63ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 2. Lingüística Histórica
VERBOS EXISTENCIAIS: PORTUGUÊS ARCAICO X PORTUGUÊS BRASILEIRO.
Iane Siqueira Correia 1
Marcelo Amorim Sibaldo 2
1. UFRPE/ UAST
2. Prof. Dr./Orientador – UFRPE/ UAST
INTRODUÇÃO:
Este trabalho tem como objetivo principal fazer observações acerca das mudanças linguísticas que ocorreram do século XVII até o século XXI, através de seleção de dados empíricos, a fim de (i) explicitar diacronicamente as variações/ mudanças que ocorreram na cópula, enquanto verbo existencial, mais especificamente, a cópula do português “ser”, e (ii) detectar em que momento começou a surgir o verbo “ter” enquanto verbo existencial no português, aventando algumas hipóteses sobre os fatores que proporcionaram a variação/ mudança dos verbos existenciais no português brasileiro (doravante PB). Os verbos existenciais expressam sentido de existência de alguém ou de alguma coisa, como nos exemplos do português arcaico em (1) e do PB em (2): (1) a. En terra de Campanha foi huu homen muito honrado (= existiu); b. En terra de Sania foi hua vila duu homen. (=existiu) (cf. RIBEIRO, 1996, p.354) (2) a. Foi muita gente naquele show. (=existiu) b. É muito ladrão nesta cidade (=existe).
METODOLOGIA:
Para análise dos dados, utilizamos o aparato teórico da Teoria Gerativa, no seu modelo de Princípios e Parâmetros (cf. CHOMSKY, 1981 e 1986), e, para quantificação de dados, utilizamos a teoria da variação e mudança linguística (cf. LABOV, 1972). Esta pesquisa utilizou o método indutivo e o método de procedimento da pesquisa utilizado foi o comparativo. Sendo assim, através da análise dos dados empíricos obtidos, constatamos diferenças entre o português brasileiro e o português arcaico, no que se refere tanto às sentenças copulares, enquanto verbos existenciais, quanto a outros verbos como o “haver”, “ter” e o “existir”, também existenciais.
RESULTADOS:
Para Silva (1996, p. 186), verbos existenciais são os verbos que ocorrem em estruturas que não selecionam sujeito, mas um sintagma nominal interpretado como complemento direto e um elemento locativo expresso por um sintagma preposicional ou por um seu substituto adverbial (ver os exemplos (1) e (2) acima Gonçalves (2010) observa que o ser existencial concorre com o haver existencial, do Português Arcaico e Clássico ao Português Brasileiro, havendo um destaque maior no uso do haver, sendo que o uso do ser é priorizado em sentenças que há uma concordância entre sujeito e verbo. A partir do século XIV, houve um declínio no uso do ser existencial, que foi perdendo sua força, ao menos na escrita, e a partir do século XVI o verbo haver passou a ter seu uso elevado em relação a ser, nas construções existenciais, ganhando força no decorrer do tempo, tanto na oralidade quanto na escrita. No PB, mais especificamente do século XX, o ser existencial volta a ter um uso maior em relação ao haver existencial, que acaba sendo mais utilizado na língua escrita ou em situações formais. Entretanto, o fato de o ser existencial não estar presente na língua escrita não nos leva a crer que ele perdeu a função existencial, haja vista o seu uso elevado na oralidade, como confirma os nossos dados, colocados em (2).
CONCLUSÃO:
Tendo em vista que a variação linguística é condicionada por fatores linguísticos e sociais, mostramos aqui os resultados de pesquisas que analisam construções existenciais, referentes à variação ter/ ser/ haver. Dentre as duas pesquisas analisadas, podemos constatar que o verbo ser existencial entrou em declínio em favor do haver no PA, e no PB o verbo ter existencial vem afastando haver das estruturas existenciais, embora o verbo haver existencial tenda a ocorrer mais vezes na língua escrita. Pudemos também deduzir, através das pesquisas de Gonçalves (2010), que a hipótese, exposta por Ribeiro (1996), de que o verbo ser foi excluído das construções existenciais não deve ser considerada, tendo em vista que este verbo ainda é presente na oralidade em contextos existenciais. Em Faraco (2007, p. 24-26), essa exclusão do verbo na escrita se explica pelo fato de que a língua escrita é normalmente mais conservadora do que a língua falada e o contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenômenos inovadores em expansão na fala e que não entraram na escrita. O homem tende a procurar evitar no contexto da escrita formas próprias da língua falada espontânea, o que não significa que a fala “simplifique”, mas sim se realize de forma diferente.
Palavras-chave: Português arcaico, Português brasileiro, Verbos existenciais.