63ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 11. Morfologia - 3. Citologia e Biologia Celular
ANÁLISE MORFOLÓGICA DO TESTÍCULO DA ESPÉCIE BIOMONITORA Poecilia reticulata (CYPRINODONTIFORMES, POECILIIDAE)
Fernando Santiago Pires 1
Alex Rodrigues Gomes 1
Priscila Cândida Miranda 1
Priscila Cândida Miranda 1
Thiago Lopes Rocha 1
Simone Maria Teixeira Sabóia-Morais 1
1. Depto. de Morfologia, Instituto de Ciências Biológicas (ICB) – UFG
INTRODUÇÃO:
Poluentes aquáticos emergentes conhecidos como disruptores endócrinos (DE) podem alterar o desenvolvimento e a reprodução dos peixes. Esses tóxicos podem modificar o comportamento e as características sexuais secundárias, além de induzirem alterações a nível celular e tecidual das gônadas de machos e fêmeas de teleósteos, e alterarem a taxa reprodutiva da espécie. As histopatologias do sistema reprodutor de peixes têm recebido atenção especial no biomonitoramento da poluição aquática por DE, principalmente porque elas integram múltiplos processos celulares e fisiológicos. Desse modo, faz-se necessário o estudo da histologia gonadal normal de espécies biomonitoras para padronização de análises dos efeitos tóxicos dos DE. Dentre as espécies de peixes utilizadas para teste de toxicidade e biomonitoramento da poluição aquática, destaca-se o Poecilia reticulata, espécie de pequeno porte com fecundação interna, dimorfismo sexual e a nadadeira anal modificada em gonopódio. Nesse sentido, pretendeu-se nesse trabalho descrever a morfologia normal dos testículos de P. reticulata com o intuito de contribuir com conhecimentos sobre a biologia reprodutiva e evolutiva dos Poecilídeos para estudos futuros de biomonitoramento da poluição aquática por DE em mananciais no Cerrado.
METODOLOGIA:
Nesse estudo foram utilizados oito machos adultos do guaru P. reticulata (Cyprinodontiformes, Poeciliidae) (Peter, 1985) coletados no Parque Ipiranga (-16° 20’ 5.38” S; -48° 56’ 29.45” W) na cidade de Anápolis – GO, a 50 Km de Goiânia. Após a coleta, os animais foram transportados para o Laboratório de Comportamento Celular (LCC) da Universidade Federal de Goiás (UFG) e aclimatados por 20 dias em tanques de 250 litros de água doce. Durante a aclimatação, os parâmetros físico-químicos da água foram monitorados utilizando kit comercial (Testlab Marin JBL). A temperatura a 27ºC, pH em 6,8, oxigênio (O2) dissolvido a 8,0 ppm, amônia (NH3) a 0,002 ppm, Nitrito e Nitrato (NO2 e NO3) dissolvidos a 0,2 ppm e fotoperíodo de 12 horas mantiveram-se constantes. Para análise da histologia gonadal, os animais foram eutanizados por decapitação, os testículos foram dissecados e fixados por imersão em Bouin (solução saturada de ácido pícrico – 75 ml; formaldeído a 40% - 25 ml; ácido acético glacial – 5 ml) por 4 horas. Após fixação, o material biológico foi incluído em Paraplast (McCormick-USA) e submetido à microtomia na espessura de 5µm e as secções coradas com Hematoxilina e Eosina (HE). As imagens das gônadas foram obtidas no fotomicroscópio LEICA DMLB - USA, com auxílio do programa VidCap.
RESULTADOS:
O testículo do P. reticulata é um órgão bilobado localizado na região posterior do corpo, na cavidade ventral. A análise histológica indica que esse órgão é composto por dois compartimentos: o intertubular (CI) e o tubular (CT). O CI é composto de tecido conjuntivo, vasos sanguíneos e células de Leydig. O CT é delimitado por uma membrana basal e epitélio peritubular. Nesse epitélio encontram-se células de Sertoli e células germinativas. Os túbulos migram da periferia para o centro do testículo, onde se encontram em etapas diferentes da espermatogênese. Nos túbulos periféricos ao testículo, as células apresentam-se no período germinativo (espermatogônias) associadas às células de Sertoli. Na região mediana, onde ocorre o segundo estágio da espermatogênese, os túbulos possuem maior concentração celular encontrando-se no período de maturação (espermatócitos). Mais internamente, no terceiro estágio, os espermatócitos organizam-se em cistos dando origem as espermátides. Nesses túbulos também ocorrem a espermiogênese. No centro do testículo, no quarto estágio, os túbulos apresentam espermatozóides livres ou reunidos em espermatozeugmatas, conjunto de espermatozóides com as cabeças voltadas para o epitélio tubular e as caudas para o lúmen tubular.
CONCLUSÃO:
Os testículos apresentam citoarquitetura peculiar diferenciada de outros grupos de peixes com reprodução sincrônica e iteroparidade, que apresentam comportamento sexual sazonal e fecundação externa. Os túbulos seminíferos se encontram em diferentes estágios de desenvolvimento com produção contínua de espermatozóides, característica marcante de espécies com desova contínua. Nesse sentido, apesar dos animais serem pequenos, a fecundidade torna-se alta, pois a fecundação é interna e a reprodução ocorre em todo o ano, independente da estação (seca ou chuvosa). Devido às diferenças entre os túbulos seminíferos (TS), foi possível classificá-los em quatro estágios, e cada estágio está correlacionado a uma etapa da espermatogênese. Sugere-se que a organização em espermatozeugmata facilite a transferência dos espermatozóides até o poro genital das fêmeas por meio do gonopódio, uma vez que o meio aquático poderia dispersar os gametas masculinos, diminuindo assim a eficiência da fecundação dos Poecilídeos. Além disso, o presente estudo contribuirá com conhecimentos da histologia gonadal normal do guaru para futuras análises eco e toxicológicas dos DEs sobre as espécies de teleósteos com fecundação interna.
Palavras-chave: Gônadas, Guaru, Histologia.