário a realização de uma coleção sistematizada ainda que não pertença à ordem do visível ou instituído. (RIBEIRO, 2006, p.3)
Todos os livros já sonhados estão presentes na coleção da biblioteca dos sonhos, caracterizando um espaço de memória de mundo que recupera às informações do inconsciente, pois a memória perdida sonhos está lá: “[...] A biblioteca do sonhar é a maior que já existiu. Todos os seus livros estão aqui. O quê? você não escreveu livro algum? Como não? Eis aqui um deles.” (GAIMAN, cap. 58, p 26).
Palavras-chave: Graphic Novel, Bibliotecas, Coleção.