63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 6. Sociologia Urbana
REPRESENTAÇÕES TELEVISIVAS SOBRE O COMPORTAMENTO DOS JOVENS EM GOIÂNIA: UM ESTUDO ACERCA DA TEORIA DO RÓTULO E DA SUJEIÇÃO CRIMINAL
Guilherme Borges da Silva 1
Dalva maria Borges de Lima Dias de Souza 2
1. Graduando/ Faculdade de Ciências Sociais - UFG
2. Profa. Dra./ Faculdade de Ciências Sociais - UFG
INTRODUÇÃO:
Os estudos sobre a juventude voltou à agenda dos pesquisadores das ciências sociais num momento de retomada de uma intensa discussão dos parâmetros de análise da vida social. Para entender essa nova dinâmica, surge alguns estudos, como os das tribos urbanas de Mafessoli (1988), que procura estabelecer novos parâmetros de análise e evidenciar, nesse cenário de mudanças, as subculturas juvenis. Pensando essa questão, os estudos da sociologia do desvio analisaram formas divergentes de comportamento social. Assim, as subculturas juvenis passaram a ser uma preocupação dos pesquisadores, principalmente quando se associa a elas a questão da violência seja aquela praticada pelos jovens seja contra eles. Ainda que os jovens de famílias de baixa renda e espacial e socialmente segregadas sejam as vítimas preferenciais do crime e da criminalização, não há como desconhecer que a violência atinge, de forma indiscriminada, os jovens independentemente da classe social a que pertencem. Diante disso, a pesquisa teve por objetivo compreender quais são as representações que alguns programas televisivos têm concebido sobre a juventude e, com isso, identificar se podemos pensá-los a partir de subculturas juvenis e perceber se nas imagens e nos discursos propagados existe indícios que apresenta esses grupos com características violentas
METODOLOGIA:
Pensar a cultura é discutir a relação entre o sujeito e a sociedade. Para tal questão, é preciso considerar todo processo sócio-histórico que narra a vida de um indivíduo. Essas relações são permeadas, segundo Pierre Bourdieu (1974), de sentidos e valores conceituados pela cultura, que por sua vez, é resultado da produção, circulação e consumo de significações na vida social. Diante disso, a pesquisa se utilizou do referencial teórico/metodológico de John B. Thompson. Sua teoria se desenvolve às bases de uma teoria social que não seja especializada no campo dos estudos de comunicação, mas que confiram à mídia um papel de destaque na compreensão da sociedade moderna. Portanto, a proposta de Thompson é analisar as formas simbólicas e mostrar como se dá a construção do sentido e como este é mobilizado para produzir e reproduzir relações de dominação, que o autor entende não apenas como as relações de classe, mas todas as relações sociais em que existe desigualdade em determinado contexto histórico-social. Para tal compreensão, Thompson desenvolveu a chamada Hermenêutica de Profundidade. A Hermenêutica de Profundidade (HP) de Thompson prioriza o estudo da produção de sentido, passando pela análise sócio-histórica, análise formal ou discursiva e, por fim, pela e a interpretação ou reinterpretação. Assim, para a análise dessa pesquisa será utilizado as gravações realizadas em março a junho do programa Chumbo Grosso da TV Goiânia.
RESULTADOS:
O telejornalismo “Chumbo Grosso” da TV Goiânia, apresentado por Batista Pereira e transmitido de segunda a sexta para todo o Estado de Goiás. O programa apresenta notícias de crime e transmite imagens fortes e sem censura de latrocínios, assassinatos, espancamento e outras modalidades de crime. Apesar de suas especificidades, o “Chumbo Grosso” se assemelham àqueles programas que se utiliza de estratégias de dramatização das notícias apresentadas, espetacularizando-as. A notícia escolhida para essa análise mostra a apreensão de dois jovens acusados de praticar assalto no setor dos Afonsos em Goiânia, as imagens mostram ambos os rapazes de bermudas, sandálias havaianas e um dos rapazes com a camisa do Goiás Esporte Clube. O fato instigante é a maneira como as imagens são construídas, já que a lente da câmera enfatiza de cima para baixo as vestias dos dois garotos e as tatuagens nas pernas, além disso, destaca várias vezes a camisa do time do Goiás. Quando perguntado a um dos jovens sobre o assalto, ele afirma a denúncia e diz que é a primeira vez que ambos praticaram algum ato criminoso. Após encerrar a reportagem entra a imagem do apresentador no estúdio que propaga o seguinte discurso "Infelizmente é triste né, eu sempre fico chateado quando vejo jovens entrando para o mundo do crime, 'ah é a primeira vez' (o apresentador repete a fala do jovem preso), eu já te disse não vai nessa de primeira vez não, porque pode não ser a primeira vez, pode não ter retorno"
CONCLUSÃO:
Essas imagens, quando repetidas, se tornam, segundo a concepção de Bourdieu, um fator omnibus, isto é, cria-se no imaginário social uma unanimidade em respeito a algo ou alguma coisa, no caso sobre o perfil ideal do delinqüente juvenil. As imagens de crimes apresentada, principalmente, em telejornais tem a capacidade de transmitir ao seu observador um processo de internalizar certos reflexo daquilo que pode ser considerado perigoso, assim, os noticiários de comportamentos desviantes transmitidos por essas mídias estão recheados de imagens fortes e de narrativas comoventes que gera medo, fazendo com que os leitores associem as imagens de criminosos com os crimes, possibilitando que o imaginário social crie rótulos com as características físicas e psicológicas dos criminosos. O fato mais problemático da teoria da rotulagem se explicita quando esses rótulos são assumidos por determinados grupos sociais. Ao assumir esse rótulo como verdadeiro, o indivíduo rotulado pode ser submetido a um processo de sujeição criminal, no qual determinados grupos sociais são apresentados e reconhecidos preventivamente como supostos sujeitos do crime. Ou seja, os grupos classificados pela sujeição criminal são vistos como potencialmente dotados de uma disposição para o cometimento de ações criminosas. A principal conseqüência desse processo de sujeição, motivado pela reprodução dos estigmas territoriais, é a formação de um quadro amplo de sujeição criminal dos mais pobres e das áreas periféricas.
Palavras-chave: Juventude, Violência, Representação Social.