F. Ciências Sociais Aplicadas - 13. Serviço Social - 5. Serviço Social da Saúde |
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A REINSERÇÃO SOCIO-FAMILIAR DO SUJEITO LOUCO:
CONFLITOS E DESAFIOS PARA SE TORNAR UM "ESTRANHO" FAMILIAR. |
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Ronaldo Alves Duarte 01, 02
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1. Prof. Msc. Curso de Serviço Social - Faculdade Divinopolis - FACED 2. Aluno Especial do PPG em Ciências Sociais - PUC-MG
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INTRODUÇÃO: |
Como é sabido, as atuais políticas públicas brasileiras de saúde mental vêm orientando a reinserção social do portador de sofrimento mental, considerando, principalmente, a família como um agente essencial para o alcance dos resultados efetivos no projeto de elevar o sujeito louco à condição de cidadão, fazendo valer os preceitos da Constituição de 1988. No entanto, ao nível dos cenários reais que constituem as urbes brasileiras, muitos são os conflitos e desafios surgidos dessa demanda deflagrada pelas políticas públicas de saúde, em particular para os profissionais que atuam nos Serviços de Referência em Saúde Mental existentes em muitos municípios do país. Ao mesmo tempo, uma ilusão de melhoria no trato social para com os portadores de sofrimento mental “devolvidos” à sociedade vem sendo alimentada por iniciativas ora públicas, ora privadas, mascarando uma realidade com a qual profissionais como os Assistentes Sociais entram em contato quase que diariamente quanto atuam nos Serviços de Referência em Saúde Mental. |
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METODOLOGIA: |
Sendo fruto de uma pesquisa de natureza qualitativa, o presente trabalho se valeu de alguns dos conceitos apresentados e problematizados pela disciplina Socioantropologia Urbana, cursada no PPG em Ciências Sociais da PUC-MG. Especificamente para esta parte da pesquisa, grande relevância teve a revisão crítica dos conceitos desenvolvidos por Goffman (1988), o que nos estimulou a questionar: como estariam os ditos “normais” reagindo à possibilidade de o portador de sofrimento mental fazer parte dessas “categorias sociais” existentes no horizonte de expectativa do convívio social urbano? Buscando responder a essa questão, procurou-se dar voz a pacientes e familiares de usuários de um Serviço de Referência em Saúde Mental de uma cidade média do interior de Minas Gerais, através de entrevistas gravadas, depois transcritas e analisadas. Concomitantemente a essa coleta de dados realizou-se uma revisão de literatura que considerou autores como Amarante (1995 e 2003), Brasil (2004), Duarte (2008), Foucault (2004), Goffman (1988) e Resende (2001). Esta, por sua vez, procurou apreender informações sobre como, quando e por que o louco foi retirado de seu estado livre, passando a ser excluído e enclausurado nos porões e muros das instituições psiquiátricas. |
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RESULTADOS: |
Verificou-se que durante a história da humanidade, pelo menos no que se refere ao Ocidente, todo um processo de exclusão social do sujeito louco veio ocorrendo, dando lugar a uma extensa trajetória de estigmatização do portador de sofrimento mental. Isso, para dizer nos termos de Goffman (1988), significa que, graças a um sem-número de refinadas estratégias, o sujeito louco foi deixando de ser uma pessoa prevista nas relações sociais dos habitantes das cidades. Com isso, ele passou a ocupar espaços muito mais míticos, em muitos casos associados a assombrações, medos e lendas urbanas. Por sua vez, consequências desse processo puderam ser percebidas nas falas coletadas junto aos sujeitos de pesquisa, as quais apontaram para nítidas demonstrações de intolerância tanto para com os portadores de sofrimento mental “devolvidos” à sociedade, quanto para com os familiares destes. Relatos de deboches públicos, provocações constantes por parte de crianças e de adultos evidenciaram 1) que a reinserção do portador de sofrimento mental ainda está longe de se materializar; 2) que ela desafia os horizontes de expectativa dos ditos “normais”, que reagem com denúncias reiteradas e muitas vezes infundadas a autoridades, exigências de retirada dos portadores de sofrimento mental do convívio social. |
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CONCLUSÃO: |
Nota-se, portanto, que o maior empreendimento que a reinserção sócio-familiar do portador de sofrimento mental impõe aos nossos tempos não é mais o de extinguir os manicômios em suas estruturas físicas. Tal desafio constitui, sim, em fazer ruir uma cultura manicomial simbólica que veio sendo paulatinamente construída através da história ocidental, transformando o sujeito louco em mais um dos tantos tipos estigmatizados que frequentam as nossas cidades. Nestes termos, a atuação do assistente social – dada a sua formação interdisciplinar e seu olhar apurado para ver possibilidades de soluções nos próprios cenários em que os conflitos aparecem – vislumbra-se como positiva para tornar o sujeito louco um tipo possível no nosso horizonte de expectativas existenciais dos membros de nossas sociedades urbanizadas. |
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Palavras-chave: Portador de sofrimento mental, reinserção social, conflitos e desafios. |