63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências
A BOLSA AMARELA: REFLEXÕES SOBRE O ENSINO DE CIÊNCIAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Laís de Paula Pereira 1
Simone Rocha Salomão 2
Daniel Trinta Figueira Louro 1
1. Instituto de Biologia - UFF
2. Profa. Dra./ Orientadora - Faculdade de Educação - UFF
INTRODUÇÃO:
Diversas pesquisas discutem a relevância do Ensino de Ciências em todos os segmentos de ensino. No âmbito da Educação Infantil, o trabalho com temas científicos contribui para o início da alfabetização científica das crianças e para sua formação integral, promovendo junto a elas a construção de significados para o mundo natural e social, ampliação de vocabulário, desenvolvimento de habilidades e aquisição de valores. Nessa faixa etária, podemos destacar as atividades práticas como metodologias privilegiadas, que exploram elementos lúdicos e possibilitam uma abordagem significativa dos conteúdos, despertando o interesse dos pequenos e explorando sua capacidade para caminhar em direção ao universo científico. Este estudo, desenvolvido no contexto de um projeto de extensão universitária, teve como objetivo refletir sobre o ensino de Ciências na Educação Infantil, discutindo alguns de seus aspectos teórico-metodológicos. Foi dada ênfase ao desenvolvimento de atividades práticas partindo de texto literário e contação de história, analisando-se o potencial da literatura como articuladora da aprendizagem em Ciências, a partir de evidências de aprendizagens pelas crianças. Procurou-se, ainda, entender a importância da produção de linguagem pelas crianças em seu processo de aprender.
METODOLOGIA:
Foi realizado um conjunto de atividades baseado em uma adaptação do livro A Bolsa Amarela, de Lygia Bojunga. Em analogia a um embornal de coleta, utilizado por naturalistas em expedições, foram confeccionadas bolsas amarelas que foram utilizadas pelas crianças nas atividades. Estas se desenvolveram em dois dias de aula e consistiram em: (i) leitura da história utilizando elementos de contação, como fantoche, uma grande bolsa amarela, recursos de voz e som e outros objetos. Ao final foram distribuídas as bolsas amarelas contendo lupas, pinças e potes; (ii) produção de desenho pelas crianças, mostrando o que gostariam de colocar dentro de sua bolsa; (iii) saída ao Campus para observação e coleta, com percurso previamente definido; (iv) na volta à Creche, foi desenvolvida uma roda de conversa e a organização e classificação dos objetos coletados, a partir de critérios definidos pelas crianças; (v) produção de gráficos de colunas, mostrando a quantidade dos elementos coletados; (vi) na aula seguinte, roda de conversa, discutindo sobre o que mais gostaram na saída ao Campus e, a partir das respostas, produção coletiva de gráfico de colunas. As produções das crianças e o registro de suas falas e reações durante as atividades constituíram-se objeto de análises qualitativas.
RESULTADOS:
A leitura da história A Bolsa Amarela mostrou como elementos de contação dão vida à trama e interessaram às crianças, envolvendo-as na história. Cada uma delas recebeu uma pequena bolsa amarela de brim, como analogia a um embornal de coleta. Os desenhos produzidos, mostrando o que gostariam de colocar na bolsa, explicitaram a apropriação de conteúdos da história e a expressão de elementos trazidos por eles. A saída ao Campus, com a bolsa contendo lupas, pinças e potes diversos, instigou a capacidade de observação e de manipulação dos objetos em questão, reconhecendo-os como instrumental de cunho científico. O material coletado foi organizado e descrito a partir de critérios dados pelas crianças, que puderam, também, experimentar a produção de gráficos, utilizando desenhos e números para quantificar aspectos da saída ao Campus. As crianças compartilharam seus conhecimentos e experiências prévias sobre os temas, enriquecendo a aprendizagem sobre os mesmos. Foi evidenciada a ampliação e o aprimoramento de seu vocabulário. Ao final das atividades, consideramos que a concepção das crianças sobre Ciência/Biologia foi alterada, ampliando seus sentidos.
CONCLUSÃO:
As atividades buscaram produzir afetos, apostando no contato com o outro para criar e ser capaz de transmitir, trocar e crescer. Entendemos que dar lugar e consequências à fala dos pequenos favorece a inclusão destes no mundo, enquanto sujeitos históricos e sociais. Fugindo da tradicional prática escolar, em que conteúdos conceituais são preponderantes, foi dada maior ênfase aos conteúdos atitudinais e procedimentais. Percebemos que para tornar temas científicos significativos é preciso responder aos interesses das crianças e nos ocuparmos mais com as perguntas do que com as respostas, com o intuito de continuar alimentando sua postura investigativa. As atividades desenvolvidas devem traçar um diálogo entre os temas abordados e o que as crianças pensam. Deste modo, elas têm oportunidade para apropriar-se dos significados das palavras, compreender os contextos em que são utilizadas e construir conhecimentos no que diz respeito ao mundo, à sociedade em que vivem, à natureza e a si próprias. O fato de as crianças terem o primeiro contato com a Biologia de forma lúdica, a Ciência dialogando com a literatura e a arte, permite que, desde cedo, ocorra uma ampliação no conceito do que vem a ser a Ciência e suas diversas formas de ser trabalhada, olhada e sentida.
Palavras-chave: Ensino de Ciências, Educação Infantil, Literatura.