63ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 5. Sociologia Rural |
RESÍDUOS SÓLIDOS, DESENVOLVIMENTO RURAL E SUSTENTABILIDADE: UM EQUILÍBRIO DISTANTE |
Josie Melissa Acelo Agricola 1,2 Alexandre Rodrigo Choupina Andrade Silva 3 Divina Aparecida Leonel Lunas Lima 4 |
1. Coordenação Administrativa - Universidade Federal de Goiás 2. Professora de Administração - Universidade Estadual de Goiás 3. Setor de Desenvolvimento Rural – Universidade Federal de Goiás 4. Professora de Economia - Universidade Estadual de Goiás - UnU Santa Helena de Goiás |
INTRODUÇÃO: |
A busca pelo Desenvolvimento Rural Sustentável parte de uma insatisfação com os padrões atuais de produção no campo. A agricultura convencional ou moderna trabalha com base em um modelo produtivo que busca a produtividade e almeja objetivos econômicos, demonstrando pouca preocupação com a preservação ambiental ou com as necessidades das gerações futuras. No meio rural encontram-se embalagens de fertilizantes, produtos agroquímicos dispostos em frascos e sacos plásticos e outros resíduos de toda ordem, acumulando-se devido a formas inadequadas de eliminação. A disposição inadequada do lixo está ligada a diversos aspectos, com os sanitários, ambientais e operacionais (IPT/CEMPRE, 2000), além de tecnológicos, culturais e econômicos. O que se pretende com este trabalho é verificar como os produtores rurais lidam com a temática ambiental; como se dá a geração do lixo; como este é armazenado; qual o destino final, e o pensamento dos produtores a cerca das questões de sustentabilidade e competitividade mediadas pelo meio ambiente, delineando uma visão sobre o desenvolvimento rural sustentável e sobre a gestão dos resíduos gerados pelas lavouras de soja. |
METODOLOGIA: |
Este estudo consiste em uma pesquisa realizada no meio rural de Pontalina, município da região Sul do Estado de Goiás, com a intenção de investigar as formas de manejo dos resíduos provenientes da produção de soja. A construção desse trabalho constou de uma pesquisa de campo, da safra 2007/2008, desde o plantio até a colheita. Foram feitas três visitas a cada uma das 10 lavouras estudadas. As visitas ficaram definidas: na primeira, fez-se um acompanhamento na preparação das terras e do plantio, foram visualizados os barracões, o armazenamento dos produtos fitossanitários, a disposição dos resíduos da atividade, o tratamento das sementes e o plantio. Na segunda, acompanharam-se as aplicações de defensivos agrícolas e adubação química. Nesse momento, visualizou-se como os funcionários cuidam da água no momento da captação. Verificou-se como é feita a lavagem das embalagens de agrotóxicos, o manejo e como essas são dispostas após o uso. A última visita contemplou o momento da colheita, em que se buscou verificar os efeitos impactantes dessa etapa. Para melhor conhecer a geração, armazenamento e destinação final dos resíduos gerados pela cultura de soja, bem como a percepção que os produtores possuem quanto às suas atividades em relação a noções de desenvolvimento rural e sustentabilidade, foi realizada uma entrevista com cada agricultor responsável pelas lavouras estudadas. |
RESULTADOS: |
Inicialmente o que chamou a atenção foi a quantidade de embalagens de óleos, estopas sujas de óleo, sucatas enferrujando e restos de madeiras, dispostos de maneira incorreta pela propriedade. Na maioria das propriedades a armazenagem dos agrotóxicos não segue a legislação. Em 9 das 10 entrevistadas, as embalagens vazias são guardadas sem as tampas. Na maioria dos locais destinados para armazenamento, o amontoado de galões de plástico guardados exala mau cheiro, indicando que a lavagem não é feita da maneira que os proprietários afirmam que fizeram, embora todos garantissem fazer a tríplice lavagem. Essa prática impossibilita que seja feita a reciclagem do material. Foi comprovado através de verificações no local, e ainda com pesquisa documental na Central de Recebimentos de Embalagens Vazias, que apenas uma propriedade não faz a devolução, este inclusive armazena suas embalagens há mais de 5 safras contínuas sem lavá-las, em um local totalmente fora das normas. Todas as propriedades queimam seu lixo. Apenas um dos agricultores pesquisados respondeu que gera poluição atmosférica, líquida e sólida. A maior parte deles disse que a evaporação dos agrotóxicos é uma poluição atmosférica, e ainda afirmaram que suas lavouras geram resíduos líquidos. Alguns produtores consideram a geração de resíduos sólidos. Os demais acreditam que a partir do momento em que as embalagens são devolvidas, não há mais poluição. |
CONCLUSÃO: |
O lixo rural ainda é pouco discutido e estudado, sendo dedicados poucos recursos específicos para a busca de estratégias que minimizem esse problema. As dificuldades dos moradores rurais em dar uma destinação mais adequada ao seu lixo envolvem educação, cultura e ainda logística, infra-estrutura e recursos. Diante dessas dificuldades o produtor rural acaba dando uma destinação inadequada ao seu lixo para não ser necessário conviver com ele. Se for considerado em termos sistêmicos que cada bioma é um elo constituinte de um grande sistema, qualquer dano causado ao bioma Cerrado desencadeará uma série de problemas em todos os demais, pois não é possível pensar em meio ambiente fragmentado, todos os elementos estão unidos e interligados. Partindo dessa idéia, não há como pensar o ser humano separado do meio ambiente. Pode-se dizer, sem dúvida, que foram colocadas em risco nos últimos 10 anos parte significativa das riquezas naturais e culturais acumuladas durante séculos (DUARTE e BRAGA, 1998). Portanto, é necessário que se desenvolvam políticas públicas voltadas para a instrumentalização dos produtores rurais, no sentido de apoiá-los e incentivá-los no momento em que for necessário, para possibilitar que todo o lixo das lavouras venha a ser destinado adequadamente. |
Palavras-chave: Resíduos Sólidos, Desenvolvimento Rural e Sustentabilidade, Lavouras de Soja. |