63ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 4. Saúde Pública
DESCARTE DOMICILIAR DE MEDICAMENTOS: CONCEPÇÕES DE UM UNIVERSO ACADÊMICO
Humberto Furtado 1
Roberto Vicente de Araújo 1
Talita de Amorim Cunha 1
Lariza Valoes Carvalho 1
Joyce Villa Verde Bastos 1
Reginaldo Teixeira Mendonça 2
1. Faculdade de Farmácia - UFG
2. Prof. Dr./Orientador -Faculdade de Farmácia - UFG
INTRODUÇÃO:
A massificação do consumo de medicamentos industrializados é pouco analisada como questão ambiental. Sabe-se que o fácil acesso incentivado pela relação serviço de saúde e o seu comércio gera um estoque de medicamentos nos domicílios, que podem ser descartados de forma indevida, sendo colaborados pela ausência de regulação e normas ambientais. Desse modo, medicamentos domiciliares vencidos são comumente descartados em pias, vasos sanitários e lixo doméstico, o que leva esses compostos às estações de tratamento de esgoto, que não conseguem remover eficientemente todos os resíduos gerados, ou ao aterro sanitário, contribuindo para a absorção de contaminantes no solo. Pesquisas revelam o potencial de toxicidade ambiental de muitos fármacos e a grande alteração que estes podem causar na cadeia alimentar e no equilíbrio ecológico. Objetivando integrar educação em saúde e ambiental e avaliar como são descartados os medicamentos no meio ambiente, buscou-se analisar as práticas e as concepções de estudantes e funcionários da Faculdade de Farmácia da UFG (FF-UFG) quanto ao descarte de medicamentos, informando-os e incentivando-os a divulgar as práticas mais adequadas quanto ao descarte destes resíduos.
METODOLOGIA:
A pesquisa se deu pela aplicação de questionário estruturado e auto-aplicado aos discentes do 1° ao 10° período do curso de Farmácia e aos funcionários da Faculdade de Farmácia da UFG, sendo caracterizado como um estudo descritivo (projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFG). O recrutamento dos indivíduos na pesquisa foi feito de forma oral, apresentando os motivos e objetivos da pesquisa, explicando o termo de consentimento livre e esclarecido e solicitando o preenchimento do questionário. Desse modo, os critérios para participarem da pesquisa foram: pertencer ao público selecionado, ter idade igual ou superior a dezoito anos e consentir com a participação. Após o preenchimento dos questionários, os entrevistadores deste projeto explicaram a importância de fazer o descarte em locais que não prejudiquem o meio ambiente e a saúde da população, convidando os entrevistados para trazerem, caso houvesse, os medicamentos vencidos de suas residências à Farmácia Escola da FF-UFG, durante os meses de Outubro e Novembro de 2010, período da coleta de dados. O software Epi Info™ versão 3.5.1 foi utilizado para o tratamento dos dados obtidos e os medicamentos recolhidos foram identificados, sendo elaborada uma tabela descritiva relacionando os mesmos.
RESULTADOS:
Foram entrevistadas 281 pessoas (64,5% dos integrantes da FF-UFG) – 219 estudantes e 62 funcionários. 74,4% dos entrevistados descartam os medicamentos no lixo comum, 5,3% em pias e 3,9% em vasos sanitários. Este modo de descarte pode gerar contaminações do solo e da água e intoxicações. As ações para um descarte adequado dos medicamentos deveriam envolver farmácias e drogarias da rede pública e privada, visto que 98,6% dos entrevistados responderam que adquirem seus medicamentos nestas e 14,6% naquelas. Comprimidos/cápsulas e pomadas/cremes foram assinalados como os que mais vencem no ambiente doméstico, respectivamente 59,8% e 54,1% dos entrevistados. A automedicação pode apresentar relação com o vencimento, pois 47,40% disseram adquirir os medicamentos que deveriam ser dispensados mediante prescrição médica sem apresentação desta. O acompanhamento apropriado dos tratamentos por profissionais de saúde e a criação de normas sanitárias poderiam colaborar para o não vencimento dos medicamentos, visto que responderam como motivos para o vencimento: não cumprir o tratamento médico (47%), embalagem com mais comprimidos do que o prescrito (73,7%), compra induzida em farmácias e drogarias (18,9%), substituição do tratamento médico (35,9%), efeitos indesejados dos medicamentos (29,9%).
CONCLUSÃO:
Partindo do ambiente acadêmico, mostrou-se a necessidade de relacionar consumo de medicamentos com questões ambientais. Segundo a legislação vigente, os geradores de resíduos são os responsáveis por seu destino final, mas nesse caso a indústria farmacêutica se isenta de tal responsabilidade, onerando o próprio Estado, que se vê responsável pelos resíduos domésticos. Mais pesquisas também são necessárias no sentido de propor tratamentos para esses resíduos menos nocivos do que a incineração, técnica atualmente utilizada. Considerando a participação na campanha de coleta, pode-se constatar que a aceitação do publico alvo foi considerável e que este tomou conhecimento da problemática trabalhada. Questões ambientais envolvendo os medicamentos devem ser colaboradas por ações intersetoriais, desenvolvidas pela co-relação entre o controle do consumo, o uso correto e o modo como são descartados. Esta descrição do “caminho ambiental” dos medicamentos vencidos poderá colaborar para desenvolver estratégias para conter os impactos no meio ambiente e na saúde da população.
Palavras-chave: Farmácia, Saúde Pública, Educação Ambiental.