63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 4. Sociologia do Trabalho
Homens no eito, mulheres em casa: estudo acerca do cotidiano das famílias de cortadores de cana-de-açúcar em Alagoas.
Ágatha Costa Salcedo 1
Belmira Rita da Costa Magalhães 2
1. Graduanda - Instituto de Ciências Sociais - UFAL
2. Profa. Dra./Orientadora - Instituto de Ciências Sociais - UFAL
INTRODUÇÃO:
Este relatório integra os estudos do Grupo de Pesquisa Trabalho e Capitalismo Contemporâneo do Instituto de Ciências Sociais. A pesquisa apresenta como tema geral as relações sociais desenvolvidas na atividade agroindustrial canavieira no estado de Alagoas, e, mais especificamente as relações de gênero a partir da presença da mulher trabalhadora na agroindústria alagoana, seja ela enquanto força de trabalho direta do setor, ou indiretamente como suporte da reprodução familiar do canavieiro em atividades outras que contribuem para o sustento da mesma. No plano geral, a gestão da força de trabalho na agroindústria canavieira baseia-se em formas degradadas de assalariamento, marcadas pela flexibilidade do vínculo empregatício, desembocando numa superexploração. E para que se garanta a execução do trabalho realizado no eito, faz-se necessária uma rotina nas casas desses cortadores capaz de garantir a manutenção e a reprodução do trabalhador do corte da cana. Sabemos que para cada forma de produção se faz necessária uma forma de reprodução. A composição físico-biológica feminina acaba auxiliando a decisão social de serem elas a parcela da população tida como a aquela ligada, à reprodução, existe uma necessidade econômico-social de que se garanta tal reprodução.
METODOLOGIA:
Aliamos uma metodologia de caráter qualitativo e dados quantitativas, na tentativa de operacionalizar a verificação de nossas hipóteses. Aplicamos entrevistas com cortadores de cana e suas esposas, buscando esquadrinhar as práticas sociais da organização da vida doméstica e da família dos trabalhadores canavieiros, tendo em vista a importância de ambas na reprodução da força de trabalho. Tais entrevistas foram aplicadas no conjunto residencial Denisson Menezes, na cidade de Maceió-AL, onde os entrevistados moram. As entrevistas com as esposas seguiram um roteiro (semi-estruturado) diferenciado, visando apreender a rotina de seus lares e como o trabalho doméstico subsidia o trabalho realizado pelos cortadores de cana, bem como, apreender de que outras formas as famílias conseguiam aumentar suas rendas no período da entressafra. As entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra, analisadas qualitativamente, onde suas informações foram separadas por temáticas de discurso (atividade de manutenção da casa e do trabalhador, trabalho doméstico remunerado, renda familiar, políticas públicas), em seguida, em dois grandes grupos temáticos. Para a análise qualitativa das temáticas, utilizamos o método de análise do discurso.
RESULTADOS:
A partir do discurso dos entrevistados, percebemos que as mulheres têm suas dinâmicas guiadas pelo ciclo da cana-de-açúcar e pela reprodução do trabalhador: Quem é que prepara a comida do senhor, a sua esposa? “É minha esposa, ela prepara a comida de madrugada. É, duas horas. Eu fico descansando e ela fica fazendo a comida, quando ela faz a comida e chega no horário, ela vai e me chama, ai eu saio pra trabalhar”. Grande parte das esposas exercem tarefas domésticas não remuneradas, ou seja, em seus lares. E, ao trabalharem fora dos lares, continuam executando tarefas restritas à esfera doméstica, na casa de outras mulheres, que contratam seus serviços e assim garantem a manutenção de suas casas: A senhora ganha um dinheirinho fazendo alguma coisa? “Eu sempre ganho alguma coisa assim: eu arrumar um lavado de roupa, uma faxina”. Percebe-se na fala de alguns canavieiros que o trabalho doméstico vive um processo de invisibilidade. Além disso, a renda que chega à família por meios destas não é considerada indispensável: O senhor acha que a renda que sua esposa tem, das atividades que faz (bicos) é importante pra complementar o dinheiro em casa? “Não é não importante. Não faz diferença, “ne”? Ela ganhando essa grana ou não. Eu que tenho que batalhar pra não deixar faltar nada, né?”
CONCLUSÃO:
As vidas das companheiras de cortadores de cana têm uma especificidade: Está intimamente ligada ao ciclo da cana-de-açúcar, criando para estas uma dinâmica muito específica. Suas rotinas e horários são estipulados e manejados para garantir a manutenção e a reprodução (física e biológica) do trabalhador do corte da cana.Não há por parte delas uma reflexão acerca da importância do trabalho que executam. Suas rotinas são repetidas dia após dia, diferenciando-se apenas quando se modifica o período da cana-de-açúcar (safra e/ou entressafra), e encaradas como algo que não precisa ser questionado. A naturalização da divisão sexual do trabalho é latente em seus lares, ao educarem seus filhos, estipulam desde cedo qual o papel do homem e qual o papel da mulher na sociedade, dando aos garotos obrigações distintas das quais incubem as meninas, perpetuando assima ideologia dominante. A causa da demarcação de papéis se encontra na necessidade de barateamento da mão-de-obra, porém destaca-se o papel das políticas compensatórias (políticas públicas), que atuam na manutenção do quadro vigente.
Palavras-chave: trabalho, agroindustria, trabalho doméstico.