63ª Reunião Anual da SBPC |
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 5. Teoria e Análise Lingüística |
DISCURSIVAÇÃO DO PODER POLÍTICO E PERCEPÇÃO DA CORRUPÇÃO EM VEJA |
Thaiane Dutra Luz Costa 1 Vinícius Fonseca-Nunes 1 Jakeline Jesus Abade 1 Mayara Archieris Amorim 1 Edvania Gomes da Silva 1 Maria da Conceição Fonseca-Silva 1 |
1. Depto.de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB/LAPADis 2. Depto.de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade. Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB/LAPADis 3. Depto. de Estudos Linguísticos e Literários, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB/LAPADis 4. Depto.de Estudos Linguísticos e Literários, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - LAPADis/ UESB 5. Profa. Dra./Orientadora – Depto. de Estudos Linguísticos e Literários – UESB/ LAPADis 6. Profa. Dra./ Orientadora – Depto.de Estudos Linguísticos e Literários - UESB |
INTRODUÇÃO: |
Neste trabalho, vinculado ao subprojeto “Mídia, cenas validadas na memória discursiva e sentidos da corrupção política no Brasil”, discutimos questões sobre a corrupção e regulação jurídica do poder político. O fenômeno da corrupção está ligado a valores morais, sociais, à educação e à cultura de um país. Diversas entidades públicas e privadas, preocupadas com a crise moral da administração pública, fizeram pesquisas sobre o tema e concluíram que, na opinião da maioria dos entrevistados, as instituições políticas, em geral, não são confiáveis. Essas pesquisas serviram também, ao lado do aparato teórico-analítico da Análise de Discurso (AD), de base teórica para a análise de materialidades encontradas em reportagens da revista Veja. A pesquisa produzida pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) – "Imagem das Instituições Públicas Brasileiras" – descreve a imagem das instituições públicas e da política brasileiras diante da sociedade, bem como o nível de confiança da sociedade em tais instituições. Ainda, o órgão Transparency International (TI) produz todos os anos uma pesquisa indicando o índice de Percepção de Corrupção dos países a partir de questionários feitos a estrangeiros e a cidadãos destes países. |
METODOLOGIA: |
A entrada analítica no corpus que analisamos foi possibilitada por textos sobre Direito, poder político e corrupção, que serviram como recursos teóricos para a produção da pesquisa, assim como estudos produzidos por organizações nacionais como a AMB – A Imagem das Instituições Públicas Brasileiras – e internacionais como a TI sobre o Índice de Percepção de Corrupção (IPCorr). No que diz respeito às formulações em Veja, foram identificadas e selecionadas reportagens relacionadas ao tema “corrupção política no Brasil”, durante os dois mandatos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, mais especificamente no período de janeiro de 2003 a dezembro de 2009. As reportagens selecionadas serviram como materialidade significante da pesquisa, analisável pelo dispositivo teórico-analítico da AD, associado a outras teorias bem como às pesquisas mencionadas anteriormente. |
RESULTADOS: |
Os resultados indicaram que a credibilidade da sociedade nas instituições públicas brasileiras é cada vez menor, de acordo com as pesquisas também utilizadas como parâmetros na pesquisa. Nas formulações analisadas, os fenômenos de corrupção são discursivizados como causadores de indignação, ainda que não tenham sido juridicamente comprovados. Assim, a simples menção de atos corruptivos, ainda que não provados, já indicam o sentimento de descrença e de falta de credibilidade da população em relação a instituições brasileiras. Os resultados indicam ainda que as instituições que tratam do combate à corrupção possuem maior credibilidade frente à população, mesmo que nelas sejam pontuados casos sobre corrupção, a exemplo da Polícia Federal, que desempenha, conforme se discursiviza, um papel “higienizador”; que o número de reportagens veiculadas no primeiro ano do Governo Lula (2003) foi relativamente baixo comparado aos anos seguintes, que indicam um acréscimo de até 376% em relação ao ano de 2005, ano de pré-eleição; que, neste período, houve um acompanhamento midiático intenso em relação às atividades políticas no Governo Lula, o que não significa que tenha necessariamente havido mais episódios de corrupção durante esse período. |
CONCLUSÃO: |
Os resultados indicaram que, no encontro da memória com a atualidade, a corrupção política é uma realidade no Brasil, desenvolvendo-se mais em sistemas nos quais i) há regras pouco claras e contraditórias; ii) nos quais a inexistência de um sistema de prestação de contas ou fiscalização reduz a chance de descoberta do ato; iii) naqueles cujas penalidades são baixas; iv) nos quais há possibilidade de postergar a aplicação das penalidades por meio de recursos. Ademais, o sentimento de desconfiança e a falta de credibilidade no que tange às instituições políticas brasileiras não existem apenas para os casos em que a autoria do ato corruptivo, enquanto fenômeno de ilegalidade, é comprovada, bastando, portanto, que exista a suspeita. Não obstante, baseados nas materialidades analisadas, que se relacionam à memória discursiva sobre a corrupção, foi observado que algumas instituições possuem maior credibilidade perante a sociedade, ainda que sejam alvos de tais fenômenos socialmente reprovados. O fenômeno da corrupção é permeado por uma memória de afronta à moralidade social e à justiça, cuja punição efetiva é vista como possibilidade distante. Os resultados das análises indicaram que paira uma sensação de impunidade que acompanha o incômodo social causado pela prática da corrupção. |
Palavras-chave: Corrupção, Mídia, Política. |